Neste terceiro Domingo da Páscoa, o Evangelho narra o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús (cfr. Lc 24, 13-35). Trata-se de dois discípulos que, resignados perante a morte do Mestre, no dia de Páscoa decidem abandonar Jerusalém e voltar para casa… Enquanto caminham, (Jesus) ajuda-os a reler os acontecimentos de modo diferente, à luz das profecias, da Palavra de Deus, de tudo o que fora anunciado ao povo de Israel. Reler: isto é o que Jesus faz com eles, ajuda-os a reler.
De facto, também para nós é importante reler a nossa história juntamente com Jesus: a história da nossa vida, de um certo período, dos nossos dias, com as desilusões e as esperanças. Então também nós, como os discípulos de Emaús, somos chamados a estar com Ele para que, quando a noite chegar, Ele permaneça connosco (cf. v. 29).
Há um bom modo para realizar isto, que gostaria de vos propor hoje: consiste em dedicar algum tempo, em cada noite, para fazer um breve exame de consciência. O que aconteceu hoje dentro de mim? Esta é a pergunta. Trata-se de reler a jornada com Jesus: abrir-lhe o coração, entregar-lhe as pessoas, as decisões, os medos, as quedas, as esperanças, tudo o que aconteceu; para aprender gradualmente a ver as coisas com um olhar diferente e não somente com os nossos próprios olhos. Deste modo podemos reviver a experiência daqueles dois discípulos. Perante o amor de Cristo, mesmo o que nos parece cansativo e inútil, pode aparecer sob outra luz: uma cruz difícil de abraçar, a decisão de perdoar uma ofensa, uma vitória alcançada, o cansaço do trabalho, a sinceridade que custa, as provas da vida familiar… aparecer-nos-ão sob uma luz nova, a luz do Crucificado Ressuscitado, que sabe transformar cada queda num passo em frente. Mas para realizar isto é necessário deixar as defesas, dar tempo e espaço a Jesus, não esconder-lhe nada, entregar-lhe as misérias, deixar-se ferir pela sua verdade, permitir que o coração vibre com o alento da sua Palavra.
Papa Francisco, Regina Caeli, 23 de Abril, 2023