Na realidade, o Baptista, mais do que um homem duro, é um homem ”alérgico à duplicidade”. Por exemplo, quando fariseus e saduceus, conhecidos pela sua hipocrisia, se aproximam dele, a sua “reacção alérgica” é muito forte! Por isso João diz-lhes: «Produzi frutos dignos de arrependimento!». É um grito de amor, como o de um pai que vê o filho arruinado e lhe diz: “Não deites fora a tua vida!”. Com efeito, prezados irmãos e irmãs, a hipocrisia é o maior perigo, porque pode arruinar também as realidades mais sagradas. A hipocrisia é um grave perigo! É por isso que o Baptista – como depois também Jesus – é duro com os hipócritas.
João, com as suas “reacções alérgicas”, faz-nos reflectir. Não somos por vezes também um pouco como aqueles fariseus? O Advento é um tempo de graça para tirar as nossas máscaras – cada um de nós as tem – e pôr-se na fila com os humildes; para nos libertarmos da presunção de acreditarmos que somos auto-suficientes, para irmos confessar os nossos pecados, os escondidos, e receber o perdão de Deus, para pedirmos desculpa a quantos ofendemos. Começa assim uma nova vida. E o caminho é apenas um, o da humildade: purificar-nos do sentido de superioridade, do formalismo e da hipocrisia, para ver os outros como irmãos e irmãs, pecadores como nós, e ver em Jesus o Salvador que vem por nós – não pelos outros, por nós – como somos, com as nossas pobrezas, misérias e defeitos, sobretudo com a nossa necessidade de sermos levantados, perdoados e salvos.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 4 de Dezembro, 2022