Discernimento: por que estamos desolados?

Continuando com o tema do discernimento, deixai que vos fale hoje da desolação, daquele estado de espírito que traz consigo um pouco de insatisfação, uma tristeza salutar, uma sadia capacidade de estar na solidão, de estar connosco mesmos sem fugir. Pois a desolação sacode a alma, mantém-na desperta, favorece a vigilância, convida-nos à gratuidade, a não agir sempre e só para viver consolados. Dá-nos a possibilidade de crescer, iniciar uma relação mais madura e bela com o Senhor e com as pessoas queridas, uma relação que não fique reduzida à mera troca «dou-te para que me dês». Na infância, com frequência íamos procurar os pais para conseguir deles um brinquedo, um doce, uma coisa qualquer; isto é, íamos ter come eles por interesse nosso, e não por eles mesmos. E, no entanto, a prenda maior eram eles, os pais, mas isto só aos poucos é que o compreendemos, ou seja, à medida que fomos crescendo ou mesmo só quando nos faltaram. Passando agora à nossa relação com Deus, o Evangelho mostra-nos muitas vezes Jesus circundado de pessoas que O procuram para conseguirem curas, ajudas materiais, e não simplesmente pelo desejo de estarem com Ele; apesar de circundado pela multidão, estava só. Faz-nos muito bem estar com Jesus, sem outro desejo que não Ele mesmo, exatamente como procedemos com as pessoas que amamos: queremos conhecê-las cada vez melhor, porque é bom estar com elas. Este anseio, esta inquietação interior foi um impulso decisivo para a viragem nas vidas de muitos santos e santas, como Santo Agostinho, Edite Stein, José Cotolengo, Carlos de Foucauld… As decisões importantes têm um preço a pagar; mas um preço que está ao alcance de todos.

Papa Francisco, Resumo da Audiência Geral, 16 de Novembro, 2022

Catequese completa:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20221116-udienza-generale.html