O Evangelho da liturgia de hoje apresenta-nos uma parábola que tem dois protagonistas, um fariseu e um publicano (cf. Lc 18,9-14). Ambos sobem ao templo para orar, mas somente o publicano se eleva verdadeiramente para Deus, porque desce humildemente à verdade de si mesmo e apresenta-se tal como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Podemos dizer, então, que a parábola encontra-se entre dois movimentos, expressos pelos verbos: subir e baixar.
O primeiro movimento é “subir”. O texto começa por dizer: “Dois homens subiram ao templo para orar” (v. 10). Subir, portanto, expressa a necessidade do coração de desprender-se de uma vida superficial para se encontrar com o Senhor; de levantar-se das planícies do nosso ego para ascender até Deus – desfazer-se do próprio eu -; de recolher o que vivemos no vale para levá-lo ao Senhor. Isto é “subir”, e quando rezamos subimos.
Mas para viver o encontro com Ele e ser transformados pela oração, para elevar-nos até Deus, necessitamos do segundo movimento: “baixar”. Porquê? Que significa isto? Para subir até Ele devemos descer dentro de nós mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade do coração, que nos permitem ver com honestidade as nossas fragilidades e as nossas pobrezas interiores. Com efeito, na humildade tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que realmente somos, as limitações e as feridas, os pecados e as misérias que pesam no nosso coração, e de invocar a sua misericórdia para que nos cure e nos levante. Será Ele quem nos levanta, e não nós. Quanto mais nos abaixamos na humildade, mais Deus nos eleva.
Papa Francisco, Angelus, 23 de Outubro, 2022