Tito uniu-se a todos os que no Carmelo professaram uma íntima devoção à cruz (São João da Cruz, Santa Maria Madalena de Pazzi, Santa Teresa Benedita da Cruz, Beato Ângelo Paoli…). O místico descobre que se há algo que caracteriza o ser humano é a vulnerabilidade, quer dizer, a capacidade de ser ferido pelos outros. No sofrimento podemos dar-nos conta de quanto amamos e também de quanto somos amados. Tito foi um apaixonado de Deus e da humanidade. De facto, tal como Jesus, ele próprio foi trespassado (cf. Jo 19, 34), e o mistério da cruz prolongou-se na sua vida, sendo vítima da violência, do mal e da injustiça. Já antes o tinha ensinado nas aulas universitárias: “Há muita gente que sonha com uma mística adocicada, sem se dar conta que Deus, que procura a nossa união, empreendeu um caminho que incluía a morte na cruz”. “A ajuda de Deus é necessária – diria noutra ocasião – pois diante do sofrimento não somos mais do que pobres homens”. Às vezes questiona-se: “Pergunto-me se não serão necessários na nossa época homens e mulheres que aceitem tomar sobre os seus ombros o sofrimento do mundo”.
Chama a atenção a sua particular devoção à contemplação da Paixão de Cristo. A cruz coloca em evidência, por um lado, a fragilidade humana, a existência do mal, a dor, e, por outro, a força e a capacidade de amar, como reflexo do imenso amor de Deus pelo homem. Amor e dor vão sempre juntos. Que significa carregar a cruz? Não se trata de ser masoquistas e comprovar até aonde conseguimos aguentar o sofrimento. Na cruz vemos a nossa capacidade de amar gratuita e incondicionalmente e até aonde estamos dispostos a compartilhar, acompanhar e consolar o nosso próximo.
Fr. Míċeál O’Neill, Excerto resumido da Carta “A cruz é a minha alegria”