Podemos interrogar-nos: «O que é que nos une, em que se baseia a nossa unidade?» Também entre nós existem diversidades, por exemplo de opinião, preferência, sensibilidade. A tentação, porém, é defender sempre de espada desembainhada as nossas ideias, considerando-as boas para todos e pactuando apenas com quem pensa como nós. E esta é uma tentação ruim, que divide. Mas, esta é uma fé à nossa imagem, não é aquilo que deseja o Espírito. Nesse caso, poder-se-ia pensar que aquilo que nos une fossem as próprias coisas em que acreditamos e os próprios comportamentos que adotamos. Mas não! Há muito mais: o nosso princípio de unidade é o Espírito Santo. E a primeira coisa que Ele nos lembra é que somos filhos amados de Deus; nisto, todos iguais e, todavia, somos todos diferentes. O Espírito vem a nós, com todas as nossas diversidades e misérias, para nos dizer que temos um só e mesmo Senhor, Jesus, um só e mesmo Pai; por isso, somos irmãos e irmãs. Partamos daqui! Olhemos a Igreja como faz o Espírito, não como faz o mundo. O mundo vê-nos de direita e de esquerda, com esta ideologia, com aquela; o Espírito vê-nos do Pai e de Jesus. O mundo vê conservadores e progressistas; o Espírito vê filhos de Deus. O olhar do mundo vê estruturas, que se devem tornar mais eficientes; o olhar espiritual vê irmãos e irmãs implorando misericórdia. O Espírito ama-nos e conhece o lugar de cada um no todo: para Ele não somos papelinhos coloridos levados pelo vento, mas ladrilhos insubstituíveis do seu mosaico.
Papa Francisco, Homilia, 31 de Maio, 2020