Ser sacerdote é uma graça muito grande

Ser sacerdote é uma graça, uma graça muito grande, que todavia não se destina ao próprio sacerdote, mas aos fiéis. E é do Senhor que receberá a recompensa, isto é, o seu Amor e o perdão incondicional dos pecados. Não há recompensa maior do que a amizade com Jesus. Não há paz maior do que o seu perdão. Não há preço mais elevado do que o seu precioso Sangue: não permitamos que seja aviltado com uma conduta indigna.

No fim do dia é bom olhar para o Senhor e deixar que Ele contemple o nosso próprio coração não para contabilizar os pecados, mas numa atitude de contemplação e agradecimento. E não só, mas também identificar e rejeitar as tentações. Deixar que o Senhor veja os nossos ídolos escondidos, torna-nos fortes face a eles e tira-lhes o poder.

Há três espaços de idolatria nos quais o Maligno se serve para enfraquecer a vocação sacerdotal.

O primeiro deles é a mundanidade espiritual, que é uma proposta de vida, uma cultura do efémero, da aparência, da maquilhagem. O seu critério é o triunfalismo sem Cruz. É a mundanidade de andar à procura da própria glória, que rouba a presença de Jesus humilde e humilhado. Um sacerdote mundano não passa de um pagão clericalizado.

Outro espaço de idolatria é a primazia ao pragmatismo dos números. Quem possui este ídolo é reconhecido pelo seu amor às estatísticas. Mas as pessoas não se podem reduzir a números. Substituir o Espírito Santo é aquilo que visa o ídolo dos números, que faz com que tudo «apareça», mas de modo abstrato e contabilizado.

O terceiro espaço de idolatria é o funcionalismo. A mentalidade funcionalista não tolera o mistério, aposta na eficácia. Pouco a pouco, este ídolo vai substituindo em nós a presença do Pai. O funcionalista não sabe alegrar-se com as graças do Espírito e compraz-se com a eficácia dos programas.

Contra todas estas idolatrias, Jesus é o antídoto. Jesus é o único caminho para não nos enganarmos no conhecimento do que sentimos e para onde nos leva o nosso coração; é o único caminho para um bom discernimento.

Papa Francisco, Resumo da Homilia da Missa Crismal, 14 de Abril, 2022