Deus não nos trata segundo os nossos pecados (Sl 103, 10)

O Evangelho do 3º Domingo da Quaresma apresenta-nos Jesus a comentar dois acontecimentos: o desabamento de uma torre que matou dezoito pessoas e a morte de alguns galileus que Pilatos mandara matar. Eram estas pessoas culpadas diante de Deus e Deus castigou-as? É ele que nos envia uma guerra ou uma pandemia para nos castigar pelos nossos pecados? E por que o Senhor não intervém?

Devemos estar atentos: quando o mal nos oprime, corremos o risco de perder a lucidez e, a fim de encontrar uma resposta fácil para o que não podemos explicar, acabamos por dar a culpa a Deus. E muitas vezes o terrível e mau hábito da blasfémia vem daqui. Quantas vezes atribuímos a Ele as nossas desgraças, as desventuras do mundo Àquele que, ao contrário, nos deixa sempre livres e por isso nunca intervém impondo-se, apenas propondo; Àquele que nunca usa a violência e, aliás, sofre por nós e connosco! Na realidade, Jesus recusa e desafia fortemente a ideia de imputar os nossos males a Deus: as pessoas assassinadas por Pilatos e aquelas que morreram debaixo da torre não eram mais culpadas do que outras e não são vítimas de um Deus impiedoso e vingativo, que não existe! O mal nunca pode vir de Deus porque ele «não nos trata segundo os nossos pecados» (Sl 103, 10), mas segundo a sua misericórdia. Esse é o estilo de Deus. Ele não pode tratar-nos de outra forma. Trata-nos sempre com misericórdia.

Mas em vez de dar a culpa a Deus, Jesus faz um apelo à CONVERSÃO porque é o pecado que produz a morte; é o nosso egoísmo que dilacera as relações; são as nossas escolhas erradas e violentas que desencadeiam o mal. Onde reina o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder!

Contudo, Jesus sabe que a conversão não é fácil, que muitas vezes voltamos a cair nos mesmos erros e pecados, que desanimamos e talvez nos pareça que o nosso compromisso com o bem é inútil num mundo onde o mal parece reinar. Jesus encoraja-nos contando a parábola da figueira que não dá fruto no tempo próprio mas não é cortada: é-lhe dada outra possibilidade de vir a dar fruto. Esta parábola fala-nos da paciência de Deus para connosco. Deus confia em nós e acompanha-nos com paciência. Deus é Pai e olha para nós como um pai: como o melhor dos pais. Ele não vê os resultados que ainda não conseguimos, mas os frutos que ainda podemos dar; ele não conta os nossos fracassos, mas encoraja as nossas possibilidades; não se detém no nosso passado, mas aposta confiante no nosso futuro.

Papa Francisco, Angelus (resumo), 20 de Março, 2022