“Oferecer a outra face”

Durante a sua paixão, no seu injusto julgamento perante o sumo sacerdote, a um certo ponto (Jesus) recebe uma bofetada de um dos guardas. E como se comporta Ele? Não o insulta, não, diz ao guarda: «Se falei mal, prova-o. Mas se falei bem, por que me bates?» (Jo 18, 23). Pergunta o motivo sobre o mal recebido. Oferecer a outra face não significa sofrer em silêncio, ceder à injustiça. Com a sua pergunta Jesus denuncia o que é injusto. Fá-lo sem raiva nem violência, mas com gentileza. Ele não quer desencadear uma discussão, mas desanuviar o rancor, isto é importante: extinguir o ódio e ao mesmo tempo a injustiça, procurando recuperar o irmão culpado. Isto não é fácil, mas Jesus fê-lo e diz-nos para o fazer também nós. Isto significa oferecer a outra face: a mansidão de Jesus é uma resposta mais forte do que a bofetada que recebeu. Oferecer a outra face não é o recuo do perdedor, mas a acção de quem tem mais força interior. Oferecer a outra face é vencer o mal com o bem, abrindo uma brecha no coração do inimigo, desmascarando o absurdo do seu ódio. E esta atitude, oferecer a outra face, não é ditada pelo cálculo nem pelo ódio, mas pelo amor. Estimados irmãos e irmãs, é o amor gratuito e imerecido que recebemos de Jesus, que gera no coração um modo de agir semelhante ao seu, que rejeita qualquer vingança. Estamos habituados às vinganças: “Fizeste-me isto, far-te-ei aquilo”, ou a guardar ressentimentos no coração, um rancor que fere e destrói a pessoa.

Papa Francisco, Angelus, 20 de Fevereiro, 2022