No Evangelho deste Domingo, Jesus anuncia pela segunda vez aos discípulos a sua paixão, morte e ressurreição (cf. Mc 9, 30-31). O evangelista Marcos põe em evidência o forte contraste entre a sua mentalidade e a dos doze Apóstolos, que não só não compreendem as palavras do Mestre e rejeitam categoricamente a ideia de que Ele vá ao encontro da morte (cf. Mc 8, 32), mas discutem entre si sobre quem deve ser considerado “o maior” (cf. Mc 9, 34). Jesus explica-lhes com paciência a sua lógica, a lógica do amor que se faz serviço até à entrega de si mesmo: “Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos” (Mc 9, 35).
Esta é a lógica do Cristianismo, que corresponde à verdade do homem criado à imagem de Deus, mas ao mesmo tempo contrasta com o seu egoísmo, consequência do pecado original. Cada pessoa humana é atraída pelo amor que afinal é o próprio Deus mas muitas vezes erra nos modos concretos de amar, e assim de uma tendência originalmente positiva mas maculada pelo pecado, podem derivar intenções e acções más. É o que nos recorda, na liturgia hodierna, também a Carta de São Tiago: “Onde há inveja e espírito faccioso também há perturbação e todo o género de obras más. Mas a sabedoria que vem do alto é, em primeiro lugar, pura; depois, é pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia”. E o Apóstolo conclui: “É com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz” (3, 16-18).
Estas palavras fazem pensar no testemunho de muitos cristãos que, com humildade e no silêncio, consomem a própria vida ao serviço dos outros, pela causa do Senhor Jesus, trabalhando concretamente como servos do amor e, por isso, “artífices” da paz. (…)
Não há dúvida de que seguir Cristo é difícil, mas como Ele mesmo diz, somente quem perde a sua vida por causa dele e do Evangelho salvá-la-á (cf. Mc 8, 35), dando pleno sentido à sua própria existência. Não existe outro caminho para ser seus discípulos, não há outro caminho para dar testemunho do seu amor e tender para outra perfeição evangélica. (Bento XVI, Angelus, 24 de Setembro de 2006).
Palavra para o caminho
Nós, que somos pequeninos, aspiramos a parecer grandes, a ser os primeiros; enquanto Deus, que é realmente grande, não tem medo de se humilhar e de se fazer último.(Bento XVI, Angelus, 23 de Setembro, 2012).