O texto evangélico do 24º Domingo do Tempo Comum – Ano B, descreve a cegueira de Pedro que não entende a proposta de Jesus quando fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como Messias, mas não como Messias sofredor. Ele está influenciado pela propaganda e mentalidade da época que só falava do Messias como rei glorioso. Pedro parecia cego: não via nem compreendia nada e ainda queria que Jesus fosse como ele queria. Mas a cegueira estendia-se também aos outros discípulos. Jesus teve que fazer uma longa explicação a respeito do significado da cruz para ajudá-los a ver, pois era a cruz que estava a provocar neles a cegueira. Os judeus achavam que um crucificado não podia ser o Messias tão esperado pelo povo, pois a lei afirmava que todo crucificado devia ser considerado um maldito de Deus (Dt 21,22-23).
Jesus perguntou: ”Quem dizem os homens que Eu sou?”. Eles responderam expressando as opiniões do povo: ”João Baptista, Elias ou um dos profetas”. Depois Jesus faz outra pergunta: ”E vós, quem dizem que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Messias”. Isto é, és aquele que o povo espera. Jesus concordou com Pedro, mas proibiu os discípulos de falar sobre isso ao povo. Porquê? Naquele tempo, todos esperavam a vinda do Messias, mas cada um ao seu modo: uns como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz ou profeta. Parecia que ninguém estava à espera do Messias Servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9).
Jesus começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça. Pedro fica desorientado com a resposta dada pelo Mestre e repreende-o. Jesus responde-lhe: ”Vai para trás de mim, Satanás, porque não entendes as coisas de Deus, mas só dos homens”. Pedro pensava ter dado a resposta certa. De facto, ele disse a palavra certa ”Tu és o Cristo”, mas não lhe deu o sentido certo. Pedro não entendeu Jesus. A resposta de Jesus foi duríssima: ”Vai para trás de mim, Satanás”. Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador, adversário, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não permite que alguém o afaste da sua missão.
Jesus tira as conclusões que valem ainda para os nossos dias: “Se alguém quer seguir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Naquele tempo, a cruz era a pena de morte que o Império romano impunha aos marginais e rebeldes contra a opressão dos romanos. Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. A cruz não é fatalismo, nem é exigência do Pai. A cruz é a consequência do compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que, portanto, todas as pessoas devem ser aceites e tratadas como irmãos e irmãs. Por causa deste anúncio revolucionário, ele foi perseguido e não teve medo de dar a sua vida. Prova de amor maior não há do que dar a vida pelo irmão.
Palavra para o caminho
Cristo, (…) é como uma abundante mina com muitas cavidades cheias de riquezas, e por mais que se cave, nunca se lhes encontra fim nem termo; pelo contrário, aqui e além, vão encontrando em cada cavidade novos veios de novas riquezas. (São João da Cruz).