Jesus resumiu os seus mandamentos num só, este: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (v. 12). Amar como Jesus ama significa pôr-se ao serviço, ao serviço dos irmãos, tal como Ele o fez ao lavar os pés dos discípulos. Significa também sair de si mesmo, desapegar-se das próprias seguranças humanas, das comodidades mundanas, para se abrir aos outros, especialmente aos mais necessitados. Significa pôr-se à disposição, com o que somos e o que temos. Isto significa amar não com palavras, mas com gestos.
Amar como Cristo significa dizer não a outros “amores” que o mundo nos propõe: amor ao dinheiro – quem ama o dinheiro não ama como Jesus ama – amor ao sucesso, à vaidade, ao poder… Estas formas enganadoras de “amor” afastam-nos do amor do Senhor e levam-nos a tornar-nos cada vez mais egoístas, narcisistas, prepotentes. E a prepotência leva a uma degeneração do amor, a abusar dos outros, a fazer sofrer a pessoa amada. Penso no amor doentio que se transforma em violência – e quantas mulheres são hoje vítimas de violências. Isto não é amor. Amar como o Senhor nos ama significa apreciar a pessoa ao nosso lado, e respeitar a sua liberdade, amá-la como é, não como queremos que seja; como é, gratuitamente. Em última análise, Jesus pede-nos que permaneçamos no seu amor, que habitemos no seu amor, não nas nossas ideias, não no culto de nós mesmos. Quem habita no culto de si mesmo, habita no espelho: sempre a olhar para si. Ele pede-nos para sairmos da pretensão de controlar e gerir os outros. Não controlar, servi-los. Abrir o coração aos outros, isto é amor, e entregar-nos aos outros.
Papa Francisco, Regina Caeli (excerto), 9 de Maio, 2021