Neste terceiro Domingo de Páscoa, voltamos a Jerusalém, ao Cenáculo, como que guiados pelos dois discípulos de Emaús, que tinham ouvido com grande emoção as palavras de Jesus ao longo do caminho e depois o reconheceram «ao partir o pão». Agora, no Cenáculo, Cristo ressuscitado apresenta-se no meio do grupo de discípulos, saudando-os: «A paz esteja convosco!». Mas eles, assustados e perturbados, pensaram que «viam um espírito», assim diz o Evangelho. Então Jesus mostra-lhes as feridas do seu corpo e diz: «Vede as minhas mãos e os meus pés – as chagas – sou eu mesmo; tocai-Me e vede» . E para os convencer, pede comida e come-a sob os seus olhares atónitos. Esta página do Evangelho é caraterizada por três verbos muito concretos, que num certo sentido reflectem a nossa vida pessoal e comunitária: ver, tocar e comer. Três acções que podem proporcionar a alegria de um verdadeiro encontro com Jesus vivo. (…)
Ao convidar os discípulos a tocá-lo, para que que vejam que ele não é um fantasma – tocai-me! -, Jesus indica-lhes e a nós também que a relação com ele e com os nossos irmãos não pode ser “à distância”, não existe um cristianismo à distância, não existe um cristianismo somente ao nível do ver. O amor pede que se veja mas pede também proximidade, pede contacto, pede partilha de vida. O Bom Samaritano não se limitou a olhar para o homem que encontrou meio morto no caminho: parou, abaixou-se, tratou-lhe as feridas, tocou-o, carregou-o na sua montada e levou-o para a estalagem. E o mesmo acontece quanto a Jesus: amá-lo significa entrar em comunhão de vida, comunhão com ele. (…).
Ser cristão não é antes de tudo uma doutrina ou um ideal moral, é uma relação viva com ele, com o Senhor Ressuscitado: olhámo-lo, tocámo-lo, alimentamo-nos dele e, transformados pelo seu amor, olhamos, tocamos e alimentamos os outros como irmãos e irmãs.
Papa Francisco, Regina Caeli (excerto), 18 de Abril, 2021