As sete palavras de Jesus na cruz – 6

6. Tenho sede (Jo 19,28)

Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se tinha cumprido, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: Tenho sede!

João tem uma leitura semelhante, mas mais desenvolvida, que revela o sentido da morte de Jesus para o futuro da Igreja e da humanidade. Ele refere um grito de Jesus agonizante: sabendo que tudo se tinha cumprido, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: Tenho sede! É um grito que reassume toda a vida de Jesus no cumprimento da vontade do Pai. A sua vida foi isso mesmo: realizar o projeto do Pai de dar a vida em plenitude ao mundo. Mas parece que falta algo a cumprir, pois diz-se: para se cumprir totalmente a Escritura, disse: Tenho sede!

O grito de sede não denta apenas a fisiológica de um condenado desidratado, embora isso seja mais do que natural. Essa sede tem outro significado e é muito importante.  O tema da sede e da água, estava prometido desde o início do evangelho de S. João, desde as bodas de Caná, onde Jesus tinha transformado a água em vinho e tinha prometido que havia de chegar a hora de saciar, com o vinho da alegria este casamento onde faltava o vinho do amor (cf. Jo 2,1-12). À Samaritana, Ele tinha anunciado uma água que sacia a sede de felicidade e de vida (Jo 4,14); em Jerusalém, tinha prometido que “se alguém tem sede, venha a mim e beba aquele que crê em mim. Como diz a Escritura, das suas entranhas hão- de correr rios de água viva». Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que nele acreditassem. Com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado”.

Agora é a hora da glorificação de Jesus e a hora de dar essa água que jorra até à vida eterna. Jesus tem sede dessa água da vida que é o Espírito, que se recebe no Batismo. Sem o Espírito de Deus nós continuaríamos a ser apenas seres humanos destinados à morte e limitados na nossa maneira de pensar e de agir. É desse Espírito que Jesus tem sede e anuncia a sua manifestação, a partir da sua humanidade glorificada no seu regresso ao Pai. Ele tinha dito que era necessário que fosse para o Pai, para enviar o Espírito (cf. Jo 15,5-7). Quando isso acontecer, Ele já não poderá mais falar com a língua dos homens; estará já junto do Pai, de onde enviará o Espírito.

Por isso, o grito de sede de Jesus liga-se, por assim dizer, com a primeira palavra na cruz: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Essa exclamação e pedido de sentido e socorro recebe agora uma resposta: Só o Espírito de Jesus morto e ressuscitado pode saciar verdadeiramente o ser humano na sua demanda de felicidade e vida. Sem o dom do Espírito, a sua missão não estaria terminada. Por isso, faltava de facto uma profecia para cumprir. Agora sim, depois de ter anunciado o dom do Espírito, Jesus pode dizer que a sua missão como homem, nesta terra está plenamente cumprida e exclamou: Tudo está consumado (Jo 19, 29-35).