Não façais da casa de meu Pai casa de comércio
A expulsão dos vendilhões do Templo, que nos evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas ocorre no Domingo de Ramos, no evangelho de João vem no princípio, onde Jesus e a sua missão são apresentados.
Estamos perto da Páscoa. Por ocasião desta festa, Jerusalém, que tinha cerca de 55.000 habitantes, chegava a albergar 125.000 peregrinos, sacrificando-se no Templo uns 18.000 cordeiros pascais. Era nesta ocasião que o comércio relacionado com o Templo atingia o seu ápice. Três semanas antes da festa, começava a emissão de licenças para a instalação dos postos comerciais à volta do Templo, onde se vendiam os animais e outras coisas necessárias para os sacrifícios, e as mesas dos cambistas, onde se trocavam por moedas judaicas as moedas romanas, que, por terem a efígie do imperador, designado “divino”, não podiam circular no Templo. Todo este comércio era controlado por Anás, que conseguiu habilmente que todo o dinheiro arrecadado no Templo revertesse para a sua família e funcionários. Entretanto, a avidez de lucro levara-o a ocupar também o “Átrio dos gentios”, a zona do Templo destinada aos não judeus, transformando-a num “covil de ladrões” (Jr 7,11).
Ao ver o que passava diante dos seus olhos no Templo de Jerusalém, Jesus “Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do Templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e virou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai estas coisas daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio» ”.
Ao expulsar também do Templo as ovelhas, bois e pombas que serviam para os sacrifícios, Jesus não só propõe a reforma do culto, mas também a abolição dos sacrifícios, incapazes de renovar o homem. Desta forma, Jesus reivindica ser mais do que um profeta: ele é o próprio Filho de Deus que age em nome do Pai, defendendo os interesses do Pai sobre a terra. Por isso diz: “Não façais da casa de meu Pai casa de comércio”.
Com este gesto, Jesus entra em rota de colisão com a aristocracia sacerdotal de Jerusalém, os sumos-sacerdotes, do partido dos saduceus, precipitando a decisão da sua morte. Pedem a Jesus um “sinal” que demonstre que ele é o Messias. Jesus responde: “destruí este Templo e em três dias eu o levantarei”. Jesus desafia os líderes que o questionaram a suprimir o Templo que é ele próprio, mas deixa claro que, três dias depois, esse Templo estará outra vez erigido no meio dos homens. Jesus alude, evidentemente, à sua ressurreição, garantia de que Jesus vem de Deus.
Jesus é o «lugar» da adoração de Deus, a verdadeira «Casa de Deus», o Santuário de Deus. A presença de Jesus Ressuscitado no meio de nós é o nosso verdadeiro «Templo».
Palavra para o caminho
“Mas – perguntemo-nos, e cada um de nós se pode questionar: o Senhor sente-se deveras em casa na nossa vida? Permitimos que ele faça «limpeza» no nosso coração e afaste os ídolos, ou seja, aquelas atitudes de cupidez, ciúmes, mundanidade, inveja, ódio, aquele hábito de falar mal dos outros pelas «costas»? Permitimos-lhe que limpe todos os comportamentos contra Deus, contra o próximo e contra nós mesmos, como ouvimos hoje na primeira Leitura? Cada um pode responder a si mesmo, em silêncio, no seu coração” (Papa Francisco).