“Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o”
O Evangelho do 2º Domingo da Quaresma relata a Transfiguração de Jesus. Este acontecimento relaciona-se com o que sucedeu seis seis dias antes, quando Jesus tinha revelado aos seus discípulos que em Jerusalém deveria sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, após três dias, ressuscitar.
O anúncio da paixão submergiu os discípulos numa crise profunda. Nas suas cabeças tudo era confusão porque o que era ensinado era que o Messias seria glorioso e vitorioso. É por causa disto que Pedro reage com muita força contra a cruz. Um condenado à morte de cruz não podia ser o Messias, mas pelo contrário, segundo a Lei de Deus, devia ser considerado como um “maldito de Deus” (Dt 21, 22-23). Perante isto, a experiência da Transfiguração de Jesus podia ajudar os discípulos a superar o escândalo da cruz.
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte elevado e foi transfigurado por Deus diante deles. Trata-se literalmente de uma “metamorfose”, uma transformação da forma exterior que manifesta a glória divina de Jesus, o que ele é interiormente. Nada se refere do aspecto de Jesus, impossível de descrever; diz-se apenas que a luz que dele irradia transforma o aspecto das suas vestes numa brancura sobrenatural.
Na Transfiguração, Jesus aparece na glória, e fala com Moisés e Elias que representam a Lei e os Profetas: “O Novo [Testamento] está escondido no Antigo e o Antigo revela-se no Novo” (Santo Agostinho). O evangelista ao referir as duas personagens quer realçar que Jesus está em continuidade com as Escrituras, isto é, o caminho que Jesus segue está de acordo com a vontade de Deus. Como Moisés e Elias foram rejeitados e perseguidos no seu tempo, também Jesus o será. O caminho da glória passa pela cruz.
“E eis que uma nuvem os cobriu com a sua sombra. E da nuvem veio uma voz: Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o”. O Pai oferece em Jesus, seu Filho, a sua mais completa e definitiva revelação aos homens. Nele diz tudo e já não tem mais nada a dizer. Para nós o importante é escutar Jesus, o Filho amado, e viver uma relação consciente e cada vez mais comprometida com ele e com os outros, para sermos transformados pela acção do Espírito Santo que nos torna cada vez mais semelhantes a Jesus.
Na caminhada para a Páscoa somos também convidados a subir com Jesus ao cimo da montanha e viver a alegria da comunhão com ele. Nas dificuldades e conflitos da caminhada o Pai mostra-nos desde já sinais da ressurreição e continua a dizer-nos: “Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o”. Contudo, não subimos para ficar para sempre no cimo da montanha, mas temos de descer para sermos missionários da transfiguração.
Oração
Deus de infinita bondade, que nos mandais ouvir o vosso amado Filho, fortalecei-nos com o alimento interior da vossa Palavra, de modo que, purificado o nosso olhar espiritual, possamos alegrar-nos um dia na visão da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amen.