O segundo lugar onde se concretiza a paciência: a vida comunitária. As relações humanas, especialmente quando se trata de partilhar um projecto de vida e uma actividade apostólica, todos sabemos que nem sempre são pacíficas. Às vezes surgem conflitos e não se pode exigir uma solução imediata, nem se deve julgar precipitadamente a pessoa ou a situação: é preciso saber dar tempo ao tempo, procurar não perder a paz, esperar o momento melhor para uma clarificação na caridade e na verdade. Não se deixar confundir pelas tempestades. Na leitura do breviário para amanhã, há uma passagem interessante de Diádoco de Foticeia, sobre o discernimento espiritual, que diz «quando o mar está agitado não se veem os peixes; mas podem-se ver quando o mar está calmo». Nunca poderemos fazer um bom discernimento, ver a verdade, se o nosso coração estiver agitado e impaciente. Nunca. Nas nossas comunidades, requer-se esta paciência mútua: suportar, isto é, carregar aos próprios ombros a vida do irmão ou da irmã, incluindo as suas fraquezas e defeitos. Todos. Lembremo-nos disto: o Senhor não nos chama para ser solistas – sabemos que existem tantos na Igreja – não, não nos chama para ser solistas, mas para fazer parte dum coro, que às vezes desafina, mas sempre deve tentar cantar em conjunto.
Papa Francisco, Homilia da Missa para os Consagrados, 2 de Fevereiro, 2021