4º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Que é isto? (Mc 1, 27)

O acontecimento relatado no texto de hoje, 4º Domingo do Tempo Comum – Ano B, apresenta um dos temas básicos do Evangelho de Marcos e de todos os Evangelhos: o confronto entre o Reino de Deus, concretizado na pessoa e projecto de Jesus, e o mal, expresso na imagem de um homem doente “possuído por um espírito impuro”. São Marcos apresenta no seu Evangelho a caminhada de Jesus, sempre com esta luta como pano de fundo, até ao conflito final no Calvário, que leva, através da Cruz, à vitória definitiva, na Ressurreição.

Marcos diz que Jesus ensinava, mas, como é costume deste evangelista, não nos diz o que ensinava. No evangelho de hoje ilustra o conteúdo do ensinamento de Jesus relatando uma acção realizada por ele: a cura de um homem “possesso”, ou seja, a libertação de alguém do domínio do mal. O evangelista mostra-nos que com a chegada do Evangelho do Reino acontece a libertação verdadeira, onde o mal, o pecado, com todas as suas expressões, está derrotado pelo bem.

No relato de hoje, os dois poderes estão diante um do outro. O mal, falando através do homem, reclama contra a chegada do bem: “Que há entre nós e Ti, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder?” O mal, mesmo quando disfarçado, nunca aceita a chegada de um projecto alternativo. Isto acontece ainda hoje. Enquanto as instituições eclesiais ou não, se limitam a acções paliativas e assistenciais (sem negar o seu valor e urgência) diante do sofrimento das pessoas, ninguém reclama, mas quando se põe a claro e se expressa as verdadeiras raízes do sofrimento aparece a perseguição: “Quando eu fazia campanhas em prol dos pobres, me diziam «o senhor é um santo», mas quando comecei a perguntar por que existiam tantos pobres, disseram-me «o senhor é um comunista!»” (D. Hélder Câmara).

O Evangelho deste 4º Domingo do Tempo Comum diz-nos que com a chegada de Jesus (e também pela acção das comunidades cristãs e dos cristãos) algo de novo acontece. Marcos sublinha isto pela reacção do povo: “Que é isto? Um novo ensino com autoridade”. A diferença do ensinamento de Jesus não estava tanto no seu conteúdo, que estava profundamente enraizado no Antigo Testamento, mas na sua maneira de ensinar. Ele não dependia da citação de autoridades, como faziam os escribas, mas falava a partir da sua própria experiência de Deus, do Deus da vida. Jesus libertou os seus ouvintes da dependência dos escribas, dando-lhe verdadeira autonomia, ao revelar o verdadeiro rosto de Deus Pai. Deus quer que toda a força que aliena, domina e oprime (aqui representada pela força demoníaca) seja derrotada pela mensagem libertadora do Evangelho.

Cabe a nós, discípulos de Jesus, realizar este projecto, não correndo atrás do miraculismo, dos falsos messianismos, e das teologias interesseiras e enganadoras, porque falsas.