João Baptista veio para dar testemunho da luz (Jo 1, 7)
É curioso como o 4º Evangelho apresenta a figura de João Baptista. É um «homem», sem qualificativos ou precisões. Nada é dito sobre a sua origem ou condição social. Ele próprio sabe que não é importante. Não é o Messias, não é Elias, nem sequer é o Profeta que todos esperam. Só se vê a si mesmo como «a voz que grita no deserto: Preparai o caminho do Senhor». No entanto, Deus envia-O como «testemunha da luz», capaz de despertar a fé de todos. Uma pessoa que pode espalhar luz e vida. Que é ser testemunha da luz?
A testemunha é como João. Não dá importância a si mesmo. Não procura ser original ou chamar a atenção. Não tenta impressionar ninguém. Simplesmente vive a sua vida de uma forma convincente. Vê-se que Deus ilumina a sua vida. Irradia esse mesmo Deus no seu modo de viver e acreditar.
A testemunha da luz não fala muito, mas é uma voz. Vive algo inconfundível. Comunica o que a faz viver. Não diz coisas sobre Deus, mas contagia «algo». Não ensina doutrina religiosa, mas convida a acreditar. A vida da testemunha atrai e desperta interesse. Não culpabiliza ninguém. Não condena. Contagia confiança em Deus, liberta de medos. Abre sempre caminhos. É como João Baptista, «abre o caminho para o Senhor».
A testemunha sente-se débil e limitada. Muitas vezes comprova que a sua fé não encontra apoio nem eco social. Inclusive vê-se rodeado de indiferença ou rejeição. Mas a testemunha de Deus não julga ninguém. Não vê os outros como adversários que tem de combater ou convencer: Deus sabe como encontrar-se com cada um dos seus filhos e filhas.
Diz-se que o mundo actual está a converter-se num «deserto», mas a testemunha revela que sabe algo sobre Deus e o amor, sabe algo sobre a «fonte» e de como se acalma a sede de felicidade que há no ser humano. A vida está cheia de pequenas testemunhas. São crentes simples e humildes, conhecidos apenas por aqueles à sua volta. Pessoas muito boas. Vivem da verdade e do amor. Eles “abrem-nos o caminho” para Deus. São o melhor que temos na Igreja (José Antonio Pagola)
Palavra para o caminho
João retirou-se para o deserto, despojando-se de tudo o que era supérfluo, para ser mais livre e seguir o vento do Espírito Santo. Certamente, alguns traços da sua personalidade são únicos, irrepetíveis, não são possíveis a todos. Mas o seu testemunho é paradigmático para qualquer pessoa que queira procurar o sentido da vida e encontrar a verdadeira alegria. Em particular, o Baptista é modelo para quantos na Igreja são chamados a proclamar Cristo aos outros: só o podem fazer se se afastarem de si mesmos e da mundanidade, não atraindo as pessoas para si, mas orientando-as para Jesus. A alegria é isto: orientar para Jesus. E a alegria deve ser a característica da nossa fé (Papa Francisco, Angelus, 13 de Dezembro, 2020).