O início do Tempo do Advento inaugura um novo ano litúrgico e coloca-nos em estado de vigilância, em ordem à celebração do nascimento de Jesus. Tempo da escuta da Palavra, a mensagem dos seus quatro domingos é, neste Ano B, muito sugestiva: “vigiai” (I Domingo), “preparai o caminho do Senhor” (II Domingo), “vivei sempre na alegria” (III Domingo / Gaudete [da Alegria]), “faça-se em mim segundo a tua palavra” (IV Domingo). Entre a vigilância e a disponibilidade se desenha o percurso cristão, no Advento.
Neste percurso, cruzamo-nos com três figuras que se nos apresentam como modelos e nos propõem atitudes concretas: Isaías, João Batista e Maria.
Isaías é o profeta (e o poeta) que sonha tempos novos, onde a paz e a justiça vão reinar, depois de um significativo processo de (re)conversão: “transformarão as suas espadas em relhas de arados e as suas lanças em foices. Uma nação não levantará a espada contra a outra e não mais se adestrarão para a guerra” (Is 2, 4-5). A conversão leva à ação: “Preparai no deserto o caminho do Senhor” (Is 40, 3). A partir daí, é legítimo sonhar: “o lobo habitará com o cordeiro e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. A vaca pastará com o urso, e as suas crias repousarão juntas; o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará na toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na boca da serpente. Não haverá dano nem destruição em todo o meu santo monte, porque a terra está cheia de conhecimento do Senhor” (Is 11, 6-8). É o sonho encantador da convivência pacífica das criaturas, numa interpelante harmonização dos contrários geradora da paz cósmica.
João Batista é a “voz que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mt 3, 3). Pauta-se por uma vida austera, centrada no essencial (Mt 3, 4: “trazia um traje de pelos de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre”), por uma enorme humildade (Mt 3, 11: “aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu e não sou digno de lhe descalçar as sandálias”) e por uma coragem a toda a prova: denunciou o mau proceder de Herodes (Mc 6, 18: “Não te é lícito ter contigo a mulher de teu irmão”) e pagou cara essa ousadia: foi decapitado.
São incontornáveis as suas sugestões: “Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma e quem tem mantimentos faça o mesmo. (…) Não exijais além do que vos foi estabelecido. (…) Não exerçais violência sobre ninguém, não denuncieis injustamente” (Lc 3, 11.13.14). Partilha, justiça e paz são atitudes que João Batista encarna e sugere.
Maria é a mulher da espera atenta, silenciosa e operante, apaixonada por Deus e inteiramente disponível para seus os planos (Lc 1, 38: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”). Por isso, é modelo para os crentes. “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5) é a sugestão que dá a todos os que se dispõem a idêntico amor e disponibilidade. Se ela é feliz porque acreditou (cfr. Lc 1, 45), não será na vivência intensa deste tempo de Advento que havemos de encontrar o sentido mais profundo e a verdadeira alegria do Natal?
As três figuras que acabámos de evocar, nas atitudes que assumem e sugerem, são nossos modelos e intercessores para que a esperança (Isaías) se traduza em gestos concretos de retidão, desprendimento e coragem (João Batista) e na aceitação disponível da proposta divina (Maria). O encontro com cada uma destas figuras e suas atitudes, no Tempo do Advento, é essencial para que a celebração do Natal possa constituir um verdadeiro encontro com Deus Menino, com os outros e com a natureza. Então, a fraternidade humana e cósmica fará ecoar a mensagem dos anjos, nas campinas de Belém: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado” (Lc 2, 14).
Pe. João Alberto Correia