27º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?

Jesus, prevendo a sua paixão e morte, relata a parábola dos vinhateiros homicidas, para admoestar os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo, os quais nutrem más intenções em relação a ele e procuram o modo de o eliminar.

A história alegórica descreve um senhor que, depois de ter cuidado muito da sua vinha, parte, confiando-a aos vinhateiros. Em seguida, no momento da colheita, ele envia alguns servos para recolher os frutos; mas os vinhateiros recebem os servos com bastões e até matam alguns. O senhor envia outros servos, mais numerosos, mas também eles recebem o mesmo tratamento. O clímax é atingido quando o senhor decide enviar o seu filho: os vinhateiros não o respeitam, pelo contrário, pensam que ao eliminá-lo podem apoderar-se da vinha, e por isso também o matam.

A imagem da vinha é clara: representa o povo que o Senhor escolheu e formou com tanto cuidado; os servos mandados pelo senhor são os profetas, enviados por Deus, enquanto o filho é a figura de Jesus. E tal como os profetas foram rejeitados, assim também Cristo foi rejeitado e morto.

No final da história, Jesus pergunta aos chefes do povo: «Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». E eles, tomados pela lógica da narrativa, pronunciam eles mesmos a própria condenação: mandará matar sem piedade aqueles miseráveis e arrendará a sua vinha: «Dará morte afrontosa aos malvados, e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida».

Com esta parábola muito dura, Jesus coloca os seus interlocutores face à sua responsabilidade, e fá-lo com extrema clareza. Mas não pensemos que esta admoestação vale apenas para aqueles que rejeitaram Jesus naquele momento. Vale para todos os tempos, também para o nosso. Ainda hoje Deus espera os frutos da sua vinha daqueles que enviou para trabalhar nela. Todos nós.

Em cada época, aqueles que têm autoridade, qualquer autoridade, também na Igreja, no povo de Deus, podem ser tentados a fazer os próprios interesses e não os de Deus. E Jesus diz que a verdadeira autoridade é quando se faz o serviço, é servir, e não explorar os outros. A vinha é do Senhor, não nossa. A autoridade é um serviço, e como tal deve ser exercida, para o bem de todos e para a difusão do Evangelho. É terrível ver quando na Igreja as pessoas que têm autoridade procuram os próprios interesses.

São Paulo, na segunda leitura da liturgia de hoje, diz-nos como ser bons trabalhadores na vinha do Senhor: o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honrado; o que é virtude e merece louvor, que tudo isto seja o objecto diário do nosso compromisso.

Papa Francisco, Angelus (resumo), 4 de Outubro, 2020