“Queres que vamos arrancar o joio?”
A “Parábola do trigo e do joio” descrita no Evangelho de Mateus, inspirou a alocução do Santo Padre neste 16º Domingo do Tempo Comum (Ano A). Através dela Jesus mostra-nos a paciência de Deus e abre o nosso coração à esperança.
Jesus conta que no campo onde foi semeado bom trigo, surgem ervas daninhas. Os servos perguntam ao proprietário de onde veio o joio: “Foi um inimigo que fez isto”, respondeu. Os servos queriam imediatamente limpar o campo, mas foram advertidos pelo proprietário de que havia o risco de também o trigo ser arrancado junto com o joio. É preciso esperar o momento da colheita: somente então serão separados, e o joio será queimado.
Pode-se ler nesta parábola uma visão da história. Ao lado de Deus – o dono do campo – que semeia sempre e somente a boa semente, há um adversário, que na escuridão trabalha com inveja, hostilidade, para estragar tudo, espalhando o joio para impedir o crescimento do trigo. O adversário ao qual Jesus se refere tem um nome: é o diabo, o opositor por excelência de Deus. A sua intenção é atrapalhar a obra da salvação, fazer com que o Reino de Deus seja obstaculizado por operários iníquos, semeadores de escândalos. De facto, a boa semente e o joio não representam o bem e o mal abstractamente, mas a nós, seres humanos, que podemos seguir a Deus ou ao diabo.
A intenção dos servos é eliminar imediatamente o mal, isto é, as pessoas más, mas o proprietário é mais sábio, e vê mais longe: eles devem saber esperar, porque suportar as perseguições e as hostilidades faz parte da vocação cristã. O mal, certamente, deve ser rejeitado, mas os malvados são pessoas com quem é preciso ter paciência. Não se trata daquela tolerância hipócrita que oculta ambiguidade, mas da justiça mitigada pela misericórdia. Se Jesus veio buscar os pecadores mais que os justos, curar os enfermos antes ainda que os têm saúde, também a acção dos seus discípulos deve ser dirigida não para eliminar os malvados, mas para os salvar.
Os servos querem um campo sem ervas daninhas, o proprietário um bom trigo. Assim, o Evangelho deste Domingo apresenta duas maneiras de agir e viver a história: por um lado, o olhar do proprietário, que vê longe; por outro, o olhar dos servos, que vêem o problema. Jesus convida-nos a assumir o seu próprio olhar, o que se fixa no bom trigo, que sabe protegê-lo mesmo entre as ervas daninhas. Os que buscam os limites e defeitos dos outros não colaboram bem com Deus, mas sim aqueles que sabem reconhecer o bem que cresce silenciosamente no campo da Igreja e da história, cultivando-o até amadurecer. E então será Deus, e somente ele, a recompensar os bons e a punir os malvados. Que a Virgem Maria nos ajude a entender e a imitar a paciência de Deus, que não quer que nenhum dos seus filhos se perca, que ele ama com amor de Pai.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 19 de Julho, 2020