Saiu o semeador a semear
Neste 15º Domingo do Tempo Comum (Ano A), o Papa Francisco propôs uma reflexão sobre a parábola do semeador que lança a semente da Palavra de Deus em quatro terrenos diferentes. A Palavra de Deus, representada pelas sementes, não é uma Palavra abstracta, mas é o próprio Cristo, a Palavra do Pai que encarnou no ventre de Maria. Portanto, acolher a Palavra de Deus significa acolher a pessoa de Cristo, o próprio Cristo.
Existem diferentes maneiras de receber a Palavra de Deus: podemos fazê-lo como um caminho, onde os pássaros imediatamente vêm e comem as sementes. Isto seria a distracção, um grande perigo do nosso tempo. Assaltados por tanto barulho interior e exterior e por tantas ofertas e ideologias, pelas possibilidades contínuas de se distrair dentro e fora de casa, pode-se perder o gosto do silêncio, do recolhimento, do diálogo com o Senhor, a ponto de arriscar perder a fé, de não aceitar a Palavra de Deus.
O segundo modo de acolher a Palavra de Deus é quando a recebemos como um solo pedregoso. Nele a semente brota depressa, mas também seca rapidamente, porque não consegue criar raízes profundas. Este caso caracteriza-se pelo entusiasmo momentâneo que permanece superficial, não assimila a Palavra de Deus. E assim, diante da primeira dificuldade, pensemos num sofrimento, uma perturbação da vida, aquela fé ainda débil se dissolve, como a semente que cai no meio das pedras.
Podemos ainda acolher a Palavra de Deus como um solo onde crescem arbustos espinhosos. E os espinhos são o engano da riqueza, do sucesso, das preocupações mundanas… Aí a Palavra permanece sufocada, não dá fruto, morre.
Finalmente podemos ainda acolhê-la como um terreno bom. Aqui, e só aqui, é que a semente ganha raízes e dá fruto. A semente que caiu neste solo fértil representa aqueles que ouvem a Palavra, a acolhem, a guardam no coração e a põem em prática na vida quotidiana.
A parábola do semeador é um pouco a “mãe” de todas as parábolas, porque fala em ouvir a Palavra. Isto nos lembra que a Palavra de Deus é uma semente que por si só é frutífera e eficaz; e Deus espalha-a em todos os lugares com generosidade, não se importando com o desperdício. Este é o coração de Deus! Cada um de nós é um terreno sobre o qual a semente da Palavra cai, sem excluir ninguém!
Papa Francisco, Angelus (resumo), 12 de Julho, 2020