VIA SACRA. CAMINHAR COM JESUS EM TEMPO DE PANDEMIA
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Ámen.
O tempo que vivemos faz-nos parar. Interrompe a nossa vida, os nossos hábitos, as nossas celebrações, ritos e tradições. Revela os nossos medos e incertezas, mas também as nossas esperanças. Faz-nos duvidar… e acreditar. Isola-nos… mas também nos torna solidários… É neste tempo que nos aproximamos da Páscoa.
Com Jesus, percorremos o caminho da Cruz. Ao começar este percurso, mais interior que exterior, acompanhado os últimos passos de Jesus, deixemos que o silêncio nos habite, e nos abra ao mistério da vida e da morte, ao mistério da morte para a Vida…
I ESTAÇÃO
Jesus é condenado à morte
Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus,
Que pela vossa santa cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo São Lucas (23, 22-25)
Pilatos disse pela terceira vez à multidão: «Que mal fez Ele? Nada encontrei n’Ele que mereça a morte. Por isso, vou libertá-Lo, depois de O castigar». Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que tinha sido preso por rebelião e homicídio e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.
Meditação e oração
Ainda há pouco nos parecia improvável esta quase “condenação” global ao isolamento social, à ausência de contactos próximos, à insegurança, ao quase-medo de todos os que, eventualmente, possamos encontrar numa ida rápida ao supermercado ou à farmácia… Também nesta situação não nos podemos esquecer que a “condenação” não é o fim: como Jesus, podemos viver este tempo como um caminho para a ressurreição!
Senhor Jesus, ajuda-nos, neste momento, a caminhar confiantes, como Tu, ao encontro do Pai, partilhando das dores da humanidade.
Pai nosso…
II ESTAÇÃO
Jesus é carregado com a Cruz
Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus,
Que pela vossa santa cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo São Marcos (8, 34-35)
Chamando a Si a multidão, juntamente com os discípulos, [Jesus] disse-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de Mim e do Evangelho, há de salvá-la».
Meditação e oração
A cruz, no seguimento de Jesus, é caminho para, perdendo, ganhar a vida. A entrega, o serviço, o amor até ao fim, é o caminho de Jesus. É também o projeto que nos propõe. Neste tempo em que tantos carregam uma pesada cruz de doença, de isolamento, de medo… não deixa de ser tempo de seguir Jesus, de abraçar a cruz, de a carregar com amor.
Que esperas de mim, Senhor? Sei que não posso aproximar-me, segurar na mão, dar um abraço a quem tem uma cruz mais pesada que a minha… Posso apenas partilhar a sua cruz no meu coração e na minha oração. Dá-me, Senhor, a força para não desanimar, e a fé para nunca deixar de confiar e amar.
Pai nosso…
III ESTAÇÃO
Jesus cai pela primeira vez
Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus,
Que pela vossa santa cruz remistes o mundo.
Do Livro do profeta Isaías (53, 4-5)
Na verdade, Ele tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós O reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado.
Meditação e oração
Ao vermos Jesus cair pela primeira vez, o pensamento leva-nos, neste momento, para os que sentem os primeiros sintomas: a febre, a dificuldade de respirar, a tosse seca… e a questão esmagadora: “Será que fui contaminado?” Para alguns, pode ser só um susto, mas, para outros, chega a confirmação… No nosso isolamento social, que o nosso coração não deixe de se condoer por cada um dos que sofre…
Senhor Jesus, caído sob o peso da cruz, ampara-nos nas nossa quedas, conforta-nos nos nossos medos, conforta aqueles que sofrem e de quem, nestes tempos, não nos podemos aproximar…
Pai nosso…
IV ESTAÇÃO
Jesus encontra a sua Mãe
Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus,
Que pela vossa santa cruz remistes o mundo.
Do Evangelho de São Lucas (2, 34-35)
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão de revelar-se os pensamentos de muitos corações».
Meditação e oração
“Se ao menos pudesse abraçar os meus filhos”, dizia uma mãe, em isolamento, depois de ver sepultar, fechada e isolada, o seu marido que a doença do Covid-19 fez partir mais cedo… Nem essa consolação…
Conta a tradição que Maria cruzou o seu olhar com o de Jesus no caminho do Calvário. Mas também ela, naquele momento, não O pode abraçar… O afastamento dos familiares é uma dor que acresce à dor, mas sabemos que, mesmo temporariamente afastados no contacto físico, mantemos o amor, a comunhão, a amizade no nosso coração.
Vejo-te, Maria, com o olhar fixo no teu filho. Tinha sido profetizado que isto iria acontecer, mas agora que acontece, é tudo diferente… Parece que nunca se está preparado… Tu que viveste essa dor de tão perto, olha agora para o sofrimento que os teus filhos atravessam. Que a tua presença seja consolação e o teu coração refúgio e caminho para Deus.
Pai nosso…
V ESTAÇÃO
Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a Cruz
Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus,
Que pela vossa santa cruz remistes o mundo.
Do Evangelho segundo São Lucas (23, 26)
Quando iam conduzindo Jesus, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás dele.
Meditação e oração
Olhando o Cireneu, rezamos com o Papa Francisco, na celebração extraordinária de oração pela pandemia Covid-19 (27 março 2020): “Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho.”
Pai nosso…