Lázaro, vem para fora
O Evangelho deste quinto Domingo de Quaresma é o da ressurreição de Lázaro. Lázaro era irmão de Marta e Maria; eram muito amigos de Jesus. Quando chegou a Betânia, Lázaro já tinha morrido há quatro dias; Marta correu ao encontro do Mestre e disse-lhe: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!” Jesus respondeu “Teu irmão ressuscitará”, e acrescentou: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia”. Jesus mostra-se como o Senhor da vida, Aquele que é capaz de restituir a vida também aos mortos.
Depois chegaram Maria e outras pessoas, todos em lágrimas, e então Jesus – diz o Evangelho – “estremeceu interiormente e […] chorou”. Comovido, vai ao túmulo, agradece ao Pai que sempre o escuta, manda abrir o sepulcro e exclama com voz forte: “Lázaro, vem para fora!” E Lázaro sai com “as mãos e os pés atados com lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano”.
Aqui tocamos com a mão que Deus é vida e doa vida, mas assume o drama da morte. Jesus poderia ter evitado a morte do amigo Lázaro, mas quis assumir para si a nossa dor pela morte das pessoas queridas, e sobretudo quis mostrar o domínio de Deus sobre a morte.
Nesta passagem do Evangelho vemos que a fé do homem e a omnipotência de Deus, do amor de Deus, buscam-se e por fim se encontram. É como um duplo caminho: a fé do homem e a omnipotência do amor de Deus que se procuram e no final se encontram. Vemos isso no grito de Marta e Maria e de todos nós com eles: “Se tivesses estado aqui!…”.
E a resposta de Deus não é um discurso, não, a resposta de Deus ao problema da morte é Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida… Tenham fé! Em meio ao choro continuem a ter fé, ainda que pareça que a morte tenha vencido. Removam a pedra dos vossos corações! Deixai que a Palavra de Deus leve de novo a vida onde há morte”.
Também hoje Jesus nos repete: “Removei a pedra”. Deus não nos criou para o túmulo, criou-nos para a vida, bela, boa, alegre. Mas “foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo” (Sb 2, 24), diz o Livro da Sabedoria, e Jesus Cristo veio libertar-nos dos seus laços.
Portanto somos chamados a remover as pedras de tudo aquilo que fala de morte: por exemplo, a hipocrisia com que a fé é vivida, é morte; a crítica destrutiva contra os outros, é morte; a ofensa, a calúnia, é morte; a marginalização do pobre, é morte. O Senhor pede-nos para remover estas pedras do coração, e a vida então voltará a florescer à nossa volta. Cristo vive, e quem o acolhe e se une a Ele entra em contacto com a vida. Sem Cristo, ou fora de Cristo, a vida não só não está presente como também se recai na morte.
A ressurreição de Lázaro também é sinal da regeneração que se realiza no crente mediante o Baptismo, com a plena inserção no Mistério Pascal de Cristo. Pela acção e a força do Espírito Santo, o cristão é uma pessoa que caminha na vida como uma nova criatura: uma criatura para a vida, e que vai em direcção à vida.
Que a Virgem Maria nos ajude a sermos compassivos como o seu Filho Jesus, que fez sua a nossa dor. Que cada um de nós seja próximo daqueles que sofrem, tornando-se para eles um reflexo do amor e da ternura de Deus, que liberta da morte e faz vencer a vida.
Papa Francisco, Angelus, 29 de Março, 2020