A palavra “evangelho”, no tempo de Jesus, era usada pelos imperadores romanos para as suas proclamações. Independentemente do conteúdo, elas eram definidas “boas novas”, isto é, anúncios de salvação, porque o imperador era considerado como o senhor do mundo e os éditos como anunciadores de bem. Aplicar esta palavra à pregação de Jesus teve portanto um sentido muito crítico, ou seja: Deus, não o imperador, é o Senhor do mundo, e o verdadeiro Evangelho é o de Jesus Cristo.
A “boa nova” que Jesus proclama resume-se nestas palavras: “O reino de Deus — o reino dos céus — está próximo” (Mt 4, 17; Mc 1, 15). O que significa esta expressão? Certamente não indica um reino terreno delimitado no espaço e no tempo, mas anuncia que é Deus quem reina, que é Deus o Senhor e o seu senhorio está presente, é actual, está a realizar-se. A novidade da mensagem de Cristo é portanto que Deus n’Ele se fez próximo, já reina entre nós, como demonstram os milagres e as curas que realiza. Deus reina no mundo mediante o seu Filho feito homem e com a força do Espírito Santo, que é chamada “mão de Deus” (cf. Lc 11, 20). Aonde chega Jesus, o Espírito criador leva vida e os homens são curados das doenças do corpo e do espírito. O senhorio de Deus manifesta-se então na cura integral do homem. Com isto Jesus quer revelar o rosto do verdadeiro Deus, o Deus próximo, cheio de misericórdia por todos os seres humanos; o Deus que nos faz o dom da vida em abundância, da sua própria vida. O reino de Deus é portanto a vida que se afirma sobre a morte, a luz da verdade que dissipa as trevas da ignorância e da mentira.
Bento XVI, Angelus, 27 de Janeiro de 2008