Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência (Mt 3,17)
Neste Domingo da Festa do Baptismo do Senhor o Evangelho proclamado na Eucaristia é de São Mateus (3,13-17). O evangelista descreve o diálogo entre Jesus, que pede o Baptismo, e João Baptista, que quer negar-se a fazê-lo e observa: “Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti e tu é que vens ter comigo?”.
Esta decisão de Jesus surpreende o Baptista pois o Messias não precisa de ser purificado visto ser ele que purifica. Mas Deus é o Santo, e os seus caminhos não são os nossos, e Jesus é o Caminho de Deus, um caminho imprevisível. Deus é o Deus das surpresas.
João havia declarado que entre ele e Jesus existia uma distância abissal, insuperável. “Eu não sou digno nem ao menos de lhe tirar as sandálias” (Mt 3,11). Mas o Filho de Deus veio justamente para preencher a distância entre o homem e Deus. Por isso, Jesus diz a João: “Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça”. O Messias pede para ser baptizado, a fim de que se cumpra toda a justiça, isto é, se realize o desígnio do Pai que passa pelo caminho da obediência filial e da solidariedade com o homem frágil e pecador. É o caminho da humildade e da plena proximidade de Deus relativamente aos seus filhos. Também o profeta Isaías anuncia a justiça do Servo de Deus, que realiza a sua missão no mundo com um estilo contrário ao espírito mundano: “Ele não clamará, não levantará a voz, não fará ouvir a sua voz nas ruas, não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” (42,2-3). É a atitude da mansidão, da simplicidade, do respeito, da moderação e do não fazer alarde, que se requer também hoje aos discípulos do Senhor. Na acção missionária a comunidade cristã é chamada a ir ao encontro dos outros sempre propondo e não impondo, dando testemunho, partilhando a vida concreta das pessoas.
Assim que Jesus foi baptizado no rio Jordão, os céus abriram-se e desceu sobre ele o Espírito Santo como uma pomba, enquanto do alto soou uma voz que dizia: “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência” (Mt 3,17).
Na festa do Baptismo de Jesus redescobramos o nosso Baptismo. Como Jesus é o Filho amado do Pai, também nós renascidos da água e do Espírito Santo sabemos ser filhos amados, (o Pai a todos ama), objecto da complacência de Deus, irmãos de tantos outros irmãos, investidos de uma grande missão para testemunhar e anunciar a todos os homens o amor sem limites do Pai.
Esta festa do Baptismo de Jesus lembra-nos o nosso Baptismo. Nós também renascemos no Baptismo. No Baptismo, o Espírito Santo veio permanecer em nós. É por isso que é importante saber qual é a data do meu Baptismo.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 12 de Janeiro, 2020