Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho (Mt 1, 23)
Neste quarto e último domingo do Advento, o Evangelho (cf. Mt 1,18-24) orienta-nos para o Natal através da experiência de São José, uma figura aparentemente secundária, mas em cuja atitude está contida toda a sabedoria cristã. Ele, juntamente com João Baptista e Maria, é um dos personagens que a liturgia nos oferece para o tempo do Advento; dos três é o mais modesto. Não prega, não fala, mas procura fazer a vontade de Deus; e ele realiza-a segundo o estilo do Evangelho e das bem-aventuranças. Pensemos: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). E José é pobre porque vive do essencial, trabalha, vive do trabalho; é a pobreza típica daqueles que sabem que dependem inteiramente de Deus e depositam a sua confiança n’Ele.
O relato do evangelho de hoje apresenta uma situação humanamente embaraçante e contrastante. José e Maria estão prometidos como esposos; ainda não vivem juntos, mas ela espera um filho por obra de Deus. José, diante desta surpresa, naturalmente que fica perturbado, mas, em vez de reagir de maneira impulsiva e punitiva – como era habitual fazer, a lei protegia-o – , procura uma solução que respeite a dignidade e a integridade da sua amada Maria. Diz o Evangelho: “José, seu marido, porque era um homem justo e não queria acusá-la publicamente, pensou em repudiá-la em segredo”. José sabia muito bem que, se denunciasse a sua esposa prometida, tê-la-ia exposto a graves consequências, mesmo até à morte. Ele tem total confiança em Maria, a quem ele escolheu como sua esposa. Ele não entende, mas procura outra solução.
Esta circunstância inexplicável condu-lo a pôr em causa a sua ligação com Maria. Com grande sofrimento, decide separar-se de Maria sem criar escândalo. Mas o Anjo do Senhor intervém para lhe dizer que a solução por ele pensada não é a que Deus quer. Deste modo, o Senhor abre-lhe uma nova estrada, uma estrada de união, amor e felicidade e diz-lhe: “José, filho de David, não temas receber Maria como tua esposa, pois o que nela foi gerado é do Espírito Santo”.
José confia totalmente em Deus, obedece às palavras do Anjo e toma consigo Maria. Esta confiança inabalável em Deus permitiu a José aceitar uma situação humanamente difícil e, em certo sentido, incompreensível. José entende, na fé, que o menino gerado no ventre de Maria não é seu filho, mas é o Filho de Deus e ele, José, será seu protector, assumindo plenamente a sua paternidade terrena. O exemplo deste homem manso e sábio exorta-nos a elevar o olhar, procurando ver sempre mais além. Trata-se de recuperar a surpreendente lógica de Deus que, longe dos pequenos ou grandes cálculos, é feita de abertura a novos horizontes, em direcção a Cristo e à Sua Palavra.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 22 de Dezembro, 2019