Não basta acreditar em Deus: é preciso todos os dias purificar a nossa fé
Neste terceiro Domingo do Advento, chamado “Domingo da alegria”, a Palavra de Deus convida-nos, por um lado, à alegria e, por outro, à consciência de que a existência também inclui momentos de dúvida , nos quais é difícil de acreditar. Alegria e dúvida são experiências que fazem parte da nossa vida.
Ao convite explícito à alegria proclamado pelo profeta Isaías: “Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida”, contrapõe-se no Evangelho a dúvida de João Baptista: “És Tu Aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?”. O profeta vê para além da situação: ele tem diante de si pessoas desencorajadas e abatidas. É a mesma realidade que em todos os tempos põe à prova a fé. Mas o homem de Deus animado pelo Espírito Santo vê mais longe e anuncia a salvação: “Coragem, não temais! Eis o vosso Deus, Ele vem para vos salvar”. E então tudo se transforma: o deserto floresce, o consolo e a alegria tomam posse do coração, os coxos, os cegos e os mudos são curados. É isto o que se realiza com Jesus: “os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres”.
Esta descrição mostra-nos que a salvação envolve o homem inteiro e o regenera. Mas este novo nascimento, com a alegria que o acompanha, pressupõe sempre a morte a nós mesmos e ao pecado que está em nós. Daí o apelo à conversão, que é a base da pregação tanto de João Baptista como de Jesus; em particular, trata-se de converter a ideia que temos de Deus e o tempo do Advento encoraja-nos a fazê-lo precisamente com a pergunta que João Baptista faz a Jesus: “És Tu Aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?”. Durante toda a sua vida, João esperou pelo Messias; o seu estilo de vida, o seu próprio corpo é moldado por esta expectativa. Também por esse motivo, Jesus elogia-o: ninguém é maior do que ele entre os nascidos de mulher. E, no entanto, ele também teve que se converter a Jesus. Como João, também somos chamados a reconhecer o rosto que Deus escolheu para assumir em Jesus Cristo, humilde e misericordioso.
O Advento é um tempo de graça. Diz-nos que não basta crer em Deus: é necessário purificar a nossa fé todos os dias. Trata-se de preparar-nos para receber não um personagem de conto de fadas, mas o Deus que nos chama, nos envolve, diante do qual temos de fazer uma escolha. O Menino que está no presépio tem o rosto dos nossos irmãos e irmãs mais necessitados, os pobres, que “são os privilegiados deste mistério e, muitas vezes, aqueles que melhor conseguem reconhecer a presença de Deus no meio de nós”.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 15 de Dezembro, 2019