Não é um Deus de mortos mas de vivos (Lc 20, 38)
O Evangelho deste 32º Domingo do Tempo Comum, Ano C, narra que Jesus foi interpelado pelos saduceus, os quais não acreditavam na ressurreição e, por isso, provocam-no com uma pergunta insidiosa: de quem será esposa, na ressurreição, uma mulher que teve sete maridos sucessivos, todos irmãos entre si, os quais um após o outro morreram?
Jesus não cai na armadilha e replica que os ressuscitados no além nem eles se casam nem elas se dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram.
Com a sua resposta, Jesus convida os seus interlocutores – e também a nós – a pensar que esta dimensão terrena em que vivemos agora não é a única, mas existe outra, não mais sujeita à morte, em que se manifestará plenamente que somos filhos de Deus.
Trata-se de uma grande consolação e esperança ouvir esta palavra simples e clara de Jesus sobre a vida além da morte; é disto que precisamos no nosso tempo, tão rico de conhecimento sobre o universo, mas tão pobre de sabedoria sobre a vida eterna.
Esta límpida certeza de Jesus sobre a ressurreição baseia-se inteiramente na fidelidade de Deus, que é o Deus da vida. Com efeito, por trás da pergunta dos saduceus, esconde-se outra ainda mais profunda: não só de quem será esposa a mulher viúva de sete maridos, mas, de quem será a sua vida? Trata-se de uma dúvida que diz respeito ao homem de todos os tempos e também a nós: depois desta peregrinação terrena, o que será da nossa vida? Pertencerá ao nada, à morte?
Jesus responde que a vida pertence a Deus, o qual nos ama e se preocupa muito connosco, ao ponto de unir o seu nome ao nosso: é “o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob. Deus não é dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para Ele”.
A vida subsiste onde há relação, comunhão, fraternidade. E é uma vida mais forte do que a morte quando é construída sobre relações verdadeiras e laços de fidelidade. Pelo contrário, não há vida onde se tem a pretensão de pertencer somente a si mesmo e viver como ilhas: nestas atitudes prevalece a morte. É o egoísmo. Eu vivo para mim mesmo: semeio a morte no meu coração.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 10 de Novembro, 2019