Jesus revolucionou o sentido da morte. Fê-lo com o seu ensinamento, mas sobretudo enfrentando Ele próprio a morte. “Ao morrer, destruiu a morte”, repete a Liturgia no tempo pascal. “Com um Espírito que não podia morrer escreve um Padre da Igreja Cristo matou a morte que matava o homem” (Melitone di Sardi, Sulla Pasqua, 66). O Filho de Deus quis desta forma, partilhar até ao fim a nossa condição humana, para a reabrir à esperança. Em última análise, Ele nasceu para poder morrer, e assim, nos libertar da escravidão da morte. (…) Desde então, a morte já não é a mesma: foi privada, por assim dizer, do seu “veneno”. O amor de Deus, actuante em Jesus, deu de facto um sentido novo a toda a existência do homem, e assim transformou também o morrer. Se em Cristo a vida humana é “passagem deste mundo para o Pai” (Jo 13, 1), a hora da morte é o momento no qual isto se realiza de maneira concreta e definitiva. Quem se compromete a viver como Ele, é libertado pelo receio da morte, que já não mostra o escárnio de uma inimiga mas, como escreve São Francisco no Cântico das criaturas, o rosto amigo de uma “irmã”, pela qual se pode também bendizer ao Senhor: “Louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã morte corporal”.
Bento XVI