Que farei agora? (Lc 16, 3)
Antes da oração do Angelus, o Papa Francisco reflectiu sobre a parábola do evangelho do 25º Domingo (Ano C) que tem como protagonista um administrador astuto e desonesto que está para ser despedido.
Nesta situação difícil, o administrador desonesto não recrimina o chefe, não procura justificações, nem se deixa desmotivar, mas pensa numa forma de saída que lhe assegure um futuro tranquilo. Reage com lucidez, reconhecendo os seus limites: não pode cavar pois não tem forças e mendigar envergonha-o. O que faz? Chama os devedores e reduz as dívidas que têm para fazê-los seus amigos e ser recompensado por eles quando for despedido.
Jesus apresenta este exemplo não para exortar à desonestidade mas à astúcia. O administrador injusto é louvado porque agiu com astúcia, isto é, com a mistura de inteligência e astúcia que permite ultrapassar situações difíceis.
A chave de leitura desta narração encontra-se no convite feito por Jesus no final da parábola: “ganhai amigos com o dinheiro da injustiça para que um dia que este vos falte, eles vos recebam nas moradas eternas”. Isto parece um pouco confuso mas não o é: riqueza desonesta é o dinheiro – chamado também o “esterco do diabo” – e em geral os bens materiais. As riquezas podem empurrar para levantar muros, criar divisões e discriminações. Jesus, porém, convida os seus discípulos a inverter a rota: “ganhai amigos com a riqueza”. É um convite para saber transformar os bens e as riquezas em relações, porque as pessoas valem mais do que as coisas e contam mais do que as riquezas que se possuem. Na vida, de facto, dá fruto não quem tem muitas riquezas mas quem cria e mantém vivos muitos vínculos, muitas relações, muitas amizades através das diferentes “riquezas”, isto é, dos diversos dons que Deus nos deu.
Se formos capazes de transformar as riquezas em instrumentos de fraternidade e de solidariedade, não estará no Paraíso a receber-nos somente Deus mas também aqueles com quem compartilhámos, administrando bem, tudo o que o Senhor colocou nas nossas mãos.
O Santo Padre convida a pensar na pergunta do administrador desonesto despedido pelo patrão: “Que farei agora?” para aprendermos que diante das nossas faltas e dos nossos fracassos, Jesus assegura-nos que estamos sempre a tempo de curar com o bem o mal realizado.
Que a Virgem Maria nos ajude a ser astutos para assegurar não o êxito mundano mas a vida eterna, para que no momento do juízo final as pessoas necessitadas que ajudámos testemunhem que nelas vimos e servimos o Senhor.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 22 de Setembro, 2019