Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa (Lc 15, 10)
O Evangelho do 24º Domingo do Tempo Comum, Ano C, começa por narrar a reacção de alguns que, escandalizados, criticavam Jesus, dizendo com desdém: “Ele acolhe os pecadores e come com eles”. Uma frase que acaba por revelar um anúncio maravilhoso: Jesus acolhe os pecadores e come com eles, como acontece connosco, em cada Missa, em cada igreja: Jesus está contente por nos acolher na sua mesa, onde se oferece por nós. É a frase que poderíamos escrever nas portas das nossas igrejas: “Aqui Jesus acolhe os pecadores e convida-os para a sua mesa”.
Para responder aos seus críticos, Jesus conta três parábolas, três parábolas maravilhosas, que fazemos bem em lê-las, que mostram a sua predilecção por aqueles que se sentem distantes dele.
Começando pela parábola da ovelha perdida uma pessoa sensata não deixaria as noventa e nove no deserto para buscar aquela que se perdeu. Fazendo os cálculos, chegaria à conclusão que valeria mais a pena sacrificar uma, mantendo as outras noventa e nove a salvo. Mas Deus faz o contrário. Deus, ao invés disso, não se resigna, a ele importa precisamente tu que ainda não conheces a beleza do seu amor, tu que ainda não acolheste Jesus no centro da tua vida, tu que não consegues superar o teu pecado, tu que talvez, pelas coisas ruins que aconteceram na tua vida, não acreditas no amor.
Na segunda parábola, cada um de nós é aquela pequena moeda que o Senhor não quer perder e a procura incessantemente. Ele quer-te dizer que és precioso aos seus olhos, que és único. Ninguém te pode substituir no coração de Deus. Tu tens um lugar, és tu, e ninguém pode substituir-te. E também eu, ninguém pode substituir-me no coração de Deus.
Na terceira parábola Deus é pai que espera o retorno do filho pródigo. É Um Deus paciente, que não desanima, não se cansa e aguarda o retorno do filho pródigo. Este é o nosso Deus, que nos abraça novamente, nos acaricia e nos coloca nos seus ombros. Ele espera em cada dia que percebamos este seu amor ainda que te lamentes de muitas coisas das quais te arrependes hoje de as ter feito. Não tenhas medo: Deus ama-te, ama-te como és e sabe que somente o seu amor pode mudar a tua vida.
Mas o amor infinito de Deus por nós pecadores, que é o coração do Evangelho, pode ser rejeitado como fez o filho mais velho da parábola. Ele não entende o amor naquele momento e tem em mente mais um patrão do que um pai. É um risco também para nós: acreditar num deus mais rigoroso do que misericordioso, num deus que derrota o mal com o poder do que com o perdão. Mas com Deus não é assim. Deus salva com o amor, não com a força, propondo, não impondo. Mas o filho mais velho, que não aceita a misericórdia do pai, fecha-se, comete um erro pior: presume-se justo, presume-se traído e julga tudo a partir do seu pensamento de justiça. Assim, fica irritado com o irmão e censura o pai: “Tu matastes o novilho gordo agora que este teu filho voltou”. Este “teu filho”: não o chama “meu irmão”, mas “teu filho”. Sente-se como filho único.
Também nós muitas vezes agimos como o filho mais velho, quando acreditamos ser os justos, quando pensamos que os maus são os outros. Mas não nos julguemos bons, porque sozinhos, sem a ajuda de Deus que é bom, não sabemos vencer o mal.
E como se faz para derrotar o mal? Acolhendo o perdão de Deus e o perdão dos irmãos. Acontece quando nos confessamos. Recebemos o amor do Pai que vence o nosso pecado: não existe mais, Deus esquece-o. Quando Deus perdoa, perde a memória, esquece os nossos pecados. Deus é tão bom connosco!
Deus esquece, diferentemente de nós, que mesmo quando dizemos que “está tudo certo”, na primeira oportunidade recordamos os ferimentos sofridos. Deus apaga o mal, faz-nos novos por dentro e, assim, faz renascer em nós a alegria, não a tristeza, não a obscuridade no coração, não a suspeita, mas a alegria.
Coragem! Com Deus nenhum pecado tem a última palavra. Que Nossa Senhora, que desata os nós da vida, nos liberte da pretensão de acreditar que somos justos e nos faça sentir a necessidade de ir até ao Senhor, que nos espera sempre para nos abraçar, para nos perdoar.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 15 de Setembro, 2019