O que preparaste para quem será? (Lc 12, 20)
O evangelho de São Lucas proclamado neste 18º Domingo do Tempo Comum – Ano C, começa afirmando que “alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo»”. Mas Jesus na resposta que dá não trata da questão jurídica para o problema colocado mas exorta a permanecer distante da ganância, isto é, da avidez de possuir. Jesus, então, para dissuadir os seus ouvintes dessa busca frenética pela riqueza, conta a parábola do rico louco, que acredita estar feliz porque teve a sorte de uma colheita excepcional e se sente seguro pelos bens acumulados.
O texto evangélico apresenta-nos de um lado, o rico, que coloca diante de si os muitos bens acumulados, os muitos anos que esses bens parecem assegurar-lhe, e a tranquilidade e o bem-estar desenfreados. De outro, Deus, que se dirige a ele, desfazendo todos esses projectos: em vez dos “muitos anos”, Deus indica o imediatismo de nesta noite morrerás; no lugar do “gozo da vida” apresenta-lhe o devolver a vida a Deus, com o consequente julgamento. Diante da realidade dos muitos bens acumulados que eram a base sobre a qual o rico alicerçava a sua vida, nasce a pergunta: “E o que preparaste para quem será?”. É nesta contraposição que se justifica a denominação de “louco”- porque pensa em coisas que ele acredita serem concretas, mas são uma fantasia – com a qual Deus se dirige a este homem. Ele é louco, porque na prática ele renegou a Deus, ele não contava com ele. No fim, o evangelista adverte e revela o horizonte para o qual todos somos chamados a olhar: “Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus”.
Os bens materiais são necessários, são bens, mas são um meio para viver honestamente e na partilha com os mais necessitados. Jesus hoje convida-nos a considerar que as riquezas podem aprisionar o coração e distraí-lo do verdadeiro tesouro que está no céu. Também na segunda leitura proposta pela liturgia deste dia, da Carta aos Colossenses, São Paulo recorda-nos que devemos buscar as coisas do alto, e não as coisas da terra, o que não significa fugir da realidade mas buscar as coisas que têm um verdadeiro valor: a justiça, a solidariedade, o acolhimento, a fraternidade, a paz, tudo coisas que constituem a verdadeira dignidade do homem. Trata-se de orientar a nossa existência para uma vida realizada não segundo o estilo mundano, mas segundo o estilo evangélico: amar a Deus com todo o nosso ser e amar o próximo como Jesus o amou, isto é, no serviço e no dom de si. O amor assim entendido e vivido, é a fonte da verdadeira felicidade, enquanto a procura desmedida de bens materiais, da riqueza, é frequentemente fonte de inquietação, de adversidade, de prevaricações, de guerras. A cobiça dos bens, o desejo de ter bens, não sacia o coração, antes pelo contrário, provoca mais fome!.
Papa Francisco, Angelus (resumo), 4 de Agosto de 2019