Aludíeis ao facto de ser poucos e ao risco de ceder a algum complexo de inferioridade… Há situações – e não são poucas – em que sentimos necessidade de fazer contas à vida: começamos a olhar quantos somos… e somos poucos; os meios que temos… e são poucos; depois vemos a quantidade de casas e obras a sustentar… e são demasiadas! Poderíamos continuar a enumerar as múltiplas realidades em que experimentamos a precariedade dos recursos que temos à disposição para levar por diante o mandato missionário que nos foi confiado. Quando isto acontece, parece que o saldo do balanço apareça «em vermelho», ou seja negativo.
É verdade que o Senhor nos disse: se queres construir uma torre, calcula as despesas; «não suceda que, depois de assentar os alicerces, [tu] não a possas acabar» (cf. Lc 14, 29). Mas, o «fazer as contas» pode-nos levar à tentação de olhar demasiado para nós próprios e, curvados sobre as nossas realidades, sobre as nossas misérias, podemos acabar quase como os discípulos de Emaús, proclamando o querigma com os nossos lábios enquanto o nosso coração se fecha num silêncio marcado por subtil frustração, que o impede de escutar Aquele que caminha ao nosso lado e é fonte de júbilo e alegria.
Irmãos e irmãs, «fazer as contas» é sempre necessário, quando nos pode ajudar a descobrir e aproximar de muitas vidas e situações que todos os dias sentem dificuldade em sobreviver: famílias que não conseguem continuar, pessoas idosas e sozinhas, doentes forçados a estar na cama, jovens tristes e sem futuro, pobres que nos lembram o que somos, isto é, uma Igreja de mendigos necessitados da Misericórdia do Senhor. Só é lícito «fazer as contas», se isto leva a mover-nos tornando-nos solidários, atentos, compreensivos e solícitos em abeirar-nos das fadigas e precariedade em que vivem submersos muitos dos nossos irmãos necessitados duma Unção que os levante e cure na sua esperança.
Só é lícito fazer as contas para exclamar com força e implorar com o nosso povo: «Vinde, Senhor Jesus!»
Papa Francisco, Encontro com os sacerdotes e seus familiares e religiosos na Catedral de Skopje (Macedónia do Norte), 7 de Maio de 2019