A construção da Paz começa nas coisas miúdas como desejar um “Bom Dia!”, e só terminará quando o mundo estiver reconstruído: sem guerra, sem fome, sem doenças, sem injustiça, sem opressão, todos vivendo como irmãos e irmãs, uns dos outros. Este é o objetivo da construção da Paz, da Paz completa. SHALÔM. A Paz é como uma casa para morar: ela é construída tijolo por tijolo. Quem não cuida do tijolo, nunca terá casa para morar. Qual é o tijolo que serve para construir a casa da Paz?
A vida de Jesus é uma amostra de como ser construtor de paz. Onde havia ódio, levava o amor; onde havia ofensa, levava o perdão; onde havia discórdia, levava a união; onde havia dúvida, levava a fé; onde havia erro, levava a verdade; onde havia desespero, leva a esperança; onde havia ofensa, levava o perdão; onde havia tristeza, levava a alegria; onde havia injustiça, levava a justiça e o direito; onde havia trevas, levava a luz.
Aos discípulos amedrontados dizia: “A paz esteja com vocês!” Soprou sobre eles dizendo: “Recebam o Espírito Santo!”, e deu a eles e a todos nós o poder de perdoar e de reconciliar (Jo 20,21-23). E quando os enviou em missão, não permitia levar nada, a não ser uma única coisa: a Paz. E quando chegavam em algum lugar, eles deviam dizer: “A Paz esteja nesta casa!” (Lc 10,5). Assim começou e recomeça o processo da Paz que reverte o processo do ódio, da confusão, da discórdia, da ofensa, da destruição, iniciado com Adão e Eva (Gn 2,1-7), com Caim e Lamec, (Gn 4,8.24), com o Dilúvio (Gn 6,13-17) e a Torre de Babel (Gn 11,1-9). Assim recomeça sempre a reconstrução do Paraíso Terrestre da Paz.
Não se começa a construção da casa pelo telhado, mas pelo alicerce. Qual o alicerce da casa da Paz? É a reconstrução do relacionamento humano entre as pessoas, bem na base, para que possa nascer e renascer a vida em comunidade. No tempo de Jesus, o povo esperava que o profeta Elias voltasse “para reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais” (Ml 3,23-24). Eles esperavam que fosse refeito o tecido básico da convivência humana, pois sem este alicerce, o resto não teria consistência. Seria construir a casa em cima da areia (cf Mt 7,26).
O que Jesus mais fez foi exatamente isto: refazer a vida comunitária nos povoados da Galileia. Conforme o Evangelho de Marcos, a primeira coisa que Jesus fez foi chamar discípulos para formar comunidade com eles (Mc 1,16-20; 3,14). Ao redor dele nascia a nova fraternidade, expressão do amor solidário de Deus, fundamento na construção da Paz. Ele acolhia as pessoas, dava lugar aos que não tinham lugar, era irmão para os que viviam isolados, denunciava as divisões que impediam a construção da paz: divisão entre próximo e não-próximo (Lc 10,29-37); entre pagão e judeu (Mt 15,28; cf. Lc 7,6); entre puro e impuro (Mt 23,23-24; Mc 7,13-23); entre pobres e exploradores (Lc 20,46–47; 22,25). Quando curava uma pessoa ou perdoava um pecador, dizia: “Vai em paz!” (Lc 7,50; 8,48; Mc 5,34). Quando, depois da ressurreição, aparecia aos discípulos, ele dizia: “A Paz esteja com vocês!” (Lc 24,30; Jo 20,19.26). Ele trouxe a paz que só Deus nos pode dar (Jo 14,27). É a paz fruto da justiça, fruto de longa luta e de muito sofrimento. Por isso disse em outro lugar que não veio trazer a paz, mas sim a espada e a divisão (Mt 10,34; Lc 12,51).
Jesus reforçava a vida em comunidade que é o fundamento da Paz, o lugar da reconstrução da Aliança. A Paz existe quando todos e todas são acolhidos como irmãos e irmãs, uns dos outros, todos sendo filhos e filhas do mesmo Pai. Jesus procurava reintegrar as pessoas marginalizadas na convivência humana (Mc 1,40-45). A Comunidade deve ser como o rosto de Deus, transformado em Boa Nova para o povo. Jesus era ecuménico e universal. Acolhia a todos: judeus, romanos, samaritanos, a mulher Cananeia.
Carlos Mesters, O. Carm.