Como dissemos anteriormente, a maior injustiça na época de Jesus era a falsa imagem de Deus que a religião oficial comunicava ao povo: um Deus severo, juiz que ameaçava com castigo e condenava. Por causa desta falsa imagem de Deus, a própria vida humana era falsificada e aparecia de um jeito que já não correspondia mais ao projeto de Deus. Em vez de abrir a porta do Reino, a religião parecia querer fechá-la. Jesus dizia: “Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem vocês entram, nem deixam entrar aqueles que o desejam” (Mt 25,13).
Jesus não aguentava esse tipo de religião que, em nome da lei de Deus mal interpretada, matava na alma do povo a alegria de viver. Ele não veio para condenar o mundo, mas sim para salvá-lo (Jo 12,47). Jesus anunciava a Boa Notícia de um Deus amoroso e solidário que acolhe e salva e não a notícia triste de um Deus severo que condena e castiga. Ele dizia: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,17). Jesus irradiava este amor solidário em atitudes bem concretas para com os pobres, os mansos, os aflitos, os que tinham fome e sede de justiça, os que buscavam ter misericórdia com os miseráveis, os que buscavam ver e experimentar a presença de Deus na vida, os que lutavam pela paz.
Por causa deste seu amor à justiça, Jesus foi criticado e perseguido. Quando perdoou o paralítico, foi criticado (Mc 2,6-7). Quando foi jantar na casa do publicano Levi, foi reprovado (Mc 2,16). Quando num sábado curou o cego de nascimento, foi denunciado (Jo 5,16). Quando comia sem lavar as mãos, era ridicularizado (Mt 15,2). Tentaram desmoralizá-lo dizendo que ele era um possesso (Mc 3,22), um comilão e beberrão (Mt 11,19), um louco (Mc 3,21), um pecador (Jo 9,24), um blasfemo (Mc 14,64). Quando Jesus desafiou as autoridades e dizia que a maneira de elas interpretarem a Lei de Deus era contrária à vontade de Deus, elas decidiram matá-lo (Mc 3,6).
Jesus sabia que não conseguiria mudar a cabeça dos líderes do povo. Sabia que a sua fidelidade ao Deus amoroso que acolhe a todos como filhos e filhas seria interpretada como heresia e que o seu destino seria prisão, tortura e morte de cruz. As profecias sobre o Servo de Javé não deixavam dúvida a este respeito (cf. Is 50,6; 53,3-10). Se quisesse, Jesus poderia ter escapado da morte. Mas Jesus não quis escapar. “Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade!” (Lc 22,42). Até o último respiro da sua vida, ele continuou revelando a face do Deus amor aos excluídos. Era esta sua obediência radical ao Pai, que o levava a desobedecer às autoridades religiosas do seu tempo.
Por este seu jeito de ser e pelo testemunho de sua vida, Jesus encarnava o amor de Deus e o revelava ao povo e aos discípulos (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). Revelando o Pai em gestos bem concretos, Jesus revelava ao mesmo tempo a podridão do sistema. Por isso era perseguido, mas mesmo perseguido, Jesus estava em paz. Esta atitude de paz frente à perseguição era o Reino Deus presente em Jesus. Ele queria que todos os perseguidos pudessem ter esta mesma experiência do Reino. Por isso dizia: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do céu!”
Foi esta a Boa Nova do amor solidário de Deus que Jesus viveu e irradiou durante os três anos que andou pela Galileia anunciando o Reino de Deus. Sua mensagem desagradou aos poderosos e eles o prenderam, condenaram e mataram na cruz. Mas Deus o ressuscitou, confirmando-o diante dos discípulos por meio de muitas aparições (1Cor 15,3-8). O resumo são as oito bem-aventuranças.
Carlos Mesters, O. Carm.
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