Que se saiba, nenhuma mulher negou – ou atraiçoou – Jesus. Até a esposa daquele que O condenou terá feito tudo para evitar a Sua morte (cf. Mt 27, 19). Pilatos, Herodes, Anás, Caifás, Judas Iscariotes, soldados. Só encontramos homens implicados na condenação de Jesus.
Mas se a morte é uma acção de homens, a notícia da Ressurreição começa por ser uma questão de mulheres. Aliás, o contraste já se verificara junto à Cruz. Além dos soldados (por motivos profissionais), o único homem a marcar presença foi o «Discípulo Amado» (cf. Jo 19, 25-26).
Também ao sepultamento de Jesus — feito por dois homens: José e Nicodemos (cf. Jo 19, 38-42) — apenas compareceram mulheres (cf. Mc 15, 47; Mt 27, 61; Lc 23, 55). Não espanta, assim, que as primeiras a visitar o sepulcro tenham sido igualmente as mulheres. Foi pelas mulheres que os discípulos souberam que a sepultura estava aberta (cf. Jo 20, 2). E foram as mulheres as primeiras a ver o Ressuscitado (cf. Mc 16, 9; cf. Mt 28, 9). É às mulheres que Jesus confia o encargo de anunciar a Ressurreição (cf. Jo 20, 18; Mt 28, 10). Sucede que os discípulos não acreditaram (cf. Mc 16, 11; Lc 24, 11), pelo que Jesus censura a sua incredulidade (cf. Mc 16, 14).
As mulheres foram as destinatárias da «protofania do Ressuscitado» e as protagonistas do «proto-anúncio da Ressurreição». Gregório de Antioquia, no século VI, detalha as palavras que Jesus lhes terá dirigido: «Anunciai aos Meus discípulos os mistérios que vistes. Tornai-vos os primeiros mestres dos mestres».
E Maria? Será que Jesus não Lhe apareceu? Não deixa de ser espantoso que um elenco tão pormenorizado como o de São Paulo — que chega a falar de uma aparição a mais de quinhentas pessoas (cf. 1Cor 15, 6) — tenha omitido a aparição à própria Mãe. Não falta, entretanto, quem garanta que foi mesmo a Maria que Jesus apareceu em primeiro lugar. Um autor do século V, chamado Sedúlio, assegura que o Ressuscitado mostrou-Se, antes de mais, à Sua Mãe. E São João Paulo II apresenta o motivo: «A ausência de Maria do grupo das mulheres que se dirige ao sepulcro pode constituir um indício de Ela já Se ter encontrado com Jesus».
Maria – proclamada feliz por ter acreditado (cf. Lc 1, 45) – sabia que não era no túmulo que Jesus Se encontrava. Ela manteve sempre viva a chama da fé, preparando-Se para acolher o anúncio jubiloso – e surpreendente – da Ressurreição!
João António Pinheiro Teixeira