Henri Nouwen recorda com emoção a primeira vez que, numa sinagoga de Nova York, foi testemunha da bênção de um filho judeu pelos seus pais: «Filho, aconteça o que te acontecer na vida, tenhas êxito ou não, chegues a ser importante ou não, gozes de saúde ou não, recorda sempre quanto te amam o teu pai e a tua mãe».
O ser humano contemporâneo ignora o que é a bênção e o sentido profundo que encerra. Os pais não mais bendizem os seus filhos. As bênçãos litúrgicas perderam o seu sabor original. Esqueceu-se que «bendizer» (do latim benedicere) significa literalmente «falar bem», dizer coisas boas a alguém. E, sobretudo, dizer-lhe o nosso amor e o nosso desejo de que seja feliz. Há entre nós demasiada condenação. Há muitos que se sentem amaldiçoados em vez de abençoados. Alguns maldizem-se, inclusive, a si mesmos. Sentem-se maus, inúteis, sem valor algum.
O que muitos necessitam de escutar hoje no íntimo de seu ser é uma palavra de bênção. Saber que são amados apesar da sua mediocridade e dos seus erros. Uma das maiores desgraças do cristianismo contemporâneo é ter esquecido, em boa parte, esta experiência nuclear da fé cristã: «Eu sou amado, não porque sou bom, santo e sem pecado, mas porque Deus é bom e me ama de maneira incondicional e gratuita em Jesus Cristo». Sou amado por Deus, agora mesmo, tal como sou, antes que comece a mudar.
Os evangelistas narram que Jesus, ao ser baptizado por João, escutou a bênção de Deus: «Tu és o meu Filho, muito amado». Também a nós essa bênção de Deus sobre Cristo nos alcança. Cada um de nós pode escutá-la no fundo do seu coração: «Tu és meu filho amado». Quando as coisas ficarem difíceis e a vida parecer insuportável, lembra-te sempre de que és amado com amor eterno.
J. A. Pagola (texto adaptado)