Os cristãos têm os pés na terra, mas o coração já no Céu
Estas duas celebrações litúrgicas (Solenidade de Todos os Santos e comemoração de todos os fiéis defuntos), oferecem-nos uma singular oportunidade para meditar sobre a vida eterna. O homem moderno ainda espera esta vida eterna, ou considera que ela pertence a uma mitologia já superada? Neste nosso tempo, mais do que no passado, estamos tão absorvidos pelas coisas terrenas, que às vezes temos dificuldade de pensar em Deus como protagonista da história e da nossa própria vida. Mas a existência humana, por sua natureza, está orientada para algo maior, que a transcende; no ser humano é insuprimível o anseio pela justiça, pela verdade e pela felicidade completa. Diante do enigma da morte, em muitos estão vivos o desejo e a esperança de voltar a encontrar no além os seus entes queridos. É também forte a convicção de um juízo final que restabeleça a justiça, a espera de um confronto definitivo em que a cada um seja dado quanto lhe é devido.
“Vida eterna”, para nós cristãos, não indica contudo somente uma vida que dura para sempre, mas sim uma nova qualidade de existência, plenamente imersa no amor de Deus, que liberta do mal e da morte e nos põe em comunhão infinita com todos os irmãos e irmãs que participam do mesmo Amor. Portanto, a eternidade pode estar já presente no centro da vida terrena e temporal, quando a alma, mediante a graça, está unida a Deus, seu derradeiro fundamento. Tudo passa, só Deus não muda. Um Salmo diz: “Ainda que o meu corpo e o meu coração desfaleçam, / Deus será sempre o meu refúgio e a minha herança” (Sl 73 [72], 26). Todos os cristãos, chamados à santidade, são homens e mulheres que vivem solidamente alicerçados naquela “Rocha”; têm os pés na terra, mas o coração já no Céu, morada definitiva dos amigos de Deus.
Bento XVI, Resumo do Angelus de 1 de Novembro de 2006