«Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Vazio é o culto que me prestam e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’». Assim disse Jesus. Palavras claras e fortes. Hipócrita é, por assim dizer, um dos adjectivos mais fortes que Jesus usa no Evangelho e pronuncia-o dirigindo-se aos mestres da religião: doutores da lei, escribas… “Hipócrita!”, diz Jesus.
De facto, Jesus quer sacudir os escribas e os fariseus do erro em que eles caíram, e qual é este erro? O de desvirtuar a vontade de Deus negligenciando os seus mandamentos para observar as tradições humanas. A reacção de Jesus é severa porque é grande o que está em jogo: trata-se da verdade da relação entre o homem e Deus, da autenticidade da vida religiosa. O hipócrita é um mentiroso, não é autêntico.
Também hoje o Senhor nos convida a fugir do perigo de dar mais importância à forma do que à substância. Ele nos chama a reconhecer, sempre de novo, aquele que é o verdadeiro centro da experiência da fé, isto é, o amor de Deus e o amor ao próximo, purificando-a da hipocrisia, do legalismo e do ritualismo.
“Não deixar-se contaminar por este mundo” não significa isolar-se e fechar-se à realidade. Não! Também aqui não deve ser uma atitude exterior, mas interior, de substância: significa vigiar para que o nosso modo de pensar e agir não seja contaminado pela mentalidade mundana, isto é, pela vaidade, pela avareza, pela soberba. Na realidade, um homem ou uma mulher, que vive na vaidade, na avareza, na soberba e ao mesmo tempo acredita e se mostra como religioso e até mesmo chega a condenar os outros, é um hipócrita.
Papa Francisco, Angelus, 2 de Setembro de 2018