Resumo da Carta do Prior Geral por ocasião da Solenidade de Nossa Senhora do Carmo de 2018

Queridos irmãos e irmãs da Família Carmelita.

Aproxima-se a Solenidade de Nossa Senhora do Carmo. Comemoramos a nossa Mãe e Irmã, a Domina loci (Senhora do lugar), que está no centro das nossas vidas e que nos inspira e anima a viver o nosso carisma carmelita ao serviço do Evangelho, do povo de Deus e de toda a humanidade.

Neste momento, a Igreja está a preparar-se através de uma série diversificada de iniciativas para a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tratará o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, e que terá lugar em Roma, em Outubro deste ano. Procura-se de diversos modos que a voz dos jovens chegue ao Sínodo, para que não seja unicamente uma Assembleia “sobre” eles, mas que também a opinião deles, as suas impressões, dúvidas e sonhos possam ser escutados pela Assembleia sinodal.

Também em Janeiro de 2019 terá lugar no Panamá a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A nossa Ordem tomará parte neste acontecimento eclesial como tem acontecido desde 2008, através de uma “jornada carmelita” que celebraremos em colaboração com os nossos irmãos Carmelitas Descalços.

Sem dúvida alguma, os dois acontecimentos recordam-nos a importância dos jovens para o presente e para o futuro da Igreja. Quero pedir-vos, em primeiro lugar, que tenhais muito presente esta intenção diante de Nossa Senhora do Carmo nas novenas, celebrações e pregações que terão lugar nestes dias de preparação para a sua festa. Maria, a jovem de Nazaré, soube acolher a missão que Deus lhe propôs com a generosidade e a coragem próprias dos jovens. Pedimos-lhe agora pelos nossos jovens para que saibam encontrar a beleza da fé, a formosura da vida cristã e o desafio e a aventura que implica o seguimento de Jesus Cristo num mundo em profunda e rápida mudança, complexo e fascinante como é o nosso actualmente.

Em segundo lugar, quero dirigir o mais cordial agradecimento a todos os carmelitas (religiosos, religiosas e leigos) que trabalham não só “para”, mas “com” os jovens. É uma pastoral que nem sempre é fácil; requer “estar”, “acompanhar”, “escutar” e “compartilhar”. É compreensível que se prefiram outras pastorais aparentemente mais gratificantes, mas, de qualquer modo, nenhuma Província ou entidade da Ordem deveria fechar-se a este ministério, para evitar, o que poderia considerar-se um verdadeiro “suicídio pastoral”. Que Maria Nossa Mãe, a Virgem do Monte Carmelo, símbolo da beleza, inspire os carmelitas que acompanham os jovens para que sejam capazes de transmitir a riqueza do nosso carisma e da nossa espiritualidade e lhes conceda a fidelidade necessária para continuar a caminhar com os jovens com criatividade e generosidade.

Em terceiro lugar, gostaria de destacar quanto o nosso carisma é adaptado aos jovens, e não somente porque valores como a relação pessoal com Deus, a profundidade espiritual, a sensibilidade, a beleza e a poesia, que sempre acompanharam o Carmelo, são valores que podem entusiasmar os nossos jovens, mas também porque o nosso carisma tem hoje algo de “contra cultural”. Numa sociedade que se caracteriza e promove o imediato, o superficial, o bombardeamento de informação desnecessária, as relações virtuais, o provisório… um apelo à vida interior, à profundidade, ao encontro pessoal com o Senhor, à redescoberta do tempo como kairós, à oração e à contemplação, pode ser revolucionário. Proponhamos isto aos jovens que encontramos no nosso caminho, sem complexos, sem nos sentirmos superiores, não como uma imposição arrogante nem como uma doutrinação, mas como uma oferta simples e afectuosa.

O tema escolhido pelo Papa Francisco para o Sínodo inclui também o aspecto vocacional. Em muitas partes do mundo, o Carmelo continua a receber muitas vocações para a vida consagrada, mas noutras (por motivos complexos que não podemos analisar aqui), encontramo-nos numa séria e preocupante crise vocacional. Com a sabedoria do discernimento, com a humildade de reconhecer eventuais erros, mas sem nos abandonarmos a um pessimismo desesperante, com a responsabilidade de saber que o Senhor chama através de nós e tendo Maria como modelo de escuta e de resposta generosa ao chamamento de Deus…, comprometamo-nos com a pastoral vocacional que pretende ajudar os jovens a discernir a sua vocação (seja qual for) e a vivê-la com generosidade e alegria.

Finalmente, desejo que estes acontecimentos eclesiais nos ajudem também a rejuvenescer. Não me refiro à juventude cosmética, superficial e muitas vezes ridícula que o mundo idolatra. A nossa sociedade despreza a velhice e, por isso, procuramos disfarçar-nos de jovens, negando a nossa idade e não aceitando a realidade. Não me refiro a nada disso. Falo de “rejuvenescer” no sentido de que devemos olhar com esperança o futuro, não nos instalando em discursos pessimistas e derrotistas, fugindo da esclerose da rotina e dos nosso preconceitos. Se olharmos o futuro com esperança, entusiasmo e confiança no Senhor, por muitos que sejam os anos que apareçam no nosso bilhete de identidade, manter-nos-emos jovens!

Gostaria, finalmente, de partilhar convosco dois acontecimentos curiosos que, na sua simplicidade, não deixam de ser significativos e motivo de alegria para toda a Família do Carmelo. Em primeiro lugar, quero destacar que, em Manila, se têm vindo a celebrar, ao longo deste ano, os 400 anos da chegada às Filipinas da primeira imagem de Nossa Senhora do Carmo.

O segundo acontecimento que quero destacar é que, no próximo dia 28 de Julho, será coroada canonicamente a imagem de Nossa Senhora do Carmo da localidade de Rute (Córdoba, Espanha), de quem é Padroeira. Esta formosa imagem, dos finais do século XVII, gozou durante séculos da veneração e da devoção de tantos fiéis. A coroação de uma imagem de Nossa Senhora não a afasta de nós, nem é uma coisa anacrónica que deforma a sua beleza evangélica. A coroação de Maria é um sinal de esperança para toda a humanidade, uma vez que nela (a mulher simples de Nazaré, nossa irmã), Deus coroa a humanidade redimida. Maria converte-se – como proclama o prefácio do dia da Assunção – em “figura e primícia da Igreja, garante de consolo e esperança para o teu povo ainda peregrino na terra”. 

Que todos nós, membros da família carmelita no mundo inteiro, continuemos a coroar Nossa Senhora do Carmo na vida quotidiana, vivendo como Ela na abertura e escuta da Palavra de Deus e no serviço aos mais necessitados e últimos do nosso tempo.  

Muitas felicidades para todos. Que a Solenidade de Nossa Senhora do Carmo seja um verdadeiro tempo de graça, de devoção, de fé e de conversão.

Com afecto fraternal,

Fernando Millán Romeral, O. Carm.

Prior Geral

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