Ano da Fé – LV

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A Igreja, Corpo de Cristo

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje medito sobre uma outra expressão com que o Concílio Vaticano II indica a natureza da Igreja: a do corpo; o Concilio afirma que a Igreja é o Corpo de Cristo (cf. Lumen gentium, 7).

Gostaria de começar a partir de um texto dos Actos dos Apóstolos, que nós conhecemos bem: a conversão de Saulo, que depois se chamará Paulo, um dos maiores evangelizadores (cf. At 9, 4-5). Saulo é um perseguidor dos cristãos, mas enquanto percorre o caminho que leva à cidade de Damasco, é repentinamente envolvido por uma luz, cai no chão e ouve uma voz que lhe diz: «Saulo, Saulo, por que me persegues?». Ele pergunta: «Quem és, ó Senhor?», e aquela voz responde: «Sou Jesus, a quem tu persegues» (vv. 3-5). Esta experiência de São Paulo revela-nos como é profunda a união entre nós, cristãos, e o próprio Cristo. Quando Jesus subiu ao céu, não nos deixou órfãos, mas com o dom do Espírito Santo a união com Ele tornou-se ainda mais intensa. O Concílio Vaticano II afirma que, «comunicando o seu Espírito, [Jesus] fez misteriosamente de todos os seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o seu próprio Corpo» (Const. Dogm. Lumen gentium, 7).

A imagem do corpo ajuda-nos a compreender este profundo vínculo Igreja-Cristo, que são Paulo desenvolveu de modo particular na Primeira Carta aos Coríntios (cf. cap. 12). Antes de tudo, o corpo chama-nos a uma realidade viva. A Igreja não é uma associação assistencial, cultural ou política, mas sim um corpo vivo, que caminha e age na história. E este corpo tem uma cabeça que o guia, alimenta e sustém. Este é um ponto que eu gostaria de frisar: se separarmos a cabeça do resto do corpo, a pessoa inteira não consegue sobreviver. Assim é na Igreja: devemos permanecer ligados de modo cada vez mais intenso a Jesus. Mas não só: como num corpo é importante que passe a linfa vital porque está viva, assim também devemos permitir que Jesus aja em nós, que a sua Palavra nos oriente, que a sua presença eucarística nos alimente e nos anime, que o seu amor infunda força no nosso amor ao próximo. E isto sempre! Sempre, sempre! Estimados irmãos e irmãs, permaneçamos unidos a Jesus, confiemos nele, orientemos a nossa vida segundo o seu Evangelho, alimentemo-nos com a oração quotidiana, com a escuta da Palavra de Deus e com a participação nos Sacramentos.

E chegamos assim a um segundo aspecto da Igreja como Corpo de Cristo. São Paulo afirma que, assim como os membros do corpo humano, embora sejam diferentes e numerosos, formam um único corpo, do mesmo modo todos nós fomos baptizados mediante um só Espírito, num único corpo (cf. 1 Cor 12, 12-13). Portanto, na Igreja existe uma variedade, uma diversidade de tarefas e de funções; não há uma uniformidade plana, mas a riqueza dos dons distribuídos pelo Espírito Santo. Há comunhão e unidade: todos estão em relação uns com os outros, e todos concorrem para formar um único corpo vital, profundamente ligado a Cristo. Recordemo-lo bem: fazer parte da Igreja quer dizer estar unido a Cristo e receber dele a vida divina que nos faz viver como cristãos, significa permanecer unido ao Papa e aos Bispos, que são instrumentos de unidade e de comunhão, e quer dizer também aprender a superar personalismos e divisões, a entender-se em maior medida uns aos outros, a harmonizar as variedades e as riquezas de cada um; em síntese, a amar mais Deus e as pessoas que estão ao nosso redor, em família, na paróquia e nas associações. Para viver, corpo e membros devem estar unidos! A unidade é superior aos conflitos, sempre! Se não se resolvem bem, os conflitos separam-nos uns dos outros, afastam-nos de Deus. O conflito pode ajudar-nos a crescer, mas também pode dividir-nos. Não percorramos o caminho das divisões, das lutas entre nós!

Todos unidos, todos unidos com as nossas diferenças, mas sempre unidos: este é o caminho de Jesus. A unidade é superior aos conflitos. A unidade é uma graça que devemos pedir ao Senhor, a fim de que nos liberte das tentações da divisão, das lutas entre nós, dos egoísmos e dos mexericos. Quanto mal fazem as bisbilhotices! Nunca murmuremos dos outros, jamais! Quanto dano causam à Igreja as divisões entre os cristãos, o partidarismo, os interesses mesquinhos!

As divisões entre nós, mas também entre as comunidades: cristãos evangélicos, cristãos ortodoxos e cristãos católicos, mas por que motivo divididos? Devemos procurar promover a unidade. Digo-vos uma coisa: hoje, antes de sair de casa, passei mais ou menos quarenta minutos, ou meia hora, com um Pastor evangélico e pudemos rezar juntos, procurando a unidade. Mas devemos rezar entre nós, católicos, e também com os outros cristãos; orar para que o Senhor nos conceda a unidade, a unidade entre nós. Mas como teremos a unidade entre os cristãos, se não somos capazes de a ter entre nós, católicos? De a ter em família? Quantas famílias lutam e se dividem! Procurai a unidade, a unidade que faz a Igreja. A unidade vem de Jesus Cristo. Ele envia-nos o Espírito Santo para realizar a unidade.

Estimados irmãos e irmãs, peçamos a Deus: ajudai-nos a ser membros do Corpo da Igreja, sempre profundamente unidos a Cristo; ajudai-nos a não fazer com com que o Corpo da Igreja sofra devido aos nossos conflitos, às nossas divisões e aos nossos egoísmos; ajudai-nos a ser membros vivos, ligados uns aos outros por uma única força, a do amor, que o Espírito Santo derrama nos nossos corações (cf. Rm 5, 5).

Papa Francisco

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Ano da Fé – LIV

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A Igreja, povo de Deus

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de meditar brevemente sobre outra expressão com a qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja: «Povo de Deus» (cf. Constituição dogmática Lumen Gentium 9; Catecismo da Igreja Católica, nº 782). E faço-o mediante algumas perguntas, acerca das quais cada um poderá reflectir.

O que quer dizer ser «Povo de Deus»? Antes de tudo, significa que Deus não pertence de modo próprio a qualquer povo, pois é Ele que nos chama, que nos convoca, que nos convida a fazer parte do seu povo, e este convite é dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus «deseja que todos os homens se salvem» (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós que formemos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e ensinai todas as nações (cf. Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, «Já não há judeu nem grego… pois todos vós sois um só em Cristo Jesus» (Gl 3, 28). Gostaria de dizer inclusive àqueles que se sentem distantes de Deus e da Igreja, a quem é medroso ou indiferente, a quantos pensam que já não podem mudar: o Senhor chama-te, também a ti, a fazer parte do seu povo, e fá-lo com grande respeito e amor! Ele convida-nos a fazer parte deste povo, do povo de Deus.

Como nos tornamos membros deste povo? Não é através do nascimento físico, mas mediante um novo nascimento. No Evangelho, Jesus diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus (cf. Jo 3, 3-5). É através do Baptismo que nós somos introduzidos neste povo, mediante a fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e desenvolver-se em toda a nossa vida. Perguntemo-nos: como faço crescer a fé que recebi no meu Baptismo? Como faço crescer esta fé que recebi e que o povo de Deus possui?

Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo, segundo o mandamento novo que o Senhor nos deixou (cf. Jo 13, 34). Mas trata-se de um amor que não é sentimentalismo estéril, nem algo de vago, mas sim o reconhecimento de Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, o acolhimento do outro como verdadeiro irmão, superando divisões, rivalidades, incompreensões e egoísmos; são dois elementos que caminham juntos. Quanto caminho ainda temos que percorrer, para viver concretamente esta nova lei, a do Espírito Santo que age em nós, a da caridade, do amor! Lemos nos jornais ou vemos na televisão que há muitas guerras entre cristãos; como pode acontecer isto? Quantas guerras no seio do povo de Deus! Nos bairros, nos lugares de trabalho, quantas guerras por inveja, ciúmes! Até na mesma família, quantas guerras internas! Devemos pedir ao Senhor que nos faça compreender bem esta lei do amor. Como é bom amar-nos uns aos outros, como verdadeiros irmãos. Como é bom! Hoje façamos algo. Talvez todos nós tenhamos simpatias e antipatias; talvez muitos de nós tenhamos um pouco de raiva a alguém; então, digamos ao Senhor: Senhor, estou enraivecido com ele ou com ela; rezo a Ti por ele e por ela. Orar por aqueles com os quais estamos irados é um bom passo em frente nesta lei do amor. Façamo-lo? Façamo-lo, hoje mesmo!

Que missão tem este povo? A missão de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz levedar toda a massa, sal que dá sabor e que preserva da corrupção, ser luz que ilumina. Ao nosso redor, é suficiente ler um jornal — como eu disse — para ver que a presença do mal existe, que o Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vós acreditais nisto, que Deus é mais forte? Então digamo-lo juntos, digamo-lo todos juntos: Deus é mais forte! E sabeis por que motivo é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor! E gostaria de acrescentar também que a realidade às vezes obscura, marcada pelo mal, pode mudar, se formos os primeiros a transmitir a luz do Evangelho, principalmente através da nossa própria vida. Se num estádio, pensemos aqui em Roma no Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, numa noite escura, uma pessoa acende uma luz, mal se entrevê; mas se os mais de setenta mil espectadores acendem a própria luz, o estádio ilumina-se. Façamos com que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos, levaremos a luz do Evangelho a toda a realidade.

Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o Reino de Deus, encetado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até ao seu cumprimento, quando voltar Cristo, nossa vida (cf. Lumen gentium, 9). Então, a finalidade é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor incomensurável, uma alegria plena.

Estimados irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio de amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, significa anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de respostas que animem, que infundam esperança e que dêem um vigor renovado ao caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada qual possa sentir-se acolhido, amado, perdoado e encorajado a viver em conformidade com a vida boa do Evangelho. E para fazer com que o outro se sinta acolhido, amado, perdoado e encorajado, a Igreja deve manter as suas portas abertas, a fim de que todos possam entrar. E nós temos que sair através de tais portas e anunciar o Evangelho.

 

Papa Francisco

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Ano da Fé – LIII

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A Igreja, família de Deus

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Na quarta-feira passada sublinhei o vínculo profundo entre o Espírito Santo e a Igreja. Hoje, gostaria de encetar algumas catequeses sobre o mistério da Igreja, mistério que todos nós vivemos e do qual fazemos parte. Gostaria de o fazer com expressões bem presentes nos textos do Concílio Vaticano II. Hoje, a primeira: a Igreja como família de Deus.

Durante estes meses, referi-me várias vezes à parábola do filho pródigo, ou melhor, do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32). O filho mais jovem deixa a casa do pai, esbanja tudo e decide voltar para casa, porque se dá conta de ter errado, mas não se considera digno de ser filho, e pensa que pode ser acolhido de novo, mas como servo. O pai, ao contrário, corre ao seu encontro, abraça-o, restitui-lhe a dignidade de filho e faz festa. Esta parábola, como outras no Evangelho, indica bem o desígnio de Deus sobre a humanidade.

Em que consiste este desígnio de Deus? Em fazer de todos nós uma única família dos seus filhos, na qual cada um o sinta próximo e amado por Ele, como na parábola evangélica, sentindo o entusiasmo de ser família de Deus. É neste grande desígnio que a Igreja encontra a sua raiz, a qual não é uma organização derivada de um acordo entre algumas pessoas, mas — como nos recordou tantas vezes o Papa Bento XVI — é obra de Deus, nasce precisamente deste desígnio de amor que se realiza progressivamente na história. A Igreja nasce do desejo de Deus de chamar todos os homens à comunhão com Ele, à sua amizade, aliás, como seus filhos, a participar na sua vida divina. A própria palavra «Igreja», do grego ekklesia, significa «convocação»: Deus convoca-nos, impele-nos a sair do individualismo, da tendência de nos fecharmos em nós mesmos, e chama-nos a fazer parte da sua família. E este chamamento encontra a sua origem na própria criação. Deus criou-nos para que vivamos numa relação de profunda amizade com Ele, e até quando o pecado interrompeu esta relação com Ele, com os outros e com a criação, Deus não nos abandonou. Toda a história da salvação é a história de Deus que se põe em busca do homem, que lhe oferece o seu amor e o acolhe. Chamou Abraão para ser pai de uma multidão; escolheu o povo de Israel para estabelecer uma aliança que abranja todos os povos e, na plenitude dos tempos, enviou o seu Filho para que o seu desígnio de amor e de salvação se realize numa aliança nova e eterna com a humanidade inteira. Quando lemos os Evangelhos, vemos que Jesus reúne ao seu redor uma pequena comunidade que acolhe a sua palavra, que a segue, compartilha o seu caminho tornando-se a sua família e, com esta comunidade, prepara e constrói a sua Igreja.

Então, de onde nasce a Igreja? Nasce do gesto supremo de amor da Cruz, do lado aberto de Jesus, de onde jorram sangue e água, símbolo dos Sacramentos da Eucaristia e do Baptismo. Na família de Deus, na Igreja, a linfa vital é o amor de Deus que se concretiza no amor a Ele e ao próximo, a todos, sem distinções nem medida. A Igreja é família na qual amamos e somos amados.

Quando se manifesta a Igreja? Pudemos celebrá-la há dois domingos; ela manifesta-se quando o dom do Espírito Santo enche o coração dos Apóstolos, impelindo-os a sair e a começar a percorrer o caminho para anunciar o Evangelho, para difundir o amor de Deus.

Ainda hoje alguns dizem: «Cristo sim, a Igreja não». Como aqueles que dizem: «Creio em Deus, mas não nos sacerdotes». Mas é precisamente a Igreja que nos traz Cristo e que nos leva a Deus; a Igreja é a grande família dos filhos de Deus. Sem dúvida, ela também tem aspectos humanos; naqueles que a compõem, Pastores e fiéis, existem defeitos, imperfeições e pecados; até o Papa os tem, e tem tantos, mas é bom saber que quando nos damos conta que somos pecadores, encontramos a misericórdia de Deus, que perdoa sempre. Não o esqueçais: Deus perdoa sempre e recebe-nos no seu amor de perdão e de misericórdia. Alguns dizem que o pecado é uma ofensa a Deus, mas é também uma oportunidade de humilhação, para nos darmos conta de que existe algo melhor: a misericórdia de Deus. Pensemos nisto.

Interroguemo-nos hoje: quanto amo a Igreja? Rezo por ela? Sinto-me parte da família da Igreja? O que faço para que ela seja uma comunidade na qual cada um se sinta acolhido e compreendido, sinta a misericórdia e o amor de Deus que renova a vida? A fé é um dom e um acto que nos diz respeito pessoalmente, mas Deus chama-nos a viver juntos a nossa fé, como família, como Igreja.

Peçamos ao Senhor, de modo totalmente especial neste Ano da Fé que as nossas comunidades, a Igreja inteira, sejam famílias cada vez mais autênticas, que vivem e transmitem o entusiasmo de Deus.

Papa Francisco

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Ano da Fé – LII

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Nomes dados à Igreja

O mistério da Igreja não se deixa encerrar nos termos de uma definição. As imagens e os nomes que, na Bíblia, servem para a evocar e que o Vaticano II lembra são um bom guia para aprender a sua riqueza. Estas imagens são múltiplas. Nenhuma tem a pretensão de exprimir a totalidade do mistério. Cada uma delas sublinha um aspecto. O que importa é combiná-las umas com as outras, sem se limitar a uma só.

Algumas destas imagens têm origem na vida pastoril: a Igreja é então o aprisco cuja porta é Cristo, ou ainda o rebanho, do qual Cristo é o verdadeiro pastor. Esta imagem permite a Jesus falar de outras ovelhas que lhe pertencem mas que não são deste redil: é preciso que ele as traga também (cf. Jo 10, 1-16). Outras imagens são tiradas da vida do campo. A Igreja é então o terreno no qual é espalhada a semente, o campo cultivado de Deus (cf. 1Cor 3, 9) ou ainda a vinha que ele plantou (cf. Mt 21, 33-43).

Várias imagens andam à volta da ideia de construção ou de habitação. A Igreja é chamada edifício de Deus (cf. 1Cor 3, 9), a casa de Deus (cf 1Tm 3, 15) ou o templo santo (cf Ef 2, 21). Deste edifício Cristo é a pedra angular; os crentes tornados templos do Espírito, são integrados nele como pedras vivas.

A Igreja pode também ser chamada a família de Deus (cf. Ef 2, 19). Ela chama-se também “a Jerusalém do alto” e “nossa mãe” (Gal 4, 26; cf. Ap 12, 17); e é descrita como a esposa imaculada a quem Cristo amou e por ela se entregou para a santificar (cf. Ap 21, 2; Ef 5, 26).

Achas, portanto, que as fraquezas da Igreja fariam com que Cristo a abandonasse? Abandonar a Igreja seria o mesmo que abandonar o Seu próprio corpo (D. Hélder Câmara).

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Ano da Fé – LI

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A comunidade cristã

O Espírito Santo reúne os crentes na Igreja. O amor do Pai, revelado pelo Filho, morto e ressuscitado, é comunicado aos discípulos, que se tornam a família de Deus, enviada a todo o mundo como sinal palpável da Sua proximidade. No próprio dia do Pentecostes forma-se a primeira comunidade cristã, a de Jerusalém, mãe e modelo de todas as que lhe seguiram. Os crentes são “assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações” (Act 2, 42). Escutam e meditam a palavra de Deus. Louvam e agradecem continuamente ao Senhor, suplicam a Sua ajuda nas dificuldades. Celebram, na Eucaristia, o mistério da morte e da ressurreição de Cristo, realizando o gesto por Ele realizado na Última Ceia. Sentem-se bem em estar juntos; encarregam-se dos serviços necessários; partilham os bens materiais, com liberdade e generosidade, continuando a experiência já feita por alguns com Jesus. Levam para toda a parte o seu testemunho corajoso, provocando a simpatia do povo, apesar da hostilidade da classe dirigente. Trata-se de uma experiência histórica irrepetível em que se delineia a figura essencial de toda a verdadeira comunidade cristã: comunidade concreta de crentes em Cristo, homens e mulheres de carne e osso, santos e pecadores, reunidos sob a orientação dos pastores, na partilha dos bens materiais e espirituais, onde o mistério pascal do Senhor é proclamado pela pregação, concretizado na Eucaristia e vivido na caridade..

Para ser reconhecível como sinal diante do mundo, a Igreja deve possuir uma identidade visível bem determinada; deve configurar-se como comunidade de fé, de culto e, sobretudo, de relações fraternas: “É por isso que todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).

A Igreja é uma mulher de idade muito avançada, com muitas rugas. Mas é a minha mãe. E numa mãe não se bate (Karl Rahner).

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Ano da Fé – L

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Orações ao Espírito Santo

– Ó Espírito Santo, alma de minha alma, eu vos adoro, esclarecei-me, guiai-me, fortificai-me, consolai-me, aconselhai-me, ensinai-me o que devo fazer, dai-me as vossas ordens, eu prometo submeter-me a tudo o que desejardes de mim e a aceitar tudo o que permitirdes que me aconteça, fazei-me conhecer somente a vossa vontade!

Divino Espírito Santo, força da nossa fraqueza, auxílio do nosso nada, sabedoria da nossa ignorância, tende compaixão de nós. Sede a minha luz, sede a minha força, sede o meu amor. Vinde, vivei em mim e transformai-me.

– Ó Espírito Santo, amor do Pai e do Filho, inspirai-me sempre: o que devo pensar, o que devo dizer, o que devo calar, o que devo escrever, como devo agir, aquilo que devo fazer, para alcançar a Vossa glória, a salvação das almas e minha própria santificação. Amen.

Espírito Santo, Deus de Amor, concede-me: uma inteligência que Te conheça; uma angústia que Te procure; uma sabedoria que Te encontre; uma perseverança que, enfim, Te possua. Amen.

– Espírito Santo de Deus, consagro-Te hoje todo o meu ser, vontade, inteligência, memória, imaginação e afectividade. Conduz-me pelos Teus caminhos, guia-me com a Tua sabedoria para a vida plena de Jesus. Cria em mim um coração puro e humilde, mas que tenha a ousadia e o ardor dos mártires. Enche-me com os Teus dons, santifica-me com os Teus frutos. Restaura todo o meu viver, para que eu seja um canal do Teu amor. Amen.

Vem, Espírito Santo, e renova em mim a chama do Teu amor. Enche-me da fé, e revela com a Tua luz todos os meus pecados e traumas. Liberta-me, Espírito Santo, e faz de mim uma nova criatura. Santifica o meu espírito e alma, renovando também todo o meu ser, emoções, mente, ouvidos, olhos, lábios e actos. Capacita-me a viver a Palavra de Jesus Cristo em toda a sua profundidade. E agora, Espírito Santo, dá-me os Teus dons para que eu possa servir melhor o Reino de Deus, amando, indistintamente, todos os meus irmãos. Mas, acima de tudo, derrama o dom do louvor, para que, em tudo e por tudo, eu glorifique o Senhor Nosso Deus. Amen.

 

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Ano da Fé – XLVIII

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Creio no Espírito Santo – I

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O tempo pascal, que com alegria estamos a viver guiados pela liturgia da Igreja, é por excelência o tempo do Espírito Santo doado «sem medida» (cf. Jo 3, 34) por Jesus crucificado e ressuscitado. Este tempo de graça concluir-se-á com a festa do Pentecostes, na qual a Igreja revive a efusão do Espírito sobre Maria e os Apóstolos reunidos em oração no Cenáculo.

Mas quem é o Espírito Santo? No Credo professamos com fé: «Creio no Espírito Santo que é Senhor e dá a vida». A primeira verdade à qual aderimos no Credo é que o Espírito Santo é Kyrios, Senhor. Isto significa que Ele é verdadeiramente Deus como o Pai e o Filho, objecto do mesmo acto de adoração e glorificação que dirigimos ao Pai e ao Filho. De facto, o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade; é o grande dom de Cristo Ressuscitado que abre a nossa mente e o nosso coração à fé em Jesus como o Filho enviado pelo Pai e que nos guia para a amizade e a comunhão com Deus.

Mas gostaria de reflectir principalmente sobre o facto de que o Espírito Santo é a fonte inesgotável da vida de Deus em nós. O homem de todos os tempos e lugares deseja uma vida plena e boa, justa e serena, uma vida que não seja ameaçada pela morte, mas que possa amadurecer e crescer até à sua plenitude. O homem é como um viajante que, ao atravessar os desertos da vida, tem sede de água viva, jorrante e fresca, capaz de saciar profundamente o seu desejo de luz, amor, beleza e paz. Todos nós sentimos este desejo! E Jesus doa-nos esta água viva: ela é o Espírito Santo, que procede do Pai e que Jesus derrama nos nossos corações. «Vim para que tenhais vida e vida em abundância», diz-nos Jesus (Jo 10, 10).

Jesus promete à Samaritana que dará a «água viva», em abundância e para sempre, a todos aqueles que o reconhecerem como o Filho enviado pelo Pai para nos salvar (cf. Jo 4, 5-26; 3, 17). Jesus veio para nos dar esta «água viva» que é o Espírito Santo, para que a nossa vida seja guiada, animada e alimentada por Deus. Quando dizemos que o cristão é um homem espiritual entendemos precisamente isto: é uma pessoa que pensa e age em conformidade com Deus, segundo o Espírito Santo. Mas pergunto-me: e nós, pensamos segundo Deus? Agimos em conformidade com Deus? Ou deixamo-nos guiar por muitas outras coisas que não são propriamente Deus? Cada um deve responder a isto no profundo do seu coração.

Nesta altura podemos perguntar-nos: por que esta água pode saciar-nos profundamente? Sabemos que a água é essencial para a vida; sem água morremos; ela sacia, purifica e torna a terra fecunda. Na Carta aos Romanos encontramos esta expressão: «O amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo, que nos foi concedido» (5, 5). A «água viva», o Espírito Santo, Dom do Ressuscitado que passa a habitar em nós, purifica-nos, ilumina-nos, renova-nos e transforma-nos porque nos torna partícipes da própria vida de Deus que é Amor. Por isso, o Apóstolo Paulo afirma que a vida do cristão é animada pelo Espírito e pelos seus frutos, que são «caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança» (Gl 5, 22-23). O Espírito Santo introduz-nos na vida divina como «filhos no Filho Unigénito». Noutro trecho da Carta aos Romanos, que recordámos várias vezes, são Paulo sintetiza-o com estas palavras: «Na verdade, todos aqueles que são movidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão, para cair de novo no temor; recebestes, pelo contrário, um espírito de adopção, pelo qual chamamos: “Abba, Pai”. O próprio Espírito atesta em união com o nosso espírito que somos filhos de Deus; filhos e igualmente herdeiros – herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo – se sofremos com Ele, é para sermos também glorificados com Ele» (8, 14-17). Este é o dom precioso que o Espírito Santo derrama nos nossos corações: a própria vida de Deus, vida de filhos verdadeiros, uma relação de intimidade, liberdade e confiança no amor e na misericórdia de Deus, que tem como efeito também um olhar novo para os outros, próximos e distantes, vistos sempre como irmãos e irmãs em Jesus, que devem ser respeitados e amados. O Espírito Santo ensina-nos a ver com os olhos de Cristo, a viver e a compreender a vida como Ele o fez . Eis por que a água viva que é o Espírito Santo sacia a nossa vida, porque nos diz que somos amados por Deus como filhos, que podemos amar Deus como seus filhos e com a sua graça podemos viver como filhos de Deus, como Jesus. E nós, escutamos o Espírito Santo? O que nos diz? Diz-nos: Deus ama-te. É o que nos diz. Deus ama-te, gosta de ti. Nós amamos deveras Deus e os outros, como Jesus? Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, permitamos que Ele nos fale ao coração e nos diga: Deus é amor, Deus espera-nos, Deus é Pai, ama-nos como verdadeiro pai, ama-nos verdadeiramente e só o Espírito Santo diz isto ao nosso coração. Ouçamos o Espírito Santo, escutemos o Espírito Santo e vamos em frente por este caminho de amor, misericórdia e perdão. Obrigado!

Papa Francisco

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Ano da Fé – XLVII

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A ressurreição de Jesus – II

É a partir do testemunho e da fé dos apóstolos que nós acreditamos na ressurreição de Jesus: “Este Jesus, Deus ressuscitou-o: e disso todos nós somos testemunhas” (Act 2, 32). Hoje nós acreditamos sem ter visto. Os apóstolos, esses, viram e acreditaram. Por terem visto, eles podem atestar o acontecimento da ressurreição e dar testemunho que o Ressuscitado é, de facto, Jesus de Nazaré. Mas, se eles viram, foi para que nós pudéssemos acreditar, graças ao seu testemunho.

A ressurreição é a resposta amorosa de Deus ao amor filial e fiel de Jesus, mostrando quem era o inocente e quem eram os pecadores. Pela ressurreição Deus confirmou os actos e as palavras de Jesus bem como a autoridade que ele se tinha atribuído. Manifestou que em Jesus o Reino chegou, que Aliança Nova foi selada e que Jesus é o Messias prometido, o Ungido do Senhor. Nele as promessas de Deus estão realizadas. A ressurreição é a chegada de um mundo novo anunciado pelos profetas.

A ressurreição não constituiu simplesmente um triunfo para Jesus, mas é causa da nossa salvação: “foi ressuscitado para nossa justificação” (Rom 4, 25). Recebeu o poder divino de dar a vida e tornou-se o fundador da nova humanidade, o novo Adão, que nos faz renascer como filhos de Deus e conduz o mundo à sua perfeição. A vitória sobre o mal é certa. A história encaminha-se para a salvação; a última palavra pertence à graça de Deus. Devemos sacudir de nós a tristeza e a resignação, para nos abrirmos à coragem da esperança.

O acontecimento da morte e da ressurreição de Cristo é o coração do Cristianismo, o ponto central e fundamental da nossa fé, o poderoso impulso da nossa certeza, o vento forte que afugenta toda a angústia e incerteza, a dúvida e o calculismo humano (Bento XVI).

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Ano da Fé – XLVI

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A ressurreição de Jesus – I

A ressurreição de Jesus é o fundamento e o objecto por excelência da fé e da esperança cristãs. “Se Cristo não ressuscitou, não tem sentido a nossa pregação e também não tem sentido a vossa fé” – declara São Paulo (1Cor 15, 14). Os cristãos estão encarregados, no seguimento dos Apóstolos, a anunciar ao mundo esta “boa nova”: Cristo ressuscitou!

Ninguém assistiu à ressurreição de Jesus. Ela foi anunciada, primeiro, por um mensageiro de Deus, um anjo, que disse às mulheres: “Não tenhais medo; sei que procurais Jesus, o Crucificado. Não está aqui: ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver o lugar onde jazia. Mas ide depressa dizer aos seus discípulos: ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis!” (Mt 28, 5-7). No primeiro dia da semana, elas foram as primeiras a vir ao túmulo e a encontrá-lo vazio; foram elas as primeiras a receber o anúncio da ressurreição.

Se ninguém assistiu à saída do túmulo, Jesus ressuscitado deu-se a ver “às testemunhas que Deus tinha antecipadamente escolhido” – como Pedro o declarará em casa de Cornélio – : “a nós que comemos e bebemos com ele depois da sua ressurreição de entre os mortos” (Act 10, 41). Os discípulos de Jesus não cessaram de atestar com força e perseverança, e mesmo com perigo da própria vida, terem visto Jesus vivo.

A ressurreição de Jesus não é um regresso ao modo de vida anterior – o nosso – estabelecido sob a lei da morte. Deste ponto de vista a ressurreição de Jesus difere radicalmente de uma ressurreição provisória, como a de Lázaro, ou a de qualquer outra pessoa, realizada por Jesus. “Ressuscitado dos mortos, Cristo já não pode morrer; a morte já não tem domínio sobre ele”(Rm 6, 9).

É sempre por iniciativa gratuita da sua parte que Jesus, do lado de lá da morte, torna o seu corpo visível a homens e mulheres que não são ressuscitados. Os relatos das aparições insistem fortemente sobre a originalidade absoluta da presença de Jesus. Ele torna-se presente e desaparece de uma maneira nova, diferente das maneiras anteriores de se encontrar com as pessoas e, todavia, é sempre ele! Deste modo os discípulos poderão atestar, de geração em geração, a identidade entre o Crucificado e o Ressuscitado.

Quem compreende a Páscoa não desespera (Dietrich Bonhoeffer).

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Ano da Fé – XLIV

The-Entombment

A descida aos infernos

Conforme afirma a fé da Igreja formulada no “Credo apostólico”, Jesus ao morrer “desceu aos infernos”. O que significa esta expressão um tanto obscura? Os infernos são a morada simbólica dos defuntos. No tempo de Jesus considerava-se que aí havia lugares e condições diferentes para os justos e para os maus, enquanto uns e outros esperavam a recompensa plena no juízo final.

Jesus foi ter com os mortos “pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte” (1Pe 3, 1; Ef 4, 9-10) e em seguida ressuscitou dos mortos. Foi ao encontro dos mortos como Salvador, levou-lhes os benefícios da sua morte redentora. O sentido desta fé neotestamentária resume-se em três afirmações: Jesus morreu de verdade; a sua morte redentora tem valor salvífico para todos os homens, mesmo para os que viveram antes dele; o seu encontro com os justos, que já tinham morrido, comunica-lhes a plenitude da comunhão com Deus. Definitivamente, a descida aos infernos, mais do que a sujeição à morte, é vitória sobre ela.

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