O amor maduro

Toda a gente usa a palavra “amor”. Mas tantas vezes abusa! Estamos sempre a cair na conta de que não estamos a falar do mesmo. Pode dizer-se que, muito para além das simpatias e das antipatias, o amor adulto é querer e fazer o bem do outro. E isso exige três coisas: ser inteligente, ser gratuito e ser eficaz! Inteligente para perceber bem do que o outro precisa: que lhe fale, que me cale, que exija, peça, dê… Gratuito, porque a busca da retribuição tira a liberdade ao outro, compra-o! Eficaz, porque só com intenções o mundo não cresce, confunde-se e decresce.

Vasco P. Magalhães, sj

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A bênção de Maria chama-se Jesus

Solenidade de Nossa Senhora de Fátima

Homilia da Missa da peregrinação de 13 de Maio de 2019

Caros irmãos e irmãs em Cristo, damos graças ao nosso Deus amoroso por nos ter aqui reunido como comunidade ou família de fé nesta Solenidade de Nossa Senhora de Fátima. O tema bíblico desta peregrinação anual é retirado da Primeira Carta de Pedro: “Sois povo de Deus”. Esta palavra realiza-se agora na nossa assembleia. Somos, de facto, povo de Deus, reunidos pelo Espírito Santo, alimentados pela Palavra do Senhor, pela Eucaristia e pela missão comum.

O Evangelho de hoje relata a reação das pessoas que viram as coisas belas e maravilhosas que Jesus realizou. Ter-se-ão, provavelmente questionado quem seriam os pais deste homem tão talentoso. E do meio da multidão uma mulher grita: “Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!”. Por outras palavras, “como deve ser feliz e abençoada a tua mãe por ter um filho como tu”. São palavras que habitualmente se dizem quando os estudantes terminam os estudos com distinção, quando uma pessoa tem sucesso na sua profissão ou quando alguém se torna padre, irmã religiosa ou bispo. As pessoas dizem: “os teus pais têm sorte; devem estar muito orgulhosos de ti”. E, de facto, Maria foi abençoada por ser a mãe de Jesus. Toda a mãe é abençoada por trazer no seu ventre vida humana e por alimentar essa vida de forma a tornar-se num ser humano bom. A bênção de Maria chama-se Jesus.

Mas Jesus realça um outro aspecto da maternidade de Maria, que para Ele é a origem da sua verdadeira felicidade. Ele respondeu: “Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática”. A afirmação de Jesus é semelhante às palavras que Isabel dirigiu a Maria na visitação: “Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor”. Jesus e Isabel sabem que a maternidade de Maria não consiste apenas em dar à luz um filho biologicamente e cuidar bem dele. A maternidade de Maria foi um acto de fé, ao aceitar o convite de Deus para ser a mãe do Filho de Deus. Maria tornou-se mãe pela fé, do mesmo modo que José se tornou pai de Jesus pela fé e pela obediência. Maria foi a serva obediente cuja total entrega e disponibilidade a Deus fez dela a Mãe do Filho de Deus. A sua resposta ao Anjo Gabriel retrata essa bênção: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Deus abençoou Maria escolhendo-a entre muitas mulheres para conceber o Filho de Deus. A resposta de fé que Maria deu à palavra de Deus, pondo em prática essa fé, tornou completa a bênção de Deus. Ela é a mãe de Jesus na fé e na carne. Maria e José educaram Jesus na observância da fé judaica, levaram-no a Jerusalém para a festa da Páscoa. Jesus estudou e meditou as Escrituras e, através delas, descobriu a sua missão. Ia à sinagoga regularmente; rezava por longas horas em lugares isolados; amava e servia os pobres, os excluídos, os estrangeiros; mostrou o rosto de Deus aos pecadores. Maria transmitiu ao seu Filho a sua fé e a sua forma de escutar e guardar a Palavra de Deus.

Maria mostra-nos o caminho para encontrar a verdadeira bênção

O nosso mundo de hoje tem imagens de uma vida “abençoada”: muito dinheiro, o último modelo de roupas, carros, perfumes e aparelhos eletrónicos, fama, influência, segurança. Estes não são desejos maus, mas Maria, nossa Mãe, faz-nos parar e fazer uma auto-avaliação. Será que a fé ainda tem um lugar importante no nosso desejo de uma vida boa? Consideramo-nos abençoados quando abdicamos dos nossos planos, como Maria e José, para que a vontade de Deus se possa concretizar? Será que os pais alimentam os seus filhos não apenas com comida, medicamentos e formação, mas também com a Palavra de Deus, os Sacramentos e o serviço aos pobres? Será que os pais assumem com seriedade a responsabilidade de educar os seus filhos na fé? Será que os pais e os mais velhos dão bom exemplo às crianças e aos jovens em como viver a fé nas decisões e acções da vida quotidiana?

Como modelo e exemplo da Igreja, a nossa Santíssima Mãe ensina toda a Igreja a encontrar o caminho da verdadeira bênção. São Paulo recorda-nos que, como Maria, fomos todos escolhidos por Deus, cada um com um chamamento único. Tal chamamento é a maneira de Deus nos abençoar. O nosso chamamento é a bênção de Deus. A fim de completar a bênção do chamamento de Deus, escutemos a palavra de Deus e ponhamos a Sua vontade em prática. Deste modo, o legado que deixaremos não será apenas sucesso, conquistas, estabilidade financeira e boa reputação, mas deixaremos como legado a pessoa de Jesus, a Sua palavra, a Sua presença, o Seu amor pelos abandonados e pelos que sofrem, a Sua solidariedade com os famintos, os sedentos, os despidos, os sem-abrigo, os estrangeiros e os prisioneiros. Mesmo enfrentando dificuldades e perseguições, seremos como a Mulher do Livro do Apocalipse, resplandecente de glória porque cuidou do seu Filho. Não há maior bênção do que ser chamado por Deus a servir Jesus, a fazer Jesus conhecido, amado e servido. Isto só acontecerá se, como Maria, estivermos atentos à Palavra de Deus, se recebermos Jesus na nossa vida e se vivermos como Jesus viveu. Á men.

Cardeal Luis Tagle, Arcebispo de Manila

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A esperança alimenta a alegria

A minha maior alegria é a esperança da claridade futura. A fé do Apocalipse deve transmitir-nos maior firmeza quando o que vemos exteriormente, em nós e nos outros, nos pode tirar o alento.

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)

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A luz de Fátima

Naquele 13 de maio, num recôndito canto da serra, três crianças portuguesas estavam a rezar o terço pelos soldados idos para a guerra. Surpreende-os um inesperado lampejar no céu azul, primeiro um clarão e depois outro. Quando erguem os olhos, veem sobre uma azinheira uma Senhora mais resplandecente que o Sol.

Não devemos esquecer que é no cenário de um mundo desumanizado, que consuma o grosso dos seus esforços na fabricação da morte, que se faz ouvir a mensagem de Fátima.

De um lado temos a primeira guerra mundial e a química da história. Do outro temos a visão que três pobres crianças têm de um coração ameaçado, apertado por espinhos, mas com a promessa de que sairá vencedor: «No fim, o meu Coração Imaculado triunfará».

O que nos sugere Fátima? A mensagem é essencial mas penetrante: comprometer-se na transformação orante da morfologia do mundo; assumir um modo de viver alternativo às formas injustas e sem esperança do presente; reconhecer a centralidade do coração, do Coração Imaculado, como modelo para uma reencontrada ética da relação e do cuidado.

Fátima, este imenso delta em que vem desaguar a humanidade ferida e à procura, ensina-nos assim como se ilumina um mundo mergulhado nas trevas.

D. José Tolentino Mendonça

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Nossa Senhora de Fátima. 13 de Maio

Acto de entrega a Nossa Senhora de Fátima

Bem-Aventurada Virgem de Fátima, com renovada gratidão pela tua presença materna unimos a nossa voz à de todas as gerações que te dizem bem-aventurada.

Celebramos em ti as grandes obras de Deus, que nunca se cansa de se inclinar com misericórdia sobre a humanidade, atormentada pelo mal e ferida pelo pecado, para a guiar e salvar.

Acolhe com benevolência de Mãe o acto de entrega que hoje fazemos com confiança, diante desta tua imagem a nós tão querida.

Temos a certeza que cada um de nós é precioso aos teus olhos e que nada te é desconhecido de tudo o que habita os nossos corações. Deixamo-nos alcançar pelo teu olhar dulcíssimo e recebemos a carícia confortadora do teu sorriso.

Guarda a nossa vida entre os teus braços: abençoe e fortalece qualquer desejo de bem; reacende e alimenta a fé; ampara e ilumina a esperança; suscita e anima a caridade; guia todos nós no caminho da santidade.

Ensina-nos o teu mesmo amor de predilecção pelos pequeninos e pelos pobres, pelos excluídos e sofredores, pelos pecadores e os desorientados; reúne todos sob a tua protecção e recomenda todos ao teu dilecto Filho, nosso Senhor Jesus.

Amen.

Papa Francisco, Roma, 13 de Outubro de 2013

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Nas contas que fazes, conta também Jesus

Aludíeis ao facto de ser poucos e ao risco de ceder a algum complexo de inferioridade… Há situações – e não são poucas – em que sentimos necessidade de fazer contas à vida: começamos a olhar quantos somos… e somos poucos; os meios que temos… e são poucos; depois vemos a quantidade de casas e obras a sustentar… e são demasiadas! Poderíamos continuar a enumerar as múltiplas realidades em que experimentamos a precariedade dos recursos que temos à disposição para levar por diante o mandato missionário que nos foi confiado. Quando isto acontece, parece que o saldo do balanço apareça «em vermelho», ou seja negativo.

É verdade que o Senhor nos disse: se queres construir uma torre, calcula as despesas; «não suceda que, depois de assentar os alicerces, [tu] não a possas acabar» (cf. Lc 14, 29). Mas, o «fazer as contas» pode-nos levar à tentação de olhar demasiado para nós próprios e, curvados sobre as nossas realidades, sobre as nossas misérias, podemos acabar quase como os discípulos de Emaús, proclamando o querigma com os nossos lábios enquanto o nosso coração se fecha num silêncio marcado por subtil frustração, que o impede de escutar Aquele que caminha ao nosso lado e é fonte de júbilo e alegria.

Irmãos e irmãs, «fazer as contas» é sempre necessário, quando nos pode ajudar a descobrir e aproximar de muitas vidas e situações que todos os dias sentem dificuldade em sobreviver: famílias que não conseguem continuar, pessoas idosas e sozinhas, doentes forçados a estar na cama, jovens tristes e sem futuro, pobres que nos lembram o que somos, isto é, uma Igreja de mendigos necessitados da Misericórdia do Senhor. Só é lícito «fazer as contas», se isto leva a mover-nos tornando-nos solidários, atentos, compreensivos e solícitos em abeirar-nos das fadigas e precariedade em que vivem submersos muitos dos nossos irmãos necessitados duma Unção que os levante e cure na sua esperança.

Só é lícito fazer as contas para exclamar com força e implorar com o nosso povo: «Vinde, Senhor Jesus!»

Papa Francisco, Encontro com os sacerdotes e seus familiares e religiosos na Catedral de Skopje (Macedónia do Norte), 7 de Maio de 2019

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O meu alimento é fazer a vontade de Deus

Antigamente, parecia-me que Deus daria às almas que se entregavam a Ele, as alegrias e as doçuras da oração e que só para as sentir era motivo para uma pessoa se encerrar num convento. Mas hoje compreendo que isso não é procurar a Deus, mas a si mesmo; e preparo-me, não para regalos, mas para securas e abandonos, numa palavra, preparo-me para cumprir a vontade de Deus.

Santa Teresa dos Andes

Oração

Jesus, ressuscitar é ser capaz de fazer a Tua vontade, é ter a força e a coragem para não me orientar pelos meus caprichos, desejos, sentimentos e apeteceres, mas discernir a cada passo qual é a Tua vontade e fazer todo o esforço para a pôr em prática. 

Isto é ressurreição: atirar fora com a pedra do meu sepulcro interior e sair ao encontro do irmão, da esposa, do filho, do amigo em necessidade, do pobre, do que sofre… Ajuda-me a remover as pesadas pedras do meu eu. Assim seja.

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56ª Semana de oração pelas vocações

“A coragem de arriscar pela promessa de Deus”

Oração

Deus, nosso Pai, ao enviares o Teu Filho Jesus, quiseste vir ao nosso encontro. Queremos agradecer-Te, hoje, por continuares a chamar, no barco da Igreja, pescadores para o alto mar, para a missão de chegar a todos. Concede-nos, pela graça do Baptismo, o dom da escuta da Tua voz e da resposta generosa. Desejamos abrir-nos ao “sonho maior”: discernir a vocação que nos torna servidores da alegria do Evangelho. Dá-nos a coragem de arriscar, como a jovem Maria, para sermos portadores da Tua promessa. Amen.

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