Quando o “pouco” é mais do que o “muito”

Na balança da justiça divina não se pesa a quantidade dos dons, mas o peso dos corações. A viúva do Evangelho depositou no tesouro do templo duas moedas de pouco valor e superou os dons de todos os ricos. Nenhum gesto de bondade está privado de sentido diante de Deus, nenhuma misericórdia permanece sem fruto.

São Leão Magno

Eis então que Jesus propõe aquela senhora como mestra de fé: ela não frequenta o Templo para limpar a própria consciência, não reza para se mostrar, não ostenta a fé, mas doa com o coração, com generosidade e gratuidade. As suas moedinhas têm um som mais bonito do que as grandes ofertas dos ricos, porque exprimem uma vida dedicada a Deus com sinceridade, uma fé que não vive das aparências, mas da confiança incondicional. Aprendamos com ela: uma fé sem enfeites exteriores, mas sincera interiormente; uma fé feita de amor humilde a Deus e aos irmãos.

Papa Francisco, Angelus, 7 de Novembro, 2021

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Ter o Evangelho sempre à mão

Amados irmãos e irmãs, o Senhor não procura comentadores habilidosos das Escrituras, mas corações dóceis que, aceitando a sua Palavra, se deixam mudar interiormente. Por isso é tão importante familiarizar com o Evangelho, tê-lo sempre à mão – até um pequeno Evangelho no bolso, na bolsa – para o ler e reler, para nos apaixonarmos por ele. Quando o fazemos, Jesus, Palavra do Pai, entra no nosso coração, torna-se próximo de nós e n’Ele damos fruto… Assim, cada um de nós pode tornar-se uma “tradução” viva, diferente e original. Não uma repetição, mas uma “tradução” viva, diferente e original, da única Palavra de amor que Deus nos dá.

Papa Francisco, Angelus, 31 de Outubro, 2021

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Caminhar segundo o Espírito

No trecho da Carta aos Gálatas que acabamos de ouvir, São Paulo exorta os cristãos a caminhar segundo o Espírito Santo, que deve ser o nosso guia no seguimento de Cristo, um caminho fascinante – mas também cansativo – que começa no Baptismo e dura toda a vida. Percorrendo esse caminho, o cristão adquire uma visão positiva da vida, o que não significa que o mal presente no mundo tenha acabado, ou que desapareçam os impulsos negativos do egoísmo e do orgulho; mas significa crer que Deus é mais forte do que as nossas resistências e maior que os nossos pecados. Este “caminhar segundo o Espírito” não é só uma acção individual, mas diz respeito também à comunidade como um todo. Percorrer o caminho do Espírito requer, em primeiro lugar, dar espaço à Graça e à Caridade. Na vida em comunidade, significa também corrigir os irmãos com espírito de docilidade, pois o Espírito Santo, além de nos conceder o dom da mansidão, convida-nos à solidariedade, a carregarmos o peso uns dos outros. A regra suprema da correcção fraterna é o amor, isto é, corrigir porque queremos o bem dos nossos irmãos e irmãs. Caminhemos com alegria e paciência nesta estrada, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo. (Papa Francisco, Resumo da Catequese sobre a Carta aos Gálatas, 3 de Novembro, 2021).

Catequese completa

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20211103_udienza-generale.html

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Comemoração de todos os fiéis defuntos – 2 de Novembro

“E espero a ressurreição dos mortos”

A ressurreição dos mortos encontra o seu princípio na ressurreição de Cristo, “o primeiro de entre os mortos” (1Cor 15, 20). Foi precisa a ressurreição de Jesus para que se firmasse definitivamente a certeza da ressurreição pessoal. A ressurreição de Cristo deu testemunho da fidelidade e da força invencível do amor do Pai
O que nós somos em Cristo ressuscitado pelo baptismo e pelo dom do Espírito Santo aguarda ainda uma transformação. O homem ressuscitará na sua própria carne, mas numa carne transfigurada, semelhante à de Cristo glorioso. São Paulo fala de um corpo “espiritual” ou “cheio de glória”. Num esboço, muito longínquo sem dúvida, do que o Espírito de Deus realizará quando tomar conta de todo o nosso corpo, desta carne que é a nossa, São Paulo sublinha sobretudo a novidade radical de um corpo espiritual: “Semeia-se na corrupção e ressuscita-se na incorrupção. Semeia-se na ignomínia e ressuscita-se na glória. Semeia-se na fraqueza, ressuscita-se na força. Semeia-se corpo natural e ressuscita-se corpo espiritual” (1Cor 15, 42-44). O como da ressurreição dos mortos é um mistério. Pode ajudar-nos a entendê-lo a seguinte metáfora: observando um bolbo de tulipa, podemos não reconhecer para quão belíssima flor ele se desenvolverá na terra escura.

Não morro; entro na vida (Santa Teresa do Menino Jesus).

Oração

Deus, Pai de misericórdia, escutai benignamente as nossas orações, para que, ao confessarmos a fé na ressurreição do vosso Filho, se confirme em nós a esperança da ressurreição dos vossos servos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

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Solenidade de Todos os Santos

Na “Solenidade de Todos os Santos” celebramos o mistério da santidade divina presente na nossa vida. Numa única celebração, evocamos os nossos irmãos e irmãs que nos precederam na fé, na esperança e na caridade e que, tendo concluído a sua peregrinação sobre a terra, já gozam da plenitude da vida, na visão eterna de Deus.
Eles formam uma incontável multidão. Muitos foram canonizados pela Igreja, mas a maior parte deles, porém, não o foi, nem nunca o virá a ser. Alguns deles cruzaram os nossos caminhos, mas a maior parte deles passou desapercebida neste mundo, sendo só por Deus conhecidos. Todos eles, porém, responderam com generosidade aos apelos do Senhor, amando a Deus sobre todas as coisas e amando os irmãos.
Demos graças a Deus pelo poder da Sua graça e pela infinita riqueza do seu amor.

Ladainha

Senhor, tende piedade de nós (Senhor, tende piedade de nós).
Cristo, tende piedade de nós (Cristo, tende piedade de nós).
Senhor, tende piedade de nós (Senhor, tende piedade de nós).

Santa Maria, Mãe de Deus (Rogai por nós).
São Miguel, mensageiro do Senhor (Rogai por nós).
Santos anjos de Deus (Rogai por nós).
São João Baptista, profeta do Senhor (Rogai por nós).
São José, esposo de Maria (Rogai por nós).
São Pedro e São Paulo, apóstolos de Deus (Rogai por nós).
Santo André, São João e São Tiago (Rogai por nós).
Santa Maria Madalena, mulher libertada (Rogai por nós).
Santo Estêvão, mártir da fé (Rogai por nós).
Santo Inácio, bispo de Antioquia (Rogai por nós).
São Lourenço, servo dos pobres (Rogai por nós).
Santa Perpétua e Santa Felicidade (Rogai por nós).
Santa Inês, jovem fiel no amor (Rogai por nós).
São Gregório, Vigário de Cristo (Rogai por nós).
Santo Agostinho, pensador e pastor (Rogai por nós).
Santo Atanásio, defensor da fé (Rogai por nós).
São Basílio, bispo valoroso (Rogai por nós).
São Bento, pai dos monges (Rogai por nós).
São Francisco, irmão dos pobres (Rogai por nós).
São Domingos, pregador fiel (Rogai por nós).
São Francisco Xavier, missionário do Oriente (Rogai por nós).
São João Maria Vianney, santo sacerdote de Ars (Rogai por nós).
Santa Catarina de Sena, memória da Igreja (Rogai por nós).
Santa Teresa, mestra de oração (Rogai por nós).
Santo Inácio, ardente peregrino (Rogai por nós).
Todos os santos de Deus (Rogai por nós).

Sede-nos propício (Ouvi-nos, Senhor).
Para que nos livreis de todo mal (Ouvi-nos, Senhor).
Para que nos livreis de todo pecado (Ouvi-nos, Senhor).
Para que nos livreis da morte eterna (Ouvi-nos, Senhor).
Pela vossa encarnação (Ouvi-nos, Senhor).
Pela vossa morte e ressurreição (Ouvi-nos, Senhor).
Pela vossa admirável ascensão (Ouvi-nos, Senhor).
Pela efusão do Espírito Santo (Ouvi-nos, Senhor).
Pela vossa gloriosa vinda (Ouvi-nos, Senhor).
Apesar dos nossos pecados (Ouvi-nos, Senhor).

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo (Perdoai-nos, Senhor).
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo (Ouvi-nos, Senhor).
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo (Tende piedade de nós, Senhor).

Oração

Deus eterno e omnipotente, que nos concedeis a graça de honrar numa única solenidade os méritos de Todos os Santos, dignai-Vos derramar sobre nós, em atenção a tão numerosos intercessores, a desejada abundância da vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amen.

 

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31º Domingo do Tempo Comum – Ano B

O Evangelho deste Domingo (Mc 12, 28-34) repropõe-nos o ensinamento de Jesus sobre o maior mandamento: o mandamento do amor, que é duplo: amar a Deus e amar ao próximo. Os Santos (…) são precisamente aqueles que, confiando na graça de Deus, procuram viver segundo esta lei fundamental. De facto, o mandamento do amor só pode ser plenamente posto em prática por aquele que vive numa relação profunda com Deus, precisamente como a criança se torna capaz de amar a partir de uma boa relação com a mãe e com o pai. São João de Ávila (…) escreve assim no início do seu Tratado do amor de Deus: «A causa — diz — que em maior medida estimula o nosso coração ao amor de Deus é considerar profundamente o amor que Ele teve por nós… Este, mais que os benefícios, estimula o coração a amar; porque aquele que presta um benefício a outro, dá-lhe algo que possui; mas aquele que ama, dá-se a si mesmo com tudo o que tem, sem que lhe reste algo mais para dar» (n. 1). Antes de ser um mandamento — o amor não é uma ordem — é um dom, uma realidade que Deus nos faz conhecer e experimentar, de modo que, como uma semente, possa germinar também dentro de nós e desenvolver-se na nossa vida.

Se o amor de Deus ganhou raízes profundas numa pessoa, ela torna-se capaz de amar até quem não o merece, como faz precisamente Deus em relação a nós. O pai e a mãe não amam os filhos só quando o merecem: amam-nos sempre, mesmo se naturalmente lhe fazem compreender quando erram. De Deus nós aprendemos a querer sempre e só o bem e nunca o mal. Aprendemos a olhar para o próximo não só com os nossos olhos, mas com o olhar de Deus, que é o olhar de Jesus Cristo. Um olhar que parte do coração e não se detém na superfície, vai além das aparências e consegue captar as expectativas profundas do outro: expectativas de ser recebido, de uma atenção gratuita, numa palavra: de amor. Mas verifica-se também o percurso contrário: que abrindo-me ao outro tal como ele é, indo ao seu encontro, pondo-me à disposição, abro-me também ao conhecimento de Deus, a sentir que Ele existe e é bondoso. Amor de Deus e amor ao próximo são inseparáveis e estão em relação recíproca. Jesus não inventou nem um nem outro, mas revelou que eles são, no fundo, um único mandamento, e fê-lo não só com palavras, mas sobretudo com o seu testemunho: a própria Pessoa de Jesus e todo o seu mistério encarnam a unidade do amor de Deus e do próximo, como os dois braços da Cruz, vertical e horizontal. Na Eucaristia Ele doa-nos este amor duplo, doando-se a Si mesmo, para que, alimentados por este Pão, nos amemos uns aos outros como Ele nos amou.

Bento XVI, Angelus (resumo), 4 de Novembro, 2012

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O fruto do Espírito

Paulo pede aos Gálatas para voltarem ao essencial, isto é, a Deus que nos dá vida em Cristo crucificado. O próprio apóstolo diz de si mesmo: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Irmãos e irmãs, se perdermos o rumo na nossa vida espiritual, sigamos o conselho de Paulo: contemplemos Cristo crucificado, recomecemos d’Ele. Agarremos o crucifixo nas mãos, estreitemo-lo ao coração. Ou então paremos em adoração diante do Santíssimo Sacramento, onde Jesus Se faz Pão repartido para nós, onde está Cristo Ressuscitado, poder de Deus que derrama o seu amor nos nossos corações. E que acontece quando nos encontramos na oração com Jesus Crucificado? Acontece o mesmo que sucedeu na cruz: Jesus entrega o Espírito (cf. Jo 19, 30). E o Espírito Santo que brota da Páscoa de Jesus é o princípio da vida espiritual. O que nos muda o coração não são as nossas obras, mas a acção do Espírito em nós. Graças a Ele, alimentamos a nossa vida cristã e saímos vencedores no combate contra os instintos mundanos da nossa carne, ou seja, da pessoa humana fechada em si mesma, numa vida horizontal sem relação com o Espírito Santo. Tais instintos mundanos são comportamentos contrários ao Espírito de Deus. O apóstolo Paulo faz uma lista com as obras da carne e outra com o fruto do Espírito. Pode ser um bom exercício espiritual repassar a lista de São Paulo para ver se a nossa conduta mostra os frutos referidos, isto é, se a nossa vida é verdadeiramente uma vida segundo o Espírito Santo. Por exemplo, os primeiros três – como ouvimos ler, no início da Audiência – são amor, alegria, paz. Daqui se reconhece uma pessoa habitada pelo Espírito de Deus. (Papa Francisco, Resumo da Catequese sobre a Carta aos Gálatas, 27 de Outubro, 2023).

Catequese completa

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20211027_udienza-generale.html

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Oração oficial da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023

Nossa Senhora da Visitação,
que partistes apressadamente para a montanha ao encontro de Isabel,
fazei-nos partir também ao encontro de tantos que nos esperam
para lhes levarmos o Evangelho vivo:
Jesus Cristo, vosso Filho e nosso Senhor!
Iremos apressadamente, sem distração nem demora,
antes com prontidão e alegria.
Iremos serenamente, pois quem leva Cristo leva a paz,
e o bem-fazer é o melhor bem-estar.
Nossa Senhora da Visitação,
com a vossa inspiração, esta Jornada Mundial da Juventude
será a celebração mútua do Cristo que levamos, como Vós outrora.
Fazei que ela seja ocasião de testemunho e partilha,
convivência e ação de graças,
procurando cada um o outro que sempre espera.
Convosco continuaremos este caminho de encontro,
para que o nosso mundo se reencontre também,
na fraternidade, na justiça e na paz.
Ajudai-nos, Nossa Senhora da Visitação,
a levar Cristo a todos, obedecendo ao Pai, no amor do Espírito!

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30º Domingo do Tempo Comum – Ano B

O texto que nos é proposto para o 30º Domingo do Tempo Comum, Ano B, narra a cura do cego Bartimeu que levará este homem a seguir Jesus porque se operou nele uma iluminação pelo encontro com Aquele que é a “Luz do mundo”. Bartimeu vive de esmolas, dependendo da compaixão alheia. Está fora da cidade, é um excluído. As doenças e as deficiências físicas eram vistas como fruto do pecado. Segundo o modo de pensar de então, Deus castigava de acordo com a gravidade da culpa, o que se deduz que a cegueira dever-se-ia a um pecado bastante grave, próprio ou dos pais (cf. Jo 9,2). Está «sentado» porque é incapaz de mudar a sua condição; e «à beira do caminho», porque é um marginalizado, que não pode alcançar a salvação. Bartimeu é imagem da humanidade necessitada da Luz da salvação.

Porque cego, rege-se pelo ouvido. Ouve uma multidão que se aproxima e o povo a exclamar: «É Jesus, o Nazareno», aquele de quem já antes ouvira falar. Nasce então nele uma nova esperança e logo se põe a clamar: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim». Muitos dos que estavam com Jesus repreendiam Bartimeu para que estivesse calado (Mc 10, 48).

Quando Jesus pergunta a Bartimeu o que deseja dele, o cego não duvida. Sabe muito bem aquilo que necessita: “Mestre, que eu veja”. Isto é o mais importante. Quando alguém começa a ver as coisas de maneira nova, a sua vida transforma-se. Quando uma comunidade recebe a luz de Jesus, converte-se.

«Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim». A súplica de Bartimeu tornou-se na oração que tem acompanhado as noites de insónia de tantos doentes, quando nenhuma palavra satisfaz, porque inúteis e vazias, e o sofrimento não dá descanso ao corpo nem à alma. Aquele grito de súplica tornou-se oração de peregrinos, murmúrurio incessante de monges… Também é a voz dos pobres, dos humildes, súplica de tantas mães que vêem os seus filhos a perder-se pelo caminho da droga, da violência e da diversão atordoante.

Palavra para o caminho

Quando a fé está viva, a oração é sentida: não mendiga tostões, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, deve ser pedido tudo. Não vos esqueçais disto. A Jesus que tudo pode, deve-se pedir tudo, com a minha insistência perante Ele. Ele não vê a hora de derramar a sua graça e alegria nos nossos corações, mas infelizmente somos nós que mantemos a distância, talvez por timidez, ou preguiça ou incredulidade. (Papa Francisco, Angelus, 24 de Out., 2021).

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