30º Encontro da Família Carmelita

carmen bella

Meditação dos Mistérios Gozosos na Capelinha das Aparições

Fátima, 20 de Fevereiro de 2016

Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, Senhora de Fátima, Esplendor e Formosura do Carmelo! A Família Carmelita de Portugal encontra-se de novo junto de ti. Esta é a trigésima  vez que ela se reúne aqui em Fátima, e este ano sob o lema, “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia”. Porque sabemos que em ti, mais do que em ninguém, são verdadeiras estas palavras do Papa Francisco “A misericórdia de Deus transforma o coração do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia”, o Povo cristão invoca-te como Mãe de Misericórdia.

1º Mistério: A anunciação do Anjo Gabriel a Nossa Senhora: O Anjo Gabriel disse a Maria: “Não temas, pois achaste graça diante de Deus (Lc 1, 30).

Comentando o acontecimento da Anunciação, diz São Bernardo: “Ouviste, ó Virgem, a voz do Anjo: Conceberás e darás à luz um filho. Ouviste-o dizer que não será por obra de varão, mas por obra do Espírito Santo. O Anjo aguarda a resposta (…). Todo o mundo, prostrado a teus pés, espera a tua resposta: da tua palavra depende a consolação dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua linhagem. Dá depressa, ó Virgem a tua resposta. Profere a tua palavra humana e concebe a divina. Porque demoras? Abre, ó Virgem santa, o coração à fé, os lábios ao consentimento, as entranhas ao Criador. Eis a serva do Senhor, disse a Virgem, faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Nesta dezena peçamos a graça da gratidão pela nossa vocação: Dirigindo-se aos Carmelitas, diz-nos o Papa Francisco: “As vossas origens contemplativas brotam da terra da epifania do amor eterno de Deus em Jesus Cristo, Verbo feito carne”.

2º Mistério: A visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel: Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, e saudou Isabel. Isabel, erguendo a voz exclamou: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Feliz de ti que acreditaste. Maria disse então: A minha alma glorifica o Senhor (cf. Lc 1, 39-56).

Meditando sobre a visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel, a carmelita Santa Isabel da Trindade escreveu: “Quando leio no Evangelho ‘que Maria percorreu diligentemente as montanhas da Judeia’ para ir cumprir o seu ofício de caridade, junto a sua prima Isabel, vejo-a passar tão bela, tão calma, tão majestosa, tão recolhida interiormente, com o Verbo de Deus.

Parece-me que a atitude da Virgem, durante os meses que decorreram entre a Anunciação e o Natal, é o modelo das almas interiores, dos seres que Deus escolheu para viverem de dentro, no fundo do abismo sem fundo. Com que paz, com que recolhimento, Maria se entregava e se prestava a todas as coisas”.

Nesta dezena peçamos a graça de partilhar com os outros os frutos do “meditar dia e noite na Lei do Senhor”: O Papa desafia-nos: “Agora mais do que nunca é o momento de descobrir o caminho interior do amor e dar às pessoas de hoje no testemunho da contemplação, na pregação e na missão não coisas inúteis, mas aquela sabedoria que emerge do ‘meditar dia e noite na lei do Senhor’”.

3º Mistério: O nascimento de Jesus em Belém: O Anjo disse aos pastores: “Anuncio-vos uma grande alegria. Hoje, nasceu-vos em Belém um Salvador”. E os pastores foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura (Lc 2, 10-11.16).

Acerca do mistério da Encarnação, São João da Cruz escreveu estas palavras luminosas: “Mas agora que está fundada a fé em Cristo e promulgada a lei evangélica, nesta era da graça, Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única, e nada mais tem a revelar. O que antigamente Deus disse pelos profetas a nossos pais de muitos modos e de muitas maneiras, agora, por último, nestes dias, nos falou pelo Filho tudo de uma só vez. Deus ficou como mudo e não tem mais que falar, porque o que antes disse parcialmente pelos Profetas, revelou-O totalmente, dando-nos o Todo que é o seu Filho”.

Nesta dezena peçamos a graça da fidelidade no seguimento até ao fim: Diz-nos o Papa Francisco: “A vossa Regra começa com a exortação aos Irmãos a “viver uma vida de obséquio de Jesus Cristo” para o seguir e servir com um coração puro e indiviso”.

4º Mistério: A apresentação de Jesus no Templo: Segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram o Menino a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor. Ora vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso. Tinha-lhe sido prometido que não morreria antes de ter visto o Messias. Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: “Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque os meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo” (Lc 2, 22-26).

Em 2013, na Carta que dirigiu ao Padre Geral e, por seu intermédio a todos nós Família Carmelita, o Papa Francisco dizia: “Reflectindo acerca das vossas origens e da vossa história e contemplando a imensa linhagem de quantos viveram através dos séculos o carisma carmelita, descobrireis assim a vossa vocação actual de ser profetas de esperança. E é precisamente nesta esperança que sereis regenerados.

Num mundo que permanentemente desconhece Cristo e, de facto, o rejeita, sois convidados a aproximar-vos e aderir cada vez mais profundamente a Ele. Isto é de vital importância no nosso mundo tão desorientado, “porque quando se apaga a sua chama, também as outras luzes acabam por perder o seu vigor” (Lumen Fidei, 4) (…). Sede missionários da misericórdia de Deus, que sempre nos perdoa e tanto nos ama!”.

Nesta dezena peçamos a graça de ter um olhar contemplativo: Continua o Papa Francisco: “A íntima amizade com Ele que nos ama torna-nos capazes de ver com os olhos de Deus, de falar com a sua palavra no coração, de conservar a beleza desta experiência e de compartilhá-la com aqueles que têm fome de eternidade”.

5º Mistério: A perda e o encontro de Jesus no Templo entre os doutores da Lei: Depois de José e Maria andarem três dia aflitos à procura de Jesus, encontraram-no no Templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas (Lc 2, 46).

No regresso a Nazaré, após um dia de viagem, Maria e José aperceberam-se de que Jesus não vinha com eles. Sinal importante para nós: quando nos apercebermos de que Jesus não está a fazer caminho connosco, devemos ficar preocupados e ir à procura dele. Podemos perder tudo mas não podemos perder Jesus. Jesus é a nossa vida, se o perdemos, perdemo-nos.

Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” (Lc 2, 49). Embora não compreendendo a resposta de Jesus, Maria guardava tudo no seu coração.

Maria teve que caminhar pela fé. Imitando a sua fé, somos capazes de ver para além das coisas exteriores que nos rodeiam. Maria era uma contemplativa. Uma contemplativa é uma amiga madura de Deus que busca a realidade com os olhos de Deus e que ama o que vê com o coração de Deus. “Um carmelita sem esta vida contemplativa é um corpo morto!” (Papa Francisco).

Nesta dezena peçamos a graça da paixão pela missão: Exorta-nos o Papa Francisco: “Queridos Irmãos Carmelitas, a vossa missão é a mesma de Jesus. (…) Nunca nos devemos esquecer que somos lançados para águas turbulentas e desconhecidas, mas Aquele que nos chama à missão dá-nos também a coragem e a força para a realizar. (…) Sede missionários do amor e da ternura de Deus”.

 

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2º Domingo da Quaresma – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 9, 28-36)

Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho, o meu Eleito. Escutai-o.» Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto.

Reflexão

Várias vezes Jesus teve conflitos com o povo e as autoridades religiosas e civis da época (Lc 4, 28-29; 5, 20-21; 6, 2-11; 7, 30. No horizonte aparece a cruz, já não como possibilidade, mas como certeza (Lc 9, 22). Nesta hora difícil, Jesus sobe à montanha para orar, levando consigo Pedro, Tiago e João. Na oração encontra força para não se desviar da sua missão (cf. Mc 1, 35).

Apenas Jesus ora, o seu aspecto muda e aparece glorioso. É a glória que os discípulos imaginavam para o Messias. Esta mudança de aspecto mostra-lhes que Jesus, na verdade, era o Messias que todos esperavam. Mas o caminho para a glória é muito diferente daquele que eles imaginavam. A Transfiguração será um apela à conversão.

Junto a Jesus, na mesma glória, aparecem Moisés e Elias. Falam com Jesus acerca do “êxodo” que deveria realizar em Jerusalém. Assim, diante dos discípulos, a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias) confirmam que Jesus é verdadeiramente o Messias glorioso, prometido no Antigo Testamento e esperado por todo o povo. Além disso, confirmam que o caminho para a glória passa pela via dolorosa do “êxodo”. O “êxodo” de Jesus é a sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Os discípulos estavam a cair de sono. Quando despertaram, puderam ver a glória de Jesus e os dois homens que falavam com ele. “Mestre, é bom estarmos aqui”. Já não queremos descer da montanha! Quando se fala da cruz, tanto no monte da Transfiguração como no Jardim das Oliveiras (Lc 22, 45), os discípulos dormem. Gostam mais da glória do que da cruz! Enquanto Pedro fala, uma nuvem desce do alto e envolve-os com a sua sombra. Uma voz faz-se ouvir da nuvem e diz: “Este é o meu Filho, o meu Eleito. Escutai-o”. Com esta mesma frase o profeta Isaías anunciara o Messias-Servo (Is 42, 1). Depois de Moisés e Elias, agora é o próprio Deus Pai quem apresenta Jesus como Messias-Servo, que alcançará a glória através da cruz. E deixa-nos uma advertência final: “Escutai-o!”. Ele é a Palavra de Deus dirigida aos discípulos: “Escutai-o!”.

Palavra para o caminho

“Este é o meu Filho, o meu Eleito. Escutai-o”. Somente Jesus irradia luz. Todos os demais, profetas e mestres, teólogos e autoridades, doutores e pregadores, temos o rosto apagado. Não podemos confundir ninguém com Jesus. Somente ele é o Filho amado. A sua Palavra é a única que temos de escutar. As demais vozes devem-nos conduzir a ele.

E temos de escutar a sua Palavra também hoje, quando nos fala de “carregar a cruz” destes tempos. O sucesso prejudica os cristãos. Hoje são-nos oferecidas mais possibilidades de vivermos como cristãos “crucificados”. Isto far-nos-á bem. Ajudar-nos-á a recuperar a nossa identidade cristã.

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Ajudai-me, Senhor, para que eu seja misericordiosa(o)

CORAZON DE JESUS

Senhor, desejo transformar-me toda(o) na Misericórdia e ser o vosso vivo reflexo. Que o mais grandioso atributo de Deus, a sua insondável Misericórdia, possa penetrar pelo meu coração e através da minha alma em direcção aos outros.

Ajudai-me, Senhor, para que os meus olhos sejam misericordiosos: que não suspeite de ninguém e não julgue segundo as aparências exteriores. Que eu apenas observe o que é belo na alma do próximo e que vá em seu socorro.

Ajudai-me, Senhor, para que os meus ouvidos sejam misericordiosos: que eu esteja sempre atenta(o) às necessidades dos outros, e os meus ouvidos não sejam indiferentes às dores e aos gemidos do próximo.

Ajudai-me, Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa: que eu nunca diga mal dos outros, mas tenha para cada um palavras de consolação e de perdão.

Ajudai-me, Senhor, para que as minhas mãos sejam misericordiosas e cheias de boas obras: que só possa fazer bem ao próximo, reservando-me os trabalhos mais duros e difíceis.

Ajudai-me, Senhor, para que os meus pés sejam misericordiosos: que eu esteja sempre pronta(o) a ir ajudar o meu próximo, dominando o próprio cansaço e fadiga. Que o meu verdadeiro descanso seja servir os outros.

Ajudai-me, Senhor, para que o meu coração seja misericordioso: que eu sinta todos os sofrimentos dos outros. A ninguém negarei o meu coração. Que eu conviva sinceramente, mesmo com os que sei que hão-de abusar da minha bondade. Que, por mim mesma(o), me encerrarei no Misericordiosíssimo Coração de Jesus e guardarei silêncio sobre os meus próprios sofrimentos.

Ó meu Senhor, que habite em mim a vossa Misericórdia, Ó meu Jesus, transformai-me em Vós, já que tudo podeis.

Santa Faustina Kowalska

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A amizade de Deus

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Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai (Jo 15,15). A amizade de Deus é fonte de imortalidade para aqueles que se Lhe aproximam.

No princípio, Deus formou Adão, não porque tivesse necessidade do homem, mas para ter alguém que pudesse receber os seus benefícios.

Não foi também por necessitar dos nossos serviços que Deus nos mandou segui-Lo, mas para nos dar a salvação. Seguir o Senhor é receber a salvação, tal como seguir a luz é receber a luz.

Não são os que estão na luz que iluminam a luz, mas é esta que os ilumina e faz resplandecer; eles nada lhe dão, são eles que beneficiam da luz e por ela são iluminados.

Do mesmo modo, o serviço que prestamos a Deus nada acrescenta a Deus, porque Ele não precisa do serviço dos homens. Mas aos que O seguem e servem, Deus dá a vida, a incorruptibilidade e a glória eterna. Favorece com os Seus dons aqueles que O servem, precisamente porque O servem; mas não recebe deles nenhum benefício, porque é perfeito e de nada precisa.

Se Deus requer o serviço dos homens é porque, sendo bom e misericordioso, deseja conceder os seus dons aos que perseveram no seu serviço. Com efeito, Deus de nada precisa, mas o homem é que precisa da comunhão com Deus.

A glória do homem consiste em perseverar e permanecer no serviço de Deus. Por isso dizia o Senhor aos seus discípulos: Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi (Jo 15,16), dando assim a entender que não eram eles que O glorificavam com o seu seguimento, mas que, por terem seguido o Filho de Deus, eram por Ele glorificados. E disse ainda: Quero que onde Eu estou, eles estejam também comigo, para que vejam a minha glória (Jo 17,24).

Santo Ireneu (séc. II)

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1º Domingo da Quaresma – Ano C

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 4, 1-13)

Cheio do Espírito Santo, Jesus retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, quando eles terminaram, sentiu fome. Disse-lhe o diabo: «Se és Filho de Deus, diz a esta pedra que se transforme em pão.» Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem.» Levando-o a um lugar alto, o diabo mostrou-lhe, num instante, todos os reinos do universo e disse-lhe: «Dar-te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. Se te prostrares diante de mim, tudo será teu.» Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» Em seguida, conduziu-o a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo, pois está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, a fim de que eles te guardem; e também: Hão-de levar-te nas suas mãos, com receio de que firas o teu pé nalguma pedra.» Disse-lhe Jesus: «Não tentarás ao Senhor, teu Deus.» Tendo esgotado toda a espécie de tentação, o diabo retirou-se de junto dele, até um certo tempo.

Reflexão                 

Depois do baptismo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto onde foi tentado. Esta tentação tem uma relação directa com a missão que ele recebeu e que tinha sido revelada à beira do Jordão. Segundo Mateus e Lucas, Jesus passa no deserto quarenta dias, que simbolizam os quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto do Sinai. A tríplice tentação de Jesus lembra as tentações do povo de Deus durante o Êxodo e à entrada da terra prometida. Obedecendo à vontade do Pai e apoiando-se na Escritura, Jesus resiste sem fraqueza e, pela força do Espírito Santo, vence Satanás.

A tentação de Jesus é por excelência aquela de que fala o livro do Génesis: “ser como deuses” (Gen 3, 5”; a tentação do orgulho radical que tem ciúmes de Deus, desejo de referir tudo a si mesmo, de não depender de Deus. Satanás, o tenebroso “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31), apresenta a Jesus uma estratégia triunfalista, um falso messianismo feito de milagres clamorosos, como transformar as pedras em pão, lançar-se do alto do Templo com a certeza de ser salvo, conquistar o domínio político de todas as nações. Jesus rejeita decididamente as tentações. Diz “não” à falsa prosperidade material, porque  “nem só de pão vive o homem mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4). Diz “não” à ambígua popularidade obtida através do milagre espectacular, porque não se deve instrumentalizar Deus em função das nossas necessidades de segurança. Diz “não” à ambição do poder temporal, porque a verdadeira libertação do homem nasce do coração. A sua natureza de Filho de Deus manifesta-se não através da posse, na exibição de poder e domínio, mas no serviço humilde, no perdão, no amor, na entrega de si próprio na cruz.

A tentação foi real para Jesus. Ele “foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado” (Heb 4, 15). Mesmo mais tarde, irá experimentar a tentação da violência na hora da paixão e será desafiado a descer da cruz para exibir o seu poder.

Diariamente (…) o cristão tem de suportar um combate parecido ao que Cristo aguentou no deserto da Judeia, no qual foi tentado pelo diabo durante quarenta dias…Trata-se de um combate espiritual dirigido contra o pecado e, no fundo, contra Satanás. É um combate que implica toda a pessoa e exige uma constante e atenta vigilância” (Bento XVI).

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Quaresma e obras de misericórdia

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A misericórdia de Deus transforma o coração do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia. É um milagre sempre novo que a misericórdia divina possa irradiar-se na vida de cada um de nós, estimulando-nos ao amor do próximo e animando aquilo que a tradição da Igreja chama as obras de misericórdia corporal e espiritual. Estas recordam-nos que a nossa fé se traduz em actos concretos e quotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo no corpo e no espírito e sobre os quais havemos de ser julgados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo (…).

Portanto a Quaresma deste Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia. Se, por meio das obras corporais, tocamos a carne de Cristo nos irmãos e irmãs necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados, as obras espirituais tocam mais directamente o nosso ser de pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar, admoestar, rezar. Por isso, as obras corporais e as espirituais nunca devem ser separadas.

Excerto da mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2016

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Disfarçados

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Seria ingénuo pensar que as pessoas se disfarçam somente no Carnaval e que as máscaras dos homens duram somente estes três dias antes da Quaresma.

Se observarmos sinceramente a nossa vida, encontramos, certamente, momentos de honradez, franqueza e clareza. Porém, ao mesmo tempo, todos sabemos que a nossa vida é, em grande parte, uma mentira.

De certo modo, pode-se dizer que mentimos a nós mesmos ao longo de toda a a nossa vida. Revestimo-nos de máscaras para fora e para dentro. E passamos a vida evitando, falsificando ou desfigurando os apelos da verdade.

Não se trata de pensar agora nas nossas mentiras, enganos e simulações de todos os dias, mas na grande mentira da nossa vida no seu conjunto. Na nossa capacidade de gritar a verdade em alta voz e exigir sempre dos outros grandes coisas, sem escutar jamais nós mesmos os apelos da nossa própria consciência.

Não é fácil sair da mentira quando passamos anos vivendo uma relação superficial connosco próprios. Não é fácil alguém libertar-se da própria covardia quando envolvemos com a vaidade e covardia toda a nossa vida com os seus projectos, ideais e relações.

Porém, o grande privilégio do homem é a insatisfação. No mais profundo do seu coração, algo resiste sempre e impede-o de descansar satisfeito na mentira.

Por isso, há momentos de graça tanto para o que crê como para aquele que se diz incrédulo. Momentos nos quais uma “luz interior” ilumina-nos com a clareza iniludível e revela-nos que na nossa vida falta: beleza, bondade, veracidade, autêntica amizade, verdadeiro amor.

Momentos de transparência que deixam tremendo o nosso coração e nos fazem irromper com palavras semelhantes às de Simão Pedro ao encontrar-se com Jesus: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou pecador!”.

É, então, que escutamos as palavras de Jesus: “Não temas!”. Não devemos temer que Deus descubra a verdade sobre a nossa vida, por mais feia e obscura que ela seja. Deus é maior do que a nossa consciência. Crer n’Ele é “aceitar sermos aceites apesar de sermos inaceitáveis” (J. P. Tillich).

Talvez, a nossa vida se joga nesses momentos privilegiados de luz e de verdade, quando somos capazes de vê-la sem máscaras nem disfarces. Se, então, tudo nos condena, escutemos o conselho de Santo Agostinho: “Se sentes vontade de escapar de Deus, não procures esconder-te d’Ele, esconde-te n’Ele”.

J. A. Pagola

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Que Alegria quando me disseram: vamos para a Casa do Senhor

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Meu Senhor e meu Esposo, finalmente chegou a hora tão desejada. Chegou, por fim, o momento de nos vermos, ó meu Amado e Senhor meu. Já é a hora de caminhar. Partamos, pois, em tão feliz ocasião. Seja feita a Vossa vontade. Eis que chegou a hora de eu sair deste desterro e de a minha alma Vos poder gozar plenamente, a Vós, a Quem tanto desejei.

Santa Teresa de Jesus

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5º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 5, 1-11)

Naquele tempo, Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”. Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” É que o espanto se apoderara de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”. Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.

Reflexão

A porta de entrada deste texto, que nos traz a versão do evangelista São Lucas sobre a “pesca milagrosa” é o primeiro versículo: “Certo dia, Jesus estava na margem do Lago de Genesaré. A multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a Palavra de Deus”.

A Palavra de Deus era realmente “Boa Notícia”. Nada deve – ou pode – substituir esta Palavra. Nenhuma palavra humana, por mais eloquente ou edificante que seja, pode igualar-se à Palavra de Deus. Devemos levar a sério o que proclamou o Concílio Vaticano II no seu documento dogmático Dei Verbum: “A Igreja sempre venerou as Sagradas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor” (DV 21).

Terminada a pregação, Jesus pede que Simão “avance para águas mais profundas”, para lançar as redes. Como é tentador para nós – a Igreja, as comunidades, os indivíduos – ficarmos seguros nas águas tranquilas junto à margem que não apresentam perigo, e tampouco frutos! Se quisermos ser realmente “pescadores de homens” teremos que enfrentar as águas profundas da vida, com todas as incertezas e inseguranças que isso acarreta.

Simão não se mostra muito entusiasmado diante do convite do Senhor, pois ele, pescador profissional, sabia muito bem que não se lançavam as redes naquela hora do dia. Parece loucura. Assim, muitas vezes, é hoje o que Jesus nos pede parece loucura aos olhos da sociedade. Pois, como diz São Paulo “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1, 25). Mesmo assim, Pedro é um homem de fé, seduzido por Jesus. As suas palavras têm, para ele, mais força do que a sua própria experiência. Pedro sabe que ninguém se põe a pescar ao meio-dia no lago, sobretudo, se não capturou nada durante a noite. Porém, se Jesus o disse, Pedro confia totalmente nele: “em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”.

Pedro reage perante a pesca abundantíssima: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!”. Como a luz cria a sombra, a proximidade da santidade põe em relevo o pecado humano. O que parece normal, segundo critérios humanos, fica claramente negativo diante dos critérios do amor divino! Mas, Jesus não atende o pedido de Pedro: foi porque somos pecadores que Ele veio! Pelo contrário, fala para Pedro para não ter medo, nem da sua fraqueza, nem da sua natureza pecaminosa, nem das suas falhas. Jesus chama-o tal como ele é. Ele ama-nos, não como gostaríamos de ser, mas como somos de facto. Não devemos ter medo da nossa realidade humana e pecadora, pois todos nós carregamos “um tesouro em vaso de barro” (2Cor 4, 7), mas podemos caminhar com confiança porque “se Deus está a nosso favor, quem estará contra nós?” (Rm 8, 1). Somos chamados a segui-Lo como somos.

Palavra para o caminho

Pedro lançou as redes para a pesca, não baseado nas suas capacidades de pescador experimentado, mas por causa da Palavra de Jesus ou sobre a Palavra de Jesus. Palavra aqui diz-se rhêma, que tem o significado fortíssimo de «Palavra que acontece» ou de «Acontecimento que fala». Entenda-se também então que a nova missão de pescador de homens que Jesus lhe confia terá de ser também somente assente nesta Palavra de Jesus. A missão de Pedro e a nossa!

Jesus, dá uma nova identidade a Pedro: “pescador de homens”. E o episódio termina com o evangelista a dizer que Pedro e os companheiros tendo deixado tudo, seguiram Jesus. Este seguimento de Jesus a que Pedro e nós somos convidados, não se destina a aprender uma doutrina ou uma ideia, mas a seguir de perto uma Pessoa, Jesus de Nazaré, e a sua maneira concreta de viver. É a adesão a uma Pessoa que está em causa para Pedro e para nós.

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