13º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 9, 51-62) 

Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. E foram para outra povoação. Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que fores.» Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus.»

Ecos da Palavra

Neste Domingo XIII do Tempo Comum temos a graça de ouvir o Evangelho de Lucas 9,51-62, que é uma página sublime e sobrecarregada de cenários de seguimento, sucessivos e desconcertantes, que interpelam todos aqueles, de ontem e de hoje, que são chamados a seguir o caminho de Jesus.

Jesus “dirigiu-se resolutamente” na direcção de Jerusalém. É uma a atitude firme e decidida da qual não quer voltar atrás. Jesus caminha sem hesitação para a Cruz.

Jesus envia alguns mensageiros à sua frente com a missão de preparar a vinda do próprio Jesus. Extraordinária e preciosa indicação. A missão excede o mensageiro, que é sempre e só um preparador de caminhos para a vinda daquele que há-de vir, Jesus Cristo, que é assim o único imprescindível!.

Tiago e João, os filhos de Zebedeu, tomados pela ilusão do poder, propõem a Jesus dizimar uma povoação samaritana só porque esta recusa acolher Jesus. Os dois irmãos discípulos não entenderam ainda o caminho manso e humilde de Jesus. A mesma rejeição tinha acontecido no início da missão de Jesus em Nazaré. Portanto, e sem medos e sem equívocos, a rejeição acompanha o Evangelho em pessoa, que é Jesus Cristo. Os seus discípulos de ontem e de hoje devem saber estas coisas, para não procurarem facilidades no seguimento fiel do caminho de Jesus. Aí está sempre a balizar o caminho a palavra de Jesus: “Se me perseguiram a mim, perseguir-vos-ão também a vós” (João 15,20).

Alguém propõe-se seguir Jesus, com estas palavras: “Seguir-Te-ei para onde quer que vás!”, logo seguidas da declaração de Jesus: “As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça!”. A intenção do narrador é certamente apresentar a força do seguimento de Jesus enquanto tal, não o fazendo depender desta ou daquela circunstância, e fazendo dele um seguimento incondicional. Seguir Jesus é um absoluto, sem condições, atitude posta em destaque pelo facto de Jesus não ter eira nem beira, “não tem onde reclinar a cabeça”, o que torna incontornável a transparência da sua confiança no Pai. Sua e daqueles que o queiram seguir no caminho.

Jesus faz o apelo directo a alguém: “Segue-me!”, a que o visado responde imediatamente: “Permite-me ir primeiro sepultar o meu pai!”. E a resposta, quase escandalosa de Jesus: “Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Tu, vai anunciar o Reino de Deus!”. O caminho novo de Jesus inverte o normal caminhar da experiência humana da vida para a morte. O caminho de Jesus, e segundo Jesus, é da morte para a vida: “nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos; quem não ama, permanece na morte” (1 João 3,14). Quem quiser seguir Jesus tem, portanto, de apostar tudo no novo sentido que Jesus imprime à existência: partir da morte para a vida, com a única chave possível que abre este caminho: o amor.

Finalmente é colocado diante de nós alguém que está disposto a seguir Jesus, desde que Jesus lhe faça uma pequena concessão: permitir que se despeça dos seus familiares. Digamos que pede apenas para dar um pequeno passo atrás, e logo dará dois em frente. Jesus não faz qualquer concessão: “Aquele que deita as mãos ao arado, e olha para trás, não serve para o Reino de Deus!”. Não é possível seguir Jesus olhando para trás. Não é possível abrir caminhos para o Reino de Deus ficando no passado. Trabalhar no projecto do Pai requer dedicação total, confiança no futuro de Deus e audácia para caminhar atrás dos passos de Jesus.

Palavra para o caminho

Seguir Jesus é o coração da vida cristã. O essencial. Nada há mais importante ou decisivo, mais urgente e inadiável.

Jesus utiliza imagens duras e escandalosas para sacudir as consciências. Não procura mais seguidores, mas seguidores mais comprometidos, que o sigam sem reservas, renunciando a falsas seguranças e assumindo as rupturas necessárias. As Suas palavras colocam no fundo uma só questão: que relação queremos estabelecer com Ele, aqueles que nos dizemos seus seguidores?

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“O Seu Nome é João”

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O oitavo dia do nascimento de um menino é uma grande festa em Israel. É nesse dia que o menino é circuncidado e recebe o seu nome. A casa de Isabel enche-se outra vez de familiares e vizinhos. Mais uma vez atento, o narrador diz-nos que aquela gente que veio para a festa queria dar ao menino o nome do seu pai, Zacarias (Lucas 1,59). Nem outra coisa era de supor, dado que, em contexto bíblico, o filho primogénito recebia habitualmente o nome do seu pai. Mas Isabel também estava atenta, e reagiu logo, dizendo: «Não, o menino chamar-se-á JOÃO (Lucas 1,60).

Os presentes ficaram atónitos com a reação de Isabel, e fizeram questão de vincar tal incongruência, referindo que na família ninguém tinha esse nome (Lucas 1,61). Recorreram, pois, ao mudo Zacarias para que se pronunciasse sobre o assunto do nome do menino. Zacarias, porque estava mudo, pediu uma tabuinha de cera, e escreveu: «O seu nome é JOÃO!», o que provocou o espanto de todos os presentes (Lucas 1,62-63).

Porquê, então, o nome de JOÃO? É certo que já o Anjo tinha mencionado a Zacarias este nome em Lucas 1,13. Mas porquê JOÃO, se ali, no livro anagráfico daquela família ninguém registava esse nome? O que significa o nome JOÃO? Em hebraico, JOÃO diz-se Yôhanan. Yôhanan significa literalmente «YHWH faz graça». E o que é fazer «fazer graça»? De forma plástica e concreta, é uma mãe que embala ternamente o seu bebé nos braços e baixa para ele o olhar carinhoso, bondoso, maravilhoso, gracioso, maternal. É este duplo gesto de carinho maternal que é a graça bíblica. Sobretudo aquele olhar belo, enternecido, embevecido, maternal, que enche o bebé de graça.

É assim que Deus olha para nós, e nos acaricia. É assim que Maria é saudada pelo Anjo com aquele: «Alegra-te, Cheia de Graça!» (Lucas 1,28). E é isso que Maria canta no Magnificat: «A minha alma engrandece o Senhor,/ e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,/ porque Ele Olhou (epiblépô = olhar condescendente) para a sua humilde serva» (Lucas 1,46-47).

O nome JOÃO não estava registado no livro anagráfico daquela família. O nome dado não é, portanto, da nossa colheita. Vem de Deus. Foi anunciado pelo Anjo. O que é que isto quer dizer? JOÃO é, por assim dizer, o último profeta do Antigo Testamento, e o primeiro do Novo Testamento. Sendo o último do Antigo Testamento, ele resume todo o Antigo Testamento. E o resumo é este: «Deus faz graça». Sendo o primeiro do Novo Testamento, ele constitui o sumário de todo o Novo Testamento. E o sumário é este: «Deus faz graça».

É a posição estratégica de JOÃO no limiar dos Dois Testamentos, encerrando um e abrindo outro, resumindo um e sumariando outro, que explica a nossa estranheza. Mas JOÃO é uma enorme lição. Neste Belo Nome está contida a inteira Escritura e o inteiro afazer de Deus. Parabéns, menino JOÃO, pelo teu nascimento no nosso mundo. Tu, que nos vieste mostrar Deus!

António Couto

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Nascimento de São João Baptista – 24 de Junho

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* São João Baptista, que foste, como Cristo, anunciado pelo anjo Gabriel. Rogai por nós!

* São João Baptista, que exultaste de alegria no seio de Isabel, quando recebeu a visita da Mãe de Deus. Rogai por nós!

* São João Baptista, que encheste de alegria a tua mãe e mereceste os cuidados de Nossa Senhora. Rogai por nós!

* São João Baptista, que clamaste no deserto, preparando os caminhos do Senhor. Rogai por nós!

* São João Baptista, que pregaste no Jordão um baptismo de penitência para o perdão dos pecados. Rogai por nós!

* São João Baptista, que apontaste o verdadeiro Cordeiro, aquele que tira o pecado do mundo. Rogai por nós!

* São João Baptista, que te proclamaste indigno de desatar as sandálias de Jesus Cristo. Rogai por nós!

* São João Baptista, que quiseste diminuir para que Cristo crescesse, e foste degolado no cárcere por lembrar aos grandes a verdade. Rogai por nós!

* São João Baptista, de quem Cristo disse que eras mais que um profeta e o maior entre os nascidos de mulher. Rogai por nós!

Oração

Glorioso São João Baptista, que fostes santificado no seio materno, ao ouvir vossa mãe a saudação de Maria Santíssima; por intercessão da Virgem Maria e pelos infinitos merecimentos de seu divino Filho, de quem fostes precursor, anunciando-o como Mestre e apontando-o como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, alcançai-nos a graça de darmos também nós testemunho da verdade e selá-lo até, se preciso for, com o próprio sangue, como o fizestes vós, ao ser martirizado.

Abençoai todos os que vos invocam, as nossas famílias, grupos e comunidades cristãs, e fazei que, no meio de nós, floresçam todas as virtudes que praticastes em vida, para que, verdadeiramente animados do vosso espírito, no estado em que Deus nos colocou, possamos um dia gozar convosco da bem-aventurança eterna. Amen.

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Maria peregrina na fé

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Não vamos pensar que a fé inicial de Maria foi sempre “de vento em popa”, sem conhecer dificuldades, perturbações ou provocações. Também Maria teve de ir assimilando pouco a pouco o Evangelho anunciado por Jesus. O sim da anunciação foi o início de um longo itinerário para Deus, de uma verdadeira peregrinação na fé. Teve de renovar cada dia a fé profunda com que disse o seu primeiro sim, para o manter fiel durante toda a vida até à entrega do Filho na cruz.

Desde cedo, a sua fé passou por situações que a puseram à prova: o risco de perder o amor de José, seu noivo, por aceitar a maternidade divina, o nascimento do menino num pobre estábulo em Belém, a fuga para o Egipto, a apresentação do menino no templo quando ouviu a desconcertante profecia de Simeão: “uma espada de dor atravessará o teu coração”, a perda de Jesus no templo. Maria vive a “noite da fé” que atinge o seu auge aos pés da cruz unida a Cristo sofredor no seu despojamento total. Mediante a fé, a mãe participa na morte do Filho com fidelidade, de modo bem diferente dos apóstolos, que fugiram.

D. António Marto

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Quão inefável é a tua condescendência

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Ó Jesus! Se eu pudesse dizer a todas as pequenas almas quão inefável é a tua condescendência!… Sinto que, se por um impossível, encontrasses uma alma mais débil, mais fraca do que a minha, deleitar-Te-ias a cumulá-la de favores ainda maiores, se ela se abandonasse com inteira confiança à Tua misericórdia infinita.

Santa Teresa do Menino Jesus

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12º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 9, 18-24)

Um dia, Jesus orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.»  Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.» Ele proibiu-lhes formalmente de o dizerem fosse a quem fosse; e acrescentou: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.» Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la.»

E vós, quem dizeis que Eu sou?

Se nas comunidades cristãs deixamos apagar a nossa fé em Jesus, perderemos a nossa identidade. Não conseguiremos viver com audácia criadora a missão que Jesus nos confiou; não nos atreveremos a enfrentarmos o momento actual, abertos à novidade do Seu Espírito; iremos asfixiar-nos na nossa mediocridade.

Os tempos que estamos a viver não são fáceis. Se não nos voltamos para Jesus com mais verdade e fidelidade, a desorientação paralisar-nos-á; as nossas grandes palavras continuarão a perder credibilidade. Jesus é a chave, o fundamento e a fonte de tudo o que somos, dizemos e fazemos. Quem é hoje Jesus para os cristãos?

Nós confessamos, como Pedro, que Jesus é o Messias de Deus, o Enviado do Pai. É certo: Deus amou tanto o mundo que nos ofereceu Jesus. Sabemos nós, os cristãos, acolher, cuidar, desfrutar e celebrar esta grande oferta de Deus? É Jesus o centro das nossas celebrações, encontros e reuniões?

Confessamos também que Jesus é o Filho de Deus. Ele nos pode ensinar a conhecer melhor Deus, a confiar mais na Sua bondade de Pai, a escutar com mais fé o seu apelo para construirmos um mundo mais fraterno e justo para todos. Estamos a descobrir nas nossas comunidades o verdadeiro rostro de Deus encarnado em Jesus? Saberemos anunciá-lo e comunicá-lo como uma grande notícia para todos?

Chamamos a Jesus Salvador porque tem força para humanizar as nossas vidas, libertar as nossas pessoas e encaminhar a história humana para a sua verdadeira e definitiva salvação. É esta a esperança que se respira entre nós? É esta a paz que se contagia a partir das nossas comunidades?

Confessamos a Jesus como nosso único Senhor. Não queremos ter outros senhores nem submeter-nos a falsos ídolos. Mas, ocupa Jesus realmente o centro das nossas vidas? Damos-lhe primazia absoluta nas nossas comunidades? Colocamo-lo acima de tudo e de todos? Somos de Jesus? É Ele quem nos anima e faz viver?

A grande tarefa dos cristãos é hoje juntar forças e abrir caminhos para reafirmar muito mais a centralidade de Jesus na Sua Igreja. Tudo o resto vem depois.

Palavra para o caminho

Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me”. O dizer de Jesus, o seu ensinamento novo, não é para elites, para alguns iluminados. É para todos: ricos e pobres, maus e bons, especialistas e ignorantes. A vida cristã, que consiste em seguir Jesus, é coisa quotidiana, de todos os dias. Não é só para alguns dias de festa. Não pode ter pausas.

Dizer não a si mesmo é pensar ao contrário do que estamos habituados a fazer. Pensamos sempre primeiro em nós, em salvar-nos a nós mesmos. E para nos salvarmos a nós mesmos, pensamos nós, temos de nos antecipar aos outros, ser mais espertos do que os outros, passar à frente dos outros. Exactamente o contrário de Jesus, que não quis salvar-se a si mesmo. Quis salvar-nos a nós, pôr-se ao nosso serviço, fazer-se fonte de água viva para nós. Estamos, portanto, perante a lógica nova do “quem perde, ganha”, que é o jogo novo do cristianismo.

Não se pode ser cristão, discípulo de Jesus, seguir Jesus, dizer Jesus, sem dar a vida. Tudo, e não apenas o supérfluo. Dar o que sobra não tem a marca de Deus, não é fazer a verdadeira memória de Jesus, que se entregou a si mesmo por nós (Efésios 5,2), por mim (Gálatas 2,20). O supérfluo deixa a vida intacta. O dom de si mesmo transforma a vida para sempre.

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Vós estais comigo, Senhor

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Ó meu Deus! Como sois meigo para com a vitimazinha do vosso amor misericordioso! Nem sequer agora que Vós juntais o sofrimento exterior [a tuberculose] às provações da minha alma, posso dizer: “Rodearam-me as angústias da morte”, mas exclamo com gratidão: “Desci até ao vale da sombra da morte, mas não receio nenhum mal: porque Vós estais comigo, Senhor!

Santa Teresa do Menino Jesus

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Santo António – 13 de Junho

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Santo António nasceu em Lisboa numa família nobre, por volta de 1195, e foi baptizado com o nome de Fernando. Uniu-se aos Cónegos que seguiam a regra monástica de Santo Agostinho, primeiro no mosteiro de São Vicente em Lisboa e, sucessivamente, no da Santa Cruz em Coimbra, famoso centro cultural de Portugal. Dedicou-se com interesse e solicitude ao estudo da Bíblia e dos Padres da Igreja, adquirindo aquela ciência teológica que fez frutificar na actividade do ensino e da pregação. Aconteceu em Coimbra o episódio que contribuiu para uma mudança decisiva na sua vida: ali, em 1220 foram expostas as relíquias dos primeiros cinco missionários franciscanos, que tinham ido a Marrocos, onde encontraram o martírio. A sua vicissitude fez nascer no jovem Fernando o desejo de os imitar e de progredir no caminho da perfeição cristã: então, pediu para deixar os Cónegos agostinianos e para se tornar Frade Menor. O seu pedido foi aceite e, tomando o nome de António, partiu também ele para Marrocos, mas a Providência divina dispôs de outro modo. Após uma doença, foi obrigado a partir para a Itália e, em 1221, participou no famoso “Capítulo das Esteiras” em Assis, onde encontrou também São Francisco. Em seguida, viveu algum tempo no escondimento total num convento de Forli, no norte da Itália, onde o Senhor o chamou para outra missão. Enviado, por circunstâncias totalmente casuais, a pregar por ocasião de uma ordenação sacerdotal, mostrou ser dotado de ciência e eloquência, e os Superiores destinaram-no à pregação. Começou assim na Itália e na França, uma actividade apostólica tão intensa e eficaz que induziu muitas pessoas que se tinham afastado da Igreja a reconsiderar a sua decisão. António foi também um dos primeiros mestres de teologia dos Frades Menores, ou até o primeiro. Iniciou o seu ensino em Bolonha, com a bênção de São Francisco, o qual, reconhecendo as virtudes de António, lhe enviou uma breve carta, que iniciava com estas palavras: “Agrada-me que ensines teologia aos frades”. António lançou as bases da teologia franciscana que, cultivada por outras insignes figuras de pensadores, teria conhecido o seu ápice com São Boaventura de Bagnoregio e com o Beato Duns Escoto.

Tornando-se Superior dos Frades Menores da Itália setentrional, continuou o ministério da pregação, alternando-o com as funções de governo. Concluído o cargo de Provincial, retirou-se para perto de Pádua, onde viria a falecer a 13 de Junho de 1231. O próprio Papa Gregório IX, que depois de o ter ouvido pregar o tinha definido “Arca do Testamento”, canonizou-o só um ano depois da morte, em 1232, também após os milagres que se verificaram por sua intercessão.

No último período de vida, António pôs por escrito dois ciclos de “Sermões”, intitulados respectivamente “Sermões dominicais” e “Sermões sobre os Santos”, destinados aos pregadores e aos professores dos estudos teológicos da Ordem franciscana. É tanta a riqueza de ensinamentos espirituais contida nos “Sermões”, que o Venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou António Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de “Doutor evangélico”, porque desses escritos sobressai o vigor e a beleza do Evangelho; ainda hoje os podemos ler com grande proveito espiritual.

Pensamentos de Santo António

* É viva a Palavra quando são as obras que falam.

* Quando te sorriem prosperidade mundana e prazeres, não te deixes encantar; não te apegues a eles; brandamente entram em nós, mas quando os temos dentro de nós, nos mordem como serpentes.

* A fé compara-se ao peixe. Assim como o peixe é batido pelas frequentes ondas do mar, sem que morra com isso, também a fé não se quebra com as adversidades.

* A paciência é a melhor maneira de vencer.

* Jerusalém tinha uma porta chamada “Buraco da Agulha”, pela qual não podia entrar um camelo, porque era baixa. Esta porta é Cristo humilde, pela qual não pode entrar o soberbo ou o corcunda avarento. Aquele que pretende entrar por ela tem de se humilhar.

* Maria não afugenta nenhum pecador, antes, recebe a todos os que se refugiam nela e, por isso, é chamada Mãe de Misericórdia: é misericordiosa para com os miseráveis, é esperança para os desesperados.

* Assim como o vento que entra pela boca aberta não mata a sede, mas aumenta-a mais, o mesmo sucede com a vaidade da dignidade.

* Assim como a flor, quando espalha o odor, não se corrompe, também o verdadeiramente humilde não se eleva quando louvado pelo perfume da sua vida de bondade.

* Antes de entrar um raio de sol em casa, não aparece dentro, no ar, o pó; se, porém, entrar um raio de sol, parece cheia de pó.

* Usa mais vezes os ouvidos do que a língua.

* Praticar uma boa obra é orar sem interrupção.

* A caridade é a alma da fé. Se perdida, a fé morre.

* Quem não possui a caridade, ainda que faça muito bem, bem verdadeiro, trabalha em vão.

* Todas as nossas obras são inúteis para a vida eterna, se não são condimentadas com o bálsamo da caridade.

* Entesoura no céu aquele que dá a Cristo; dá a Cristo o que distribui ao pobre.

* A esmola extingue a avareza.

* O avarento é comida do diabo.

 

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11º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 7, 36-8, 3) 

Naquele tempo um fariseu convidou Jesus para comer consigo. Jesus entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» – respondeu ele. «Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.»

Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens.

Ecos da Palavra: dois olhares

Jesus encontra-se na casa de Simão, um fariseu que o havia convidado para comer. Inesperadamente, uma mulher interrompe o banquete. Os convidados, logo, a reconhecem. É uma prostituta da aldeia. A sua presença causa mal-estar e expectativa. Como reagirá Jesus? Expulsá-la-á para que não contamine os convidados?

O fariseu que recebe Jesus à mesa pára o seu olhar sobre o que se vê: uma pecadora (prostituta) introduziu-se na sua casa; para ele, ela não é senão uma pecadora. Quanto a Jesus, lança o seu olhar sobre a mulher procurando ver, através do seu comportamento, tudo o que se passa no seu coração: se ela chora, é porque é infeliz e lamenta o seu passado; se ela molha com as suas lágrimas e limpa com os seus cabelos os pés de Jesus, se ela os beija e sobre eles derrama perfume precioso, é para manifestar o seu grande amor. Não é preciso mais nada para Jesus: Ele perdoa, não porque ela pecou muito, mas porque amou muito, mesmo se ela amou mal; sobretudo, é a sua fé que a salva. Ela faz a experiência do Amor louco de Deus que perdoa, experiência que o fariseu ainda não fez. Porque o fariseu e os convidados se ficam pelas aparências, encerram a mulher no passado. Porque Jesus olha para além das aparências, abre-se à mulher um futuro diferente, e ela parte em paz.

Lucas, o evangelista das mulheres

O Evangelho de Lucas foi considerado sempre o Evangelho das mulheres. Na verdade, Lucas é quem refere o maior número de episódios nos quais se demonstra o trato de Jesus com as mulheres. Mas a novidade, a Boa Nova de Deus para as mulheres, não se encontra nas abundantes citações da sua presença junto de Jesus, mas na conduta de Jesus em relação a elas. Jesus toca-as e deixa-se tocar por elas sem medo de ser contaminado (Lc 7, 39; 8, 44-45.54); diferentemente dos mestres da época, Jesus aceita as mulheres como seguidoras e discípulas (Lc 8, 2-3; 10, 39). A força libertadora de Deus, que opera através de Jesus, faz com que a mulher se levante e assuma a sua dignidade (Lc 13, 13). Jesus é sensível ao sofrimento da viúva e solidariza-se com a sua dor (Lc 7, 13). O trabalho da mulher que prepara o alimento é visto por Jesus como sinal do Reino (Lc 13, 20-21). A viúva perseverante que luta pelos seus direitos converte-se em modelo de oração (Lc 18, 1-8) e a viúva pobre que partilha os poucos bens que tem com os outros é modelo de entrega e de dedicação (Lc 21, 1.4). Numa época em que o testemunho da mulher não era considerado válido, Jesus escolhe as mulheres como testemunhas da sua morte (Lc 23, 49), da sua sepultura (Lc 23, 55-56) e da sua ressurreição (Lc 24, 1-11.22-24).

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