O despojamento de Maria

Maria, que era a Mãe de Deus, não reivindicou o privilégio da sua proximidade com Deus, mas despojou-se a si mesma tomando a condição de serva, tornando-se semelhante a qualquer outra mulher. Viveu na humildade e no escondimento, obedecendo a Deus, até à morte do Filho, morte de cruz. Por isso é que Deus a exaltou e lhe deu o nome que, depois daquele de Jesus, está acima de todo o nome, para que ao nome de Maria todas as cabeças se inclinem, nos céus, na terra e nos abismos, e toda língua proclame que Maria é a Mãe do Senhor, para glória de Deus Pai.

Frei Raniero Cantalamessa, OFMCap

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Vive, ama, sonha, crê. E, com a graça de Deus, nunca te desesperes

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

A catequese de hoje tem por tema: “educar para a esperança”. Por isso pronunciar-la-ei diretamente com o “tu”, imaginando que falo como educador, como pai a um jovem ou a qualquer pessoa aberta ao aprendizado.

Pensa, ali onde Deus te semeou, espera! Espera sempre.

Não te rendas à noite: recordas que o primeiro inimigo a vencer não está fora de ti: mas dentro. Por conseguinte, não concedas espaço aos pensamentos amargos, obscuros. Este mundo é o primeiro milagre que Deus realizou, Deus pôs nas nossas mãos a graça de novos prodígios. Fé e esperança procedem juntas. Crê na existência das verdades mais elevadas e bonitas. Confia no Deus Criador, no Espírito Santo que move tudo para o bem, no abraço de Cristo que espera cada homem no final da sua existência; crê, Ele espera-te. O mundo caminha graças ao olhar de tantos homens que abriram frestas, que construíram pontes, que sonharam e acreditaram; até quando ao redor deles ouviam palavras de escárnio.

Nunca penses que a luta que enfrentas na terra seja totalmente inútil. No final da existência não nos espera um naufrágio: em nós palpita uma semente de absoluto. Deus não desilude: se pôs uma esperança nos nossos corações, não a quer esmagar com frustrações contínuas. Tudo nasce para florescer numa primavera eterna. Também Deus nos criou para florescermos. Recordo aquele diálogo, quando o carvalho pediu à amendoeira: “Fala-me de Deus”. E a amendoeira floresceu.

Onde quer que estejas, constrói! Se estás no chão, levanta-te! Nunca permaneças caído, levanta-te, deixa-te ajudar para ficares em pé. Se estás sentado, começa a caminhar! Se o tédio te paralisa, derrota-o com as obras de bem! Se te sentes vazio ou desmoralizado, pede que o Espírito Santo possa encher de novo a tua carência.

Exerce a paz no meio dos homens e não escutes a voz de quem espalha ódio e divisões. Não escutes essas vozes. Os seres humanos, por mais que sejam diversos uns dos outros, foram criados para viver juntos. Nos contrastes, paciência: um dia descobrirás que cada um é depositário de um fragmento de verdade.

Ama as pessoas. Ama-as uma por uma. Respeita o caminho de todos, linear ou complicado que seja, porque cada um tem uma história para contar. Também cada um de nós tem a própria história para contar. Cada criança que nasce é a promessa de uma vida que de novo se demonstra mais forte do que a morte. Cada amor que brota é um poder de transformação que anseia pela felicidade.

Jesus entregou-nos uma luz que brilha nas trevas: defende-a, protege-a. Aquela luz única é a maior riqueza confiada à tua vida.

E sobretudo, sonha! Não tenhas medo de sonhar. Sonha! Sonha um mundo que ainda não se vê mas que certamente chegará. A esperança leva-nos a crer na existência de uma criação que se estende até ao seu cumprimento definitivo, quando Deus será tudo em todos. Os homens capazes de imaginação ofereceram ao homem descobertas científicas e tecnológicas. Sulcaram os oceanos, calcaram terras que ninguém jamais tinha pisado. Os homens que cultivaram esperanças são os mesmos que venceram a escravidão, e proporcionaram condições melhores de vida nesta terra. Pensai nestes homens.

Sê responsável por este mundo e pela vida de cada homem. Pensa que cada injustiça contra um pobre é uma ferida aberta, e diminui a tua dignidade. A vida não cessa com a tua existência, e neste mundo virão outras gerações que sucederão à nossa e muitas outras ainda. E todos os dias pede a Deus o dom da coragem. Recorda-te que Jesus venceu o medo por nós. Ele venceu o medo! O nosso inimigo mais pérfido nada pode contra a fé. E quando te encontrares amedrontado diante de alguma dificuldade da vida, recorda-te que não vives só por ti mesmo. No Batismo a tua vida já foi imersa no mistério da Trindade e tu pertences a Jesus. E se um dia te assustares, ou pensares que o mal é demasiado grande para ser derrotado, pensa simplesmente que Jesus vive em ti. E é Ele que, através de ti, com a sua mansidão quer submeter todos os inimigos do homem: o pecado, o ódio, o crime, a violência; todos os nossos inimigos.

Tem sempre a coragem da verdade, mas recorda-te: não és superior a ninguém. Recorda-te disto: não és superior a ninguém. Se tivesses permanecido o último a crer na verdade, não fujas por causa disso da companhia dos homens.

Mesmo se vivesses no silêncio de uma ermida, conserva no coração os sofrimentos de cada criatura. És cristão; e na oração restituis tudo a Deus.

Cultiva ideais. Vive por algo que supera o homem. E mesmo se um dia estes ideais apresentarem uma conta alta a pagar nunca deixes de os conservar no coração. A fidelidade obtém tudo.

Se erras, levanta-te: nada é mais humano do que cometer erros. E aqueles mesmos erros não se devem tornar para ti uma prisão. Não fiques preso nos teus erros. O Filho de Deus veio não para os sadios, mas para os doentes: portanto, veio também para ti. E se errares ainda no futuro, não temas, levanta-te! Sabes porquê? Porque Deus é teu amigo.

Se a amargura te atinge, crê firmemente em todas as pessoas que ainda trabalham pelo bem: na sua humildade está a semente de um mundo novo. Frequenta pessoas que conservaram o coração como o de uma criança. Aprende da maravilha, cultiva a admiração.

Vive, ama, sonha, crê. E, com a graça de Deus, nunca te desesperes.

Papa Francisco, Audiência Geral, 20 de Setembro de 2017

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“Entrai pela porta estreita” (Mt 7, 13)

Sem esforço, sem trabalho e sem renúncia não se pode experimentar a felicidade. É o que quer dizer a expressão do Evangelho: “Entrai pela porta estreita!” Deus dá a cada um a sua graça, mas só a pode receber quem se despojar e arranjar espaço no seu interior para a acolher.

Vasco P. Magalhães, sj

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“Eis a tua mãe” (Jo 19, 27)

Acolher Maria na nossa vida, como mãe, é cumprir a vontade de Jesus que, na pessoa de João, no-La confiou. Não podemos acolher Jesus na nossa vida sem acolher Maria, sua e nossa Mãe. Como Seus filhos, todos nós acorremos a Ela nas nossas múltiplas necessidades.

 Santo Henrique de Ossó

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“Apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos”

Estão-nos no sangue as letras da vingança. Aprendemos bastante bem e depressa com Lamec o «Cântico da Espada»: «Caim será vingado sete vezes, mas Lamec setenta vezes sete!» (Génesis 4,24). Face a esta barbaridade desmedida, a chamada «Lei de Talião» [pena, não multiplicada, mas igual ao delito: «olho por olho, dente por dente»] representa um enorme progresso civilizacional. Mas Jesus derruba uma e outra mesa, para nos brindar com a desmesura do Perdão, sempre sem motivação. «Senhor, até quantas vezes devo perdoar ao meu irmão? Até sete?», pergunta Pedro a Jesus (Mateus 18,21). «Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!», respondeu Jesus (Mateus 18,22). Desarranjo completo na cabeça de Pedro, e na nossa. O Perdão, segundo Jesus, não se conta pelos dedos, nem pela máquina de calcular. Faz-se simplesmente sempre e sem condição.

Mas Jesus, bom pedagogo, conta uma história. A cena é preenchida por um Rei e um dos seus servos. Este servo tinha uma dívida enorme para com o seu Rei [Deus], contabilizada na soma astronómica de 10.000 talentos (Mateus 18,24).

O montante é colossal. Tão colossal, que é difícil de quantificar com exactidão.A dívida do servo da nossa história é muito superior ao dinheiro que então circulava no país inteiro! Mais coisa menos coisa, diz a Bíblia de Jerusalém, como 174 toneladas de ouro, que o estudioso Richard France, no seu belo Comentário ao Evangelho de Mateus, sobe para 300 toneladas! Entrando por outro tipo de contabilidade, lembro agora que um talento equivalia a cerca de 6.000 denários, sendo um denário o correspondente a um salário diário. Avaliados por este critério, os 10.000 talentos equivaleriam a um montante entre 60 e 100 milhões de denários, que o mesmo é dizer entre 60 e 100 milhões de salários! Ou ainda o correspondente ao salário de um trabalhador durante um período que oscila entre 200 e 250 mil anos.

Vê-se bem que este servo não pode pagar aquela dívida imensa. O Rei [Deus] manda que seja vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possui, em ordem ao pagamento da dívida. Aqui o servo pediu ao Rei [Deus] que lhe desse um prazo, e que pagaria tudo. Auge da cena. Será que o Rei [Deus] dá o prazo, ou mostrar-se-á impiedoso? Adianto eu: se der o prazo, é demasiado lógico e simétrico, e esta não é a medida do Evangelho, que rebenta sempre os nossos mais pensados calculismos. Se não der o prazo, pior ainda, passa por ser um Deus insensível e impiedoso, que não sabe compadecer-se. Eis a incrível resposta de Deus: «Vai-te embora; estás perdoado!» (Mateus 18,27).

Entenda-se ainda, porque salta à vista: para Deus e para o Evangelho, um acto de Perdão vale mais do que 10.000 talentos e tudo o que isso representa. E veja-se, no seguimento da história, a rapidez com que perdemos a memória, e como, sem dó nem piedade, condenamos um «com-servo» ao pagamento, aqui e já, de uma bagatela (Mateus 18,28)!

António Couto (texto resumido e adaptado)

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Nossa Senhora das Dores – 15 de Setembro

– Deixa-me chorar, ó Senhora, porque sou eu o culpado e vós sois inocente (São Boaventura).

– Se juntássemos as dores do mundo, todas elas não igualariam as penas da Virgem gloriosa (São Bernadino).

– Aprendamos com Jesus e Maria a abraçar as cruzes, porque sem elas não podemos viver neste mundo (Santo Afonso de Ligório).

– As mesmas chagas que estavam espalhadas pelo corpo de Jesus, encontravam-se todas reunidas no coração de Maria (São Boaventura).

– A lança que abriu o lado de Jesus, transpassou a alma da Virgem, que não podia separar-se do Filho (São Bernardo).

– Ó minha Mãe dolorosa, não vos quero deixar chorar sozinha. Quero acompanhar-vos com as minhas lágrimas. Esta graça hoje vos peço: obtende-me uma contínua memória com uma terna devoção à paixão de Jesus e à vossa (Santo Afonso de Ligório).

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24º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 18,21-35)

Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

Na verdade, o reino de Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e suplicou-lhe, dizendo:’Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não conseguiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo mau, perdoei-te, porque me pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração».

Mensagem

Esta narrativa é a última parte do Sermão da Comunidade (Mateus 18). Nela, encontramos a necessidade de perdoar sem limites (18,21-22) e a parábola do perdão (18,23-35).

Diante das palavras de Jesus sobre a reconciliação, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar? Sete vezes?” Sete é um número que indica uma perfeição e, no caso da proposta de Pedro, sete é sinónimo de sempre. Mas Jesus vai mais longe: “Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” Não há proporção entre o amor de Deus para connosco e o nosso amor para com o irmão. Jesus conta uma parábola para esclarecer a sua resposta a Pedro.

Alguém tinha uma dívida de dez mil talentos, isto é, 164 toneladas de ouro. A esse que devia muito, outro tinha uma dívida para com ele de cem denários, correspondente a 30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois. Mesmo que o devedor de dez mil talentos juntamente com mulher e os filhos trabalhasse a vida inteira, jamais seriam capazes de juntar 164 toneladas de ouro. Diante do amor de Deus que perdoa gratuitamente a nossa dívida de 164 toneladas de ouro, é mais do que justo que perdoemos ao irmão a pequena dívida de 30 gramas de ouro. O único limite para a gratuidade da misericórdia de Deus é a nossa incapacidade de perdoar o irmão (Mateus 18,34; 6,15).

Não é que o perdão de Deus depende do nosso: é sempre Deus que toma a iniciativa e nós que respondemos. Mas, somos capazes de tornar nulo o efeito do perdão do Pai, se nós não queremos perdoar os outros. O Pai quer nos perdoar mas nós cortamos o efeito dessa gratuidade divina.

Obviamente, o perdão envolve todo um processo que abrange não só a parte espiritual da pessoa como também a psicológica. Não se consegue eliminar os efeitos das ofensas de uma só vez. Mas, o importante é o “querer” perdoar. O próprio desejo já é o perdão, pois é somente com a graça divina que nós conseguiremos perdoar mesmo. 

Palavra para o caminho

A proposta do texto de hoje vai para além das nossas forças humanas mas não para além da possibilidade da graça divina. Por isso temos que pedir sempre e continuamente o dom do perdão: “Pai, perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

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Os santos, flores do jardim de Jesus

Compreendi que todas as flores que Deus criou são belas, que o esplendor da rosa e a alvura do lírio não tiram o perfume à pequena violeta nem a simplicidade encantadora à margarida… Compreendi que, se todas as pequeninas flores quisessem ser rosas, a natureza perderia o seu adorno primaveril, os campos não ficariam esmaltados de florzinhas… 

Assim acontece no mundo das almas, que é o jardim de Jesus. Ele quis os grandes Santos, que podem ser comparados aos lírios e às rosas; mas criou também outros mais pequenos, e estes devem contentar-se com serem margaridas ou violetas, destinadas a deleitar os olhares de Deus quando olha para o chão. A perfeição consiste em fazer a Sua vontade, em ser o que Ele quer que sejamos…

Santa Teresa do Menino Jesus

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O nosso Deus é o Deus das surpresas

Ouvimos a Palavra de Deus no livro do Apocalipse: «Eis que eu renovo todas as coisas» (21, 5). A esperança cristã baseia-se na fé em Deus que cria sempre novidades na vida do homem, cria novidades na história, cria novidades no cosmos. O nosso Deus é o Deus que cria novidades, porque é o Deus das surpresas.

Não é cristão caminhar cabisbaixo (…) como se todo o nosso caminho acabasse aqui (…) como se na nossa vida não houvesse meta alguma (…). As páginas finais da Bíblia mostram-nos o derradeiro horizonte do caminho do crente: a Jerusalém do Céu, a Jerusalém celeste. E o que fará Deus quando, finalmente, estivermos com Ele? Terá uma ternura infinita por nós, como um pai ao receber os seus filhos que se cansaram e sofreram prolongadamente. […Ele] enxugará todas as lágrimas de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição […] Eis que eu renovo todas as coisas!» (21, 3-5).

Papa Francisco

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Exaltação da Santa Cruz – 14 de Setembro

A 14 de Setembro a Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz. Talvez alguma pessoa não cristã nos pergunte: porque «exaltar» a cruz? Podemos responder que não exaltamos uma cruz qualquer, ou todas as cruzes: exaltamos a Cruz de Jesus, porque nela se revelou ao máximo o amor de Deus pela humanidade. É o que nos recorda o Evangelho de João na liturgia de hoje: «Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (3, 16). O Pai «deu» o Filho para nos salvar, e isto significou a morte de Jesus, e morte de cruz. Porquê? Por que foi necessária a Cruz? Por causa da gravidade do mal que nos mantinha escravos. A Cruz de Jesus exprime as duas coisas: toda a força negativa do mal, e toda a mansidão omnipotente da misericórdia de Deus. A Cruz parece decretar a falência de Jesus, mas na realidade marca a vitória. No Calvário, quantos o escarneciam dizendo: «se és Filho de Deus desce da cruz» (cf. Mt 27, 40). Mas era verdade o contrário: precisamente porque era o Filho de Deus Jesus estava ali, na cruz, fiel até ao fim ao desígnio de amor do Pai. E precisamente por isto Deus «exaltou» Jesus (Fl 2, 9), conferindo-lhe uma realeza universal.

E quando dirigimos o olhar para a Cruz onde Jesus foi pregado, contemplamos o sinal do amor, do amor infinito de Deus por cada um de nós e a raiz da nossa salvação. Daquela Cruz brota a misericórdia do Pai que abraça o mundo inteiro. Por meio da Cruz de Cristo o maligno é vencido, a morte é derrotada, a vida é-nos doada, a esperança é-nos restituída. Isto é importante: por meio da Cruz de Cristo é-nos restituída a esperança. A Cruz de Jesus é a nossa única esperança verdadeira! Eis por que a Igreja «exalta» a santa Cruz, e eis por que nós cristãos abençoamos com o sinal da cruz. Ou seja, nós não exaltamos as cruzes, mas a Cruz gloriosa de Jesus, sinal do amor imenso de Deus, sinal da nossa salvação e caminho rumo à Ressurreição. E é esta a nossa esperança.

Papa Francisco

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