4º Domingo da Quaresma – Ano B

zmart

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 3, 14-21)

Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus. E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más. De facto, quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus.»

Partilha

Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna”. Não se trata de uma frase mais, palavras que poderiam ser eliminadas do Evangelho sem que nada de importante acontecesse. É a afirmação que recolhe o núcleo essencial da fé cristã. Este amor de Deus é a origem e o fundamento da nossa esperança. Deus ama o mundo, ama-o tal como é: inacabado e incerto, cheio de conflitos e contradições, capaz do melhor e do pior. Este mundo não percorre o seu caminho sozinho, perdido e desamparado. Deus envolve-o com o seu amor.

Jesus é o “presente” que Deus Pai dá ao mundo, e não só aos cristãos. Só quem se aproxima de Jesus Cristo como o maior dom do Pai, pode fazer a descoberta da proximidade de Deus de todo o ser humano. A Igreja é chamada a recordar ao mundo este amor de Deus. Nada há de mais importante.

Segundo o evangelista, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo mas para que o mundo seja salvo por seu intermédio. Só no acolhimento podemos chamar uns aos outros à conversão. Se as pessoas sentem-se condenadas, não estamos a transmitir-lhes a mensagem de Jesus mas talvez outra coisa, como os nossos ressentimentos. Neste momento que estamos a viver, em que tudo parece confuso, incerto e desalentador, nada nos impede de introduzir um pouco de amor no mundo: “Onde não há amor, põe amor e colherás amor” (São João da Cruz).

Abrir

3º Domingo da Quaresma – Ano B

Jesus-clenses-temple

Evangelho de Nossa Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 2, 13-25)

Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»

Os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devora. Então os judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes fazer isto?» Declarou-lhes Jesus, em resposta: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?» Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito e creram na Escritura e nas palavras que tinha proferido.

Enquanto Ele estava em Jerusalém, durante as festas da Páscoa, muitos creram nele ao verem os sinais miraculosos que realizava. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que ninguém o elucidasse acerca das pessoas, pois sabia o que havia dentro delas.

Reflexão

Os quatro evangelistas fazem eco do gesto provocativo de Jesus que expulsa do Templo de Jerusalém os “vendedores” de animais e “cambistas” de dinheiro. Jesus enche-se de indignação. Com um chicote retira do recinto sagrado os animais, revira as mesas dos cambistas, esparramando por terra as suas moedas, e grita: “Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira”.

João acrescenta um diálogo com os judeus no qual Jesus afirma de maneira solene que, após a destruição do Templo, ele “o levantará em três dias”. Ninguém entendeu o que ele disse. Por isso, o evangelista acrescenta: “Jesus falava do templo de seu corpo”.

O evangelista recorda aos seguidores de Jesus que eles não devem sentir saudades do velho templo, que já não existia quando o evangelista escreve o seu evangelho. Jesus, “destruído” pelas autoridades religiosas, porém “ressuscitado” pelo Pai, é o “novo templo”. Não é uma metáfora atrevida. É uma realidade que deve marcar para sempre a relação dos cristãos com Deus. As portas deste novo templo, que é Jesus, estão abertas a todos. Ninguém está excluído. O Deus que habita em Jesus é de todos e para todos.

Temos que transformar as nossas comunidades cristãs em espaço onde todos possam sentir-se na “casa do Pai”. Uma casa acolhedora que não fecha as portas a ninguém. Uma casa onde aprendamos a escutar o sofrimento dos filhos mais desvalidos de Deus e não somente o nosso próprio interesse. Uma casa onde possamos invocar Deus como Pai porque nos sentimos seus filhos e procuramos viver como irmãos.

Abrir

2º Domingo da Quaresma – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 9, 2-10)

Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, só a eles, a um monte elevado. E transfigurou-se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma da terra as poderia branquear assim. Apareceu-lhes Elias, juntamente com Moisés, e ambos falavam com Ele. Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: «Mestre, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.» Não sabia que dizer, pois estavam assombrados. Formou-se, então, uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.» De repente, olhando em redor, já não viram ninguém, a não ser só Jesus, com eles. Ao descerem do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, senão depois de o Filho do Homem ter ressuscitado dos mortos. Eles guardaram a recomendação, discutindo uns com os outros o que seria ressuscitar de entre os mortos.

Reflexão

A segunda parte do Evangelho de Marcos começa com um anúncio da Paixão, posto na boca de Jesus (cf. Mc 8,31-32). Nesta altura, os discípulos já tinham percebido que Jesus era o Messias libertador que Israel esperava (cf. Mc 8,29); mas ainda acreditavam que a missão messiânica de Jesus se ia concretizar num triunfo militar sobre os opressores romanos. Marcos vai explicar aos crentes a quem o Evangelho se destina que o projecto messiânico de Jesus não se vai concretizar em triunfos humanos, mas sim na cruz – isto é, no amor e no dom da vida.

O relato da transfiguração de Jesus é antecedido do primeiro anúncio da paixão (cf. Mc 8,31-33) e de uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo (convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega da vida – cf. Mc 8,34-38). Depois de terem ouvido falar do “caminho da cruz” e de terem constatado aquilo que Jesus pede aos que O querem seguir, os discípulos estão desanimados e frustrados, pois a aventura em que apostaram parece encaminhar-se para um rotundo fracasso; eles vêem esfumar-se – nessa cruz que irá ser plantada numa colina de Jerusalém – os seus sonhos de glória, de honras, de triunfos e perguntam-se se vale a pena seguir um mestre que nada mais tem para oferecer do que a morte na cruz.

É neste contexto que Marcos coloca o episódio da transfiguração. A cena constitui uma palavra de ânimo para os discípulos (e para os crentes, em geral), pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é – apesar da cruz que se aproxima – o Filho amado de Deus. Os discípulos recebem, assim, a garantia de que o projecto que Jesus apresenta é um projecto que vem de Deus; e, apesar das suas próprias dúvidas, recebem um complemento de esperança que lhes permite “embarcar” e apostar nesse projecto que passando pela cruz, que não será a palavra final, no fim do caminho de Jesus (e, consequentemente, dos discípulos que seguirem Jesus) está a ressurreição, a vida plena, a vitória sobre a morte.

Palavra para o caminho

Só Jesus irradia luz. Todos os outros, profetas, mestres, teólogos hierarcas, doutores, pregadores, temos o rosto apagado. Não devemos confundir ninguém com Jesus. Só Ele é o Filho muito Amado. Só a sua Palavra é a única que temos de escutar. Tudo o resto nos deve levar até Ele.

E temos de escutar também hoje, quando nos fala de “carregar a cruz” destes tempos. Hoje são-nos oferecidas mais oportunidades de viver como cristãos “crucificados”. Faz-nos bem. Ajuda-nos a recuperar a nossa identidade cristã.

Abrir

1º Domingo da Quaresma – Ano B

Cinzas - na Quaresma

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 12-15)

Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto. E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no.

Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.»

Reflexão

Antes de começar a narrar a actividade profética de Jesus, Marcos escreve estes breves versículos: “o Espírito impeliu-o para o deserto. E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no”. Essas breves linhas são um resumo das experiências básicas vividas por Jesus até à sua execução na cruz. Jesus não conheceu uma vida fácil e tranquila. Viveu impelido pelo Espírito, mas sentiu na sua própria carne as forças do mal. A sua entrega apaixonada ao projecto de Deus levou-o a viver uma existência dilacerada por conflitos e tensões. Com ele aprendemos a viver em tempos de provação.

O Espírito levou Jesus para o deserto. Não o conduz a uma vida cómoda. Leva-o por caminhos de prova, riscos e tentações. Procurar o reino de Deus e a sua justiça, anunciar Deus sem o falsear, trabalhar por um mundo mais humano é sempre arriscado. Foi para Jesus e será para os seus seguidores.

Ficou no deserto durante quarenta dias. Esse lugar inóspito e nada acolhedor é símbolo de prova e purificação. O melhor lugar para aprender a viver do essencial, mas também o mais perigoso para quem fica abandonado às suas próprias forças.

Era tentado por Satanás. Satanás significa “o adversário”, a força hostil a Deus e a quem trabalha pelo seu reinado. Na tentação descobre-se o que há em nós de verdade ou de mentira, de luz ou de trevas, de fidelidade a Deus ou de cumplicidade com a injustiça.

Marcos diz que Jesus proclamava o Evangelho de Deus. Jesus faz-nos saber que Deus é uma Boa Nova para a vida humana, o que implica mudar de vida e acreditar.

Mudar de vida! Alguns traduzem “fazei penitência”, outros: “convertei-vos” ou “arrependei-vos”. O sentido exacto é mudar o modo de pensar e de viver. Para perceber esta presença do Reino a pessoa deve começar a pensar, viver e agir de um modo diferente. Deve mudar a vida e deixar que a nova experiência de Deus invada a sua vida e e lhe dê olhos novos para ler e entender os factos.

Crede na Boa Nova! Não é fácil aceitar a mensagem. Não é fácil começar a pensar de um modo diferente daquele que se aprendeu desde pequenino. Isto é possível através de um acto de fé. Quando alguém traz uma notícia inesperada, difícil de aceitar, aceita-se somente se a pessoa que a anuncia é digna de confiança. Sendo assim, dirá aos outros: “Pode-se aceitar! Conheço a pessoa, ela não engana. É de confiança, fala com verdade”. Jesus é digno de confiança!

Palavra para o caminho

Temos de viver estes tempos difíceis com os olhos fixos em Jesus. É o Espírito de Deus que nos está a empurrar para o deserto. Desta crise sairá um dia uma Igreja mais humilde e mais fiel ao Seu Senhor. Esta experiência de deserto é um tempo inesperado de graça e purificação que temos de agradecer a Deus. Somente nos pede que rejeitemos, com lucidez, as tentações que nos podem desviar, uma vez mais, da conversão a Jesus Cristo.

Abrir

6º Domingo do Tempo Comum – Ano B

49242227

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 40-45)

Um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: «Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.

Reflexão

O Evangelho deste sexto Domingo do Tempo Comum mostra-nos como Jesus acolhe um leproso. Naquele tempo, os leprosos eram as pessoas mais excluídas da sociedade, e eram evitadas por todos. Não podiam participar em nada, porque antigamente a falta de remédios eficazes, o medo do contágio e a necessidade de defender a vida da comunidade obrigava as pessoas a afastarem-se e a excluírem os leprosos. Além do mais, entre o povo de Deus, onde a defesa do dom da vida era um dos deveres mais sagrados, chegou a pensar-se que era uma obrigação divina a exclusão dos leprosos, porque era a única maneira de defender a comunidade contra o contágio da morte. Por isso, em Israel, o leproso sentia-se impuro e excluído não só da sociedade mas também de Deus (Lv 14, 1-32).

O leproso de que nos fala o Evangelho mostra muita coragem. Esquece as normas da religião para se aproximar de Jesus. Diz-lhe: “Se quiseres podes curar-me!”. Ou seja, não há necessidade que me toques. Basta quereres, para que eu fique curado. A frase revela dois males: o mal da enfermidade da lepra que o convertia em impuro; e o mal da solidão a que estava condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé deste homem no poder de Jesus.

Acolhendo e curando o leproso Jesus revela o novo rosto de Deus. Profundamente compadecido, Jesus cura os dois males. Em primeiro lugar, para curar o mal da solidão, toca o leproso. É como se lhe dissesse: “Para mim, tu não és um excluído. Acolho-te como irmão!”. Em segundo lugar, cura a enfermidade da lepra dizendo: “Quero! Fica limpo!”. Para poder entrar em contacto com Jesus, o leproso transgrediu as normas da lei. Jesus, para poder ajudar o excluído e assim revelar o novo rosto de Deus, transgrediu as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo quem tocasse num leproso convertia-se em impuro aos olhos das autoridades religiosas e perante a lei da época.

Jesus não só cura como quer também que a pessoa curada possa novamente conviver com os outros. Reintegra a pessoa na convivência. Naquele tempo, para que um leproso fosse de novo acolhido na comunidade, tinha necessidade de um certificado dado por um sacerdote de que estava curado. Assim estava escrito na lei relativamente à purificação de um leproso (Lv 14, 1-32). O mesmo acontece hoje. O doente sai do hospital com um certificado médico assinado pelo respectivo médico. Jesus obriga o leproso a entregar o documento às autoridades competentes de modo que possa reinserir-se com normalidade na sociedade, obrigando assim as autoridades a reconhecer que o homem estava curado.

Jesus proibira o leproso de falar da cura. Mas este não o faz. O leproso começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. Qual a razão de Jesus ficar fora em lugares desertos? Jesus tocou o leproso. Portanto, segundo a opinião da religião daquele tempo, é Jesus que agora está impuro e deve viver afastado de todos. Não podia entrar nas cidades. Mas Marcos indica que as pessoas pouco se importam destas normas oficiais e de todas as partes iam ter com Ele. Subversão total!

Palavras para o caminho

Gostaria de vos deixar uma pequena recordação pessoal ligada ao Evangelho. Quando visitei uma leprosaria na Amazónia, um leproso pediu o seguinte, durante a missa: ‘Peçamos ao Senhor que ajude o padre Ermes, porque na Europa é muito difícil manter a fé’. Em vez de rezar por si, rezou por mim. No fim da missa perguntei-lhe: ‘Quando tu te encontrares com o Senhor, vais perguntar-lhe por que razão eras leproso?’. E ele: ‘Não lhe vou perguntar nada, eu sempre me fiei d’Ele’” (Ermes Ronchi).

Hoje em dia, a doença mais terrível do Ocidente não é a tuberculose nem a lepra, é a sensação de ser indesejado, de não ser amado, de ser abandonado. Tratamos as doenças do corpo por meio da medicina; mas o único remédio para a solidão, para a confusão e para o desespero é o amor. São muitas as pessoas que morrem neste mundo por falta de um pedaço de pão, mas são muitas mais as que morrem por falta de um pouco de amor. A pobreza no Ocidente é outra espécie de pobreza; não se trata apenas de uma pobreza de solidão, é também uma pobreza de espiritualidade. Há uma fome que é fome de amor, como também há uma fome de Deus” (Santa Teresa de Calcutá).

Abrir

Pelas suas chagas fomos curados

Cristo Signore della Salvezza

Andava pois já a minha alma cansada e, embora quisesse, não a deixavam descansar os ruins costumes que tinha. Aconteceu-me que, entrando eu um dia no oratório, vi uma imagem, que para ali trouxeram a guardar; tinham-na ido buscar para certa festa que se fazia na casa. Era a de Cristo muito chagado e tão devota que, ao pôr nela os olhos, toda eu me perturbei por O ver assim, porque representava bem o que passou por nós. Foi tanto o que senti por tão mal Lhe ter agradecido aquelas chagas, que o coração, me parece, se me partia e arrojei-me junto d’Ele com grandíssimo derramamento de lágrimas, suplicando-Lhe me fortalecesse de uma vez para sempre para não O ofender.

Santa Teresa de Jesus

Abrir

5º Domingo do Tempo Comum – Ano B

john_bridges_christ_healing_the_mother_of_simon_peter_700

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 29-39)

Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta. Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era.

De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» Mas Ele respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios.

Reflexão 

No meio da sua intensa actividade de profeta itinerante, Jesus nunca descurou a comunicação com Deus Pai no silêncio e na solidão. O episódio narrado por Marcos ajuda-nos a conhecer o que significava a oração para Jesus. O dia anterior tinha sido uma jornada dura e trabalhosa. Jesus curou muitos enfermos. O êxito foi muito grande. Cafarnaúm estava comovida. A população aglomerava-se à volta de Jesus. Todos falam dele. Nessa mesma noite, de madrugada, entre as três e as seis da manhã, Jesus levanta-se e, sem avisar ninguém, retira-se para um lugar solitário e ali começou a orar. Jesus tem necessidade de estar a sós com o Pai. Não quer deixar-se dominar pelo êxito. Unicamente procura a vontade do Pai: conhecer bem o caminho que deve percorrer. Surpreendidos pela sua ausência, Pedro e os seus companheiros vão à sua procura para que retorne, interrompendo a sua oração Mas Jesus só pensa no projecto do Pai e não se deixa programar a partir do exterior. Nada nem ninguém o afastará do seu caminho. Não tem interesse em desfrutar do êxito que teve em Cafarnaúm e não cede ao entusiasmo popular. Há aldeias que ainda não escutaram a Boa Nova de Deus: “Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim”.

Assistimos hoje ao despertar da necessidade de cuidar mais e melhor a comunicação com Deus, no silêncio e na meditação, mas, infelizmente, muitos cristãos, já não sabem estar a sós com o Pai. Mas há também muitos que trabalham para que a Igreja de Deus viva de maneira mais contemplativa. Os pregadores e catequistas correm o risco de falar muito acerca de Deus mas de falar pouco com Ele. Nas paróquias fazem-se muitas reuniões de trabalho, mas pode acontecer que não saibamos retirar-nos para descansar na presença de Deus e encher-nos da sua Paz. Corremos o risco de cair no activismo, no desgaste e no vazio interior. O desafio que nos é colocado não é o de não ter problemas mas antes, se temos a força espiritual necessária para os enfrentar.

 

Abrir

União transformante

?????????

Existe uma união entre Deus e o homem, e esta união é o mais alto e o último fim da existência humana, a beatitude e a perfeição do homem. Na essência divina não muda nada, mas a essência individual do homem alcança a sua perfeição através desta união transformante.

Santa Teresa Benedita da Cruz

 

Abrir

4º Domingo do Tempo Comum – Ano B

resurrected-christ-with-people-1103021-gallery

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 21-28)

Entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, veio à sinagoga e começou a ensinar. E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar: «Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

Os Evangelhos: de Jesus às comunidades cristãs

O texto do Evangelho deste quarto Domingo do Tempo Comum fala da admiração das pessoas ao verem como Jesus transmite a sua mensagem (Mc 1,21-22); depois apresenta o primeiro milagre em que se refere a expulsão de um demónio (Mc 1,23-26); finalmente, fala de novo da admiração das pessoas perante o ensinamento de Jesus e do seu poder de expulsar os espíritos imundos (Mc 1,27-28).

Nem todos os evangelistas contam os actos da vida de Jesus da mesma maneira. Face às necessidades das comunidades para quem escreviam, cada um deles acentuava alguns pontos e aspectos da vida, actos e ensinamentos de Jesus que mais pudessem ajudar os seus leitores. Um exemplo concreto desta diversidade é o modo como cada um apresenta o primeiro milagre de Jesus. No Evangelho de João, o primeiro milagre sucede nas Bodas de Caná da Galileia, onde Jesus transformou água em vinho (Jo 2,1-11). Para Lucas, o primeiro milagre é a tranquilidade com que Jesus se livra da ameaça de morte por parte do povo de Nazaré (Lc 4,29-39). Para Mateus, é a cura de um grande número de doentes e endemoninhados (Mt 4,23), ou, mais especificamente, a cura de um leproso (Mt 8,1-4). Para Marcos, o primeiro milagre é a expulsão de um demónio (Mc 1,23-26).

Assim, cada Evangelista, na sua maneira de narrar as coisas, revela quais são, segundo ele, os pontos mais importantes nos actos e ensinamentos de Jesus. Cada um tem uma preocupação diferente que trata de transmitir aos seus leitores e às comunidades.

Os oito pontos da missão da comunidade

Após a descrição da preparação da Boa Nova (Mc 1,1-13) e da sua proclamação (Mc 1,14-15), Marcos reúne, um após outro, oito episódios ou actividades de Jesus para descrever a missão das comunidades (Mc 1,16-45). É a mesma missão que Jesus recebeu do Pai (Jo 20,21). Estes oito episódios são oito critérios para as comunidades fazerem uma boa revisão e verificar se estão a realizar bem a sua missão. Vejamos:

1) Mc 1,16-20: Criar comunidade. A primeira coisa que Jesus faz é chamar pessoas para segui-lo. A tarefa básica da missão é congregar as pessoas em torno de Jesus e criar comunidade.

2) Mc 1,21-22: Despertar a consciência crítica. A primeira coisa que o povo percebe é a diferença entre o ensino de Jesus e o dos escribas. Faz parte da missão contribuir para que o povo crie consciência crítica.

3) Mc 1,23-28: Combater o poder do mal. O primeiro milagre de Jesus é a expulsão de um espírito impuro. Faz parte da missão combater o poder do mal que estraga a vida e aliena as pessoas de si mesmas.

4) Mc 1,29-31: Restaurar a vida para o serviço. Jesus curou a sogra de Pedro, ela levantou-se e começou a servir. Faz parte da missão preocupar-se com os doentes de tal modo que possam levantar-se e voltar a prestar serviço aos outros.

5) Mc 1,32-34: Acolher os marginalizados. Depois que o sábado passou, o povo trouxe até Jesus todos os doentes e endemoninhados, para que Jesus os curasse, e ele curou a todos, impondo-lhes as mãos. Faz parte da missão acolher os marginalizados.

6) Mc 1,35: Permanecer unido ao Pai pela oração. Após um dia de trabalho até tarde, Jesus levantou-se cedo para poder rezar num lugar deserto. Faz parte da missão permanecer unido à fonte da Boa Nova que é o Pai, através da oração.

7) Mc 1,36-39: Manter a consciência da missão. Os discípulos gostaram do resultado e queriam que Jesus voltasse. Mas ele seguiu adiante. Faz parte da missão não se fechar no resultado já obtido e manter viva a consciência da missão.

8) Mc 1,40-45: Reintegrar os marginalizados na convivência. Jesus cura um leproso e pede que se apresente ao sacerdote para poder ser declarado curado e voltar a conviver com o povo. Faz parte da missão reintegrar os marginalizados na convivência humana.

Estes oito pontos, tão bem escolhidos por Marcos, mostram o rumo e o objectivo da missão de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Estes mesmos oito pontos podem servir como avaliação para a nossa comunidade. Por aí vemos como Marcos constrói o seu Evangelho. Construção bonita, que leva em conta duas coisas ao mesmo tempo (1) informa as pessoas a respeito das coisas que Jesus fez e ensinou; (2) forma as comunidades e as pessoas para a missão de anunciadoras da Boa Nova.

Abrir