Resumo da Carta do Prior Geral da Ordem do Carmo

RESUMO DA CARTA DO PRIOR GERAL POR OCASIÃO

SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DO CARMO 2017

Queridos irmãos e irmãs da Família Carmelita:

Aproxima-se a Festa de Nossa Senhora do Carmo e, como acontece todos os anos, quero enviar-vos uma afectuosa saudação e as minhas mais sinceras felicitações.

Desejo, em primeiro lugar, recordar-vos que estamos a comemorar o 1º Centenário das Aparições de Fátima. É bem conhecido que na sexta aparição, acontecida em Outubro de 1917, os pastorinhos referiram que Nossa Senhora apareceu sob a invocação de “Nossa Senhora do Carmo” que era venerada na sua paróquia (ver foto). Em 1924, testemunhando perante o tribunal diocesano, Lúcia insistiu no mesmo e acrescentou que “tinha uma coisa pendurada na sua mão direita” (o Santo Escapulário).

Igualmente, quando em 1950, o Pe. Kilian Lynch, Prior Geral da Ordem, visitou a vidente Lúcia, ela realçou de que se tratava de Nossa Senhora do Carmo. Inclusivamente, noutros encontros com outros carmelitas, Lúcia realçou que estava surpreendida por não se ter destacado mais este aspecto e que não se tivesse feito uma promoção maior da devoção do Escapulário do Carmo, inspirada pelas mesmas aparições.

Seja como for, neste Centenário das Aparições, a Família Carmelita renova de algum modo a sua devoção mariana e agora que se aproxima a Festa de Nossa Senhora do Carmo, também nós lhe pedimos que nos dê uma fé simples e profunda e uma devoção que não caia nos sentimentalismos vazios ou nos afectos passageiros, mas que, bem enraizada nos nossos corações, nos conduza à descoberta diária da Boa Nova do Evangelho e nos anime a anunciá-la com coragem e autenticidade.

O Papa Francisco na visita que fez a Fátima insistiu que os valores do Evangelho transformam e revolucionam a nossa vida e a devoção à Virgem ajuda-nos a descobri-los e a vivê-los em plenitude. A devoção mariana, de facto, se é autêntica, o mínimo que pode fazer é tornar-nos mais humanos: “Cada vez que olhamos para Maria voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos mas dos fortes”.

Neste Centenário, recordamos também de uma forma especial todos os enfermos da Família Carmelita. O Papa na visita que fez a Fátima teve para eles palavras muito afectuosas quando disse que os doentes são “um tesouro valioso da Igreja”. Que nesta Festa de Nossa Senhora do Carmo tenhamos muito presente os que padecem a doença e renovemos o nosso empenho em ajudá-los, acompanhá-los e compartilhar com eles o melhor que temos. Que em vez da cultura do descarte e da comodidade egoísta, eles sejam, de verdade, um tesouro nas nossas famílias e nas nossas comunidades carmelitas.

Em segundo lugar, desejo assinalar que este ano estamos a celebrar o 75º aniversário da morte do Beato Tito Brandsma no campo de concentração de Dachau e o 50º aniversário da morte do grande teólogo carmelita Bartolomé F. Mª Xiberta.

Os dois destacaram-se pela sua grande devoção mariana e escreveram de forma prolixa acerca do papel da Virgem Maria na história da salvação. O Pe. Tito insistiu muito que nós, como Maria, somos chamados a ser “theotokos”, portadores de Deus, que levam o Senhor aos ambientes mais necessitados d’Ele. Esta é uma doutrina que se liga muito bem com a insistência missionária do Papa Francisco, que, constantemente, nos recorda a importância de sair de nós mesmos para ir para as periferias geográficas e existenciais.

O Pe. Xiberta soube combinar de forma harmoniosa uma teologia muito elevada, de carácter especulativo, com a terna devoção a Maria. Os que o conheceram de perto recordam como ele contava os dias que faltavam para a celebração da festividade do Carmo. Gostava de repetir a antífona mariana tirada do livro de Judite (cf. Jdt 15,9), “Tu és a glória de Jerusalém, tu és a alegria de Israel, tu és o orgulho da nossa raça”.

Somente um par de exemplos para ilustrar como estes nossos irmãos viveram com profundidade, seriedade doutrinal e piedade a devoção a Maria em pleno século XX.

O Beato Tito celebrou pela última vez a Festa de Nossa Senhora do Carmo no campo de concentração de Dachau em 1942. Apesar da debilidade e da doença, não deixou de felicitar com um sentido aperto de mão os outros carmelitas que se encontravam ali: o holandês, Fr. Rafael, que o acompanhou até ao fim, e vários polacos, entre os quais se encontrava o Beato Hilário Januszewski. Foi uma celebração insólita, mas, certamente, vivida, de forma muito íntima e comovente, naquelas terríveis circunstâncias.

No mesmo dia, vinte e cinco anos mais tarde, morria o Pe. Xiberta em Tarrasa (Espanha). Os últimos anos da sua vida passou-os em total dependência devido a um derrame cerebral. Com muita dificuldade articulava qualquer palavra. Talvez estivesse a tornar real o que ele tinha referido em certa ocasião acerca do seu trabalho como teólogo: “Nós, pobres professores de teologia, temos de raciocinar acerca de altíssimos mistérios, diante dos quais o mais conveniente seria ficar em silenciosa contemplação…”.

Que Maria, a Mãe e formosura do Carmelo, a Estrela do mar, nos guie no nosso caminhar, para que saibamos responder com criatividade e alegria aos desafios que nos são colocados no nosso mundo, às vezes tão complexo.

A todos os que de alguma forma fazem parte da Família Carmelita envio-vos uma afectuosa saudação. E… muitas felicidades!

 Fernando Millán Romeral, O. Carm.

Prior Geral

 

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